Oposição ao aterro de Covelas abanca sábado no centro da Trofa
Manifestação está a ser preparada com o “cuidado” de respeitar as regras da DGS, explica elemento da organização, que critica a opacidade deste processo, que só agora chegou ao conhecimento da população.
A freguesia de Covelas mede este sábado o pulso à oposição ao aterro sanitário que a Resinorte está a tentar licenciar naquela localidade do concelho da Trofa. A partir das 14h30, os covelenses são chamados a manifestarem-se no Parque Senhora das Dores, na cidade, numa iniciativa que respeitará regras impostas pela Direcção-Geral de Saúde, assegurou um elemento da organização.
Hugo Devesas é um dos rostos que vem dinamizando a oposição a um aterro que vem sendo preparado já há algum tempo, em termos de investimento, por parte da Resinorte, mas que só este mês passou a ser do conhecimento da população. “Acordar, ligar o computador e descobrir que vamos ter um aterro não é, claramente, uma boa notícia”, descreve este trofense.
Mas não é só a alegada “falta de transparência” neste processo que os impele a chamar a população para a rua. Em Covelas, 30 anos de problemas ambientais levam vários interlocutores com quem o PÚBLICO conversou, nesta quinta-feira, a considerar que a pequena freguesia rural merecia, agora, “algum descanso”.
Encostada à A3, uma auto-estrada, Covelas é a terra da Savinor, cujo impacto ambiental melhorou bastante assumem todos. Mas ninguém esquece esta empresa que durante décadas era conhecida não pelo que lá se fazia mas pelo mal que isso cheirava. E nisto de maus cheiros, outro habitante, Mário Oliveira, eleito pelo Movimento Independente de Covelas para a assembleia de freguesia, lembra o outro aterro encostado à localidade, em Santa Cristina do Couto, Santo Tirso, que foi selado em 2017, e ao lado do qual está prevista a instalação de uma nova infra-estrutura.
“Na freguesia ainda temos um gasoduto a passar no nosso território, e linhas de alta tensão. Não chega, já? - questiona este eleito, numa posição partilhada por um dos representantes do PS na assembleia. “Já temos um cardápio grande de problemas ambientais”, insiste o socialista José Santos, admitindo que mesmo que viesse agora a ser esclarecida sobre o projecto da Resinorte, dificilmente a população seria convencida a aceitar esta infra-estrutura, precisamente pelo historial da localidade. “A empresa pode apresentar-nos um cenário perfeito, com equipamentos de última geração, mas não sabemos como vai funcionar no futuro”, afirma, atento aos problemas que estão, em Valongo, a gerar contestação ao aterro que uma outra empresa explora em Sobrado.
Resinorte espera iniciar obra em breve
A Resinorte, uma empresa do universo EFG, que explora, em vários sistemas espalhados pelo país, mais de duas dezenas de aterros, tem feito, nos últimos dias um esforço por se dissociar dos problemas da Recivalongo. Conforme o PÚBLICO noticiou na semana passada, com base em informações da Comissão de Coordenação da Região Norte, o novo aterro da Trofa, que está previsto no contrato de concessão da Resinorte, vai receber refugo de resíduos que passam por tratamento mecânico-biológico que não têm qualidade para serem reciclados.
A empresa que gere resíduos urbanos de 35 municípios da região Norte adianta também que o aterro em Covelas prevê o aproveitamento do biogás e controlo de odores e não será uma extensão do que foi encerrado em Santo Tirso, que será selado em definitivo a curto prazo. Em comunicado, adianta ainda que o plano estratégico foi aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente, que o plano de investimentos também foi aceite pelo regulador do sector dos resíduos e que, por isso, está só à espera da aprovação do projecto pelo Ministério do Ambiente para avançar com os trabalhos.
Junta está contra o aterro
No terreno, os contestatários esperam conseguir ainda evitar este desfecho. Politicamente, contam, a nível local, com a oposição da junta e da assembleia de freguesia. O presidente da Junta, eleito pela mesma coligação PSD/CDS que lidera a Câmara da Trofa, emitiu na semana passada um comunicado em que assume estar contra o projecto defendido pelo presidente do município, Sérgio Humberto. Projecto que tem, na câmara, a oposição do PS, e que não agrada, de todo, ao vizinho concelho de Santo Tirso.
O líder da freguesia, Feliciano Castro garante que só teve conhecimento dos detalhes do projecto a 21 de Maio, numa reunião com elementos do município e da Resinorte em que os eleitos das restantes forças políticas da localidade também participaram. Mas, ao contrário destes, ainda não dá como certa a sua participação na manifestação deste sábado. “Talvez participemos, para dar o nosso testemunho, admitiu ao PÚBLICO.
“Isto é uma freguesia grande, mas com pouca gente. Estamos encostados aqui a um canto e sentimos que as coisas são feitas pela calada”, queixa-se Hugo Devesas. O grupo informal que está a dinamizar esta contestação não pretende baixar os braços até conseguir os seus intentos. Para já este sábado lutam contra a contrariedade da actual situação de calamidade pública, e das regras de distanciamento a que a população está obrigada. Mas nem isso os demove. No local do protesto, um grupo de voluntários, de máscara na face, vai assegurar que todos cumprem as normas em vigor, assegurou este trofense.