Covid-19: a crise global está a atingir mais o emprego das mulheres jovens

População jovem sofre um “triplo choque”, com especial impacto nas mulheres. OIT estima que mais de um em cada seis jovens no mundo ficou sem emprego.

Foto
O desemprego jovem teve um crescimento rápido a partir de Fevereiro LUSA/MAX CAVALLARI

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que mais do que um em cada seis jovens em todo o mundo deixou de trabalhar desde o início da pandemia da covid-19 e alerta para o impacto desigual da crise, ao atingir, entre os jovens, mais as mulheres do que os homens.

Num relatório de monitorização dos impactos do surto no mercado laboral divulgado nesta quarta-feira, a agência das Nações Unidas indica que a proporção de desemprego jovem é maior nos países de rendimento elevado, embora sublinhe que “os jovens trabalhadores de países de todos os níveis de rendimento foram fortemente afectados” pelos efeitos económicos.

É a terceira avaliação que a OIT faz ao impacto da covid-19 e, para descrever o resultado no emprego da população da faixa etária entre os 15 e os 24 anos, usa dois adjectivos: “devastador” e “desproporcionado”.

Há um “triplo choque”. A crise, diz a organização sediada em Genebra, “não só está a destruir o seu emprego, como a perturbar os estudos e a formação e a colocar grandes obstáculos a quem procura entrar no mercado de trabalho ou mudar de emprego”. Os jovens são os mais afectados e o aumento “considerável e rápido do desemprego jovem, verificado desde Fevereiro, está a atingir mais as mulheres do que os homens”.

Em Portugal, tal como acontece em termos globais, o desemprego das pessoas entre os 15 e os 24 anos é superior à média (em Fevereiro, ainda antes da expansão da situação pandémica, a taxa estava nos 18,9%, comparando com uma taxa global de 6,4%, havendo 68,8 mil desempregados daquelas idades).

A nível global, e antes de as economias entrarem em rota descendente, a OIT já apontava para uma taxa mundial de 13,6% em 2019. “Cerca de 267 milhões de jovens [um quinto dos jovens do mundo] não estão nem a trabalhar, nem a estudar ou a frequentar qualquer tipo de formação (NEET). No grupo dos 15-24 anos que estavam a trabalhar muito provavelmente estavam em modalidades de trabalho que os deixavam vulneráveis, seja porque estavam em profissões mal remuneradas, no sector informal, ou no caso de serem jovens migrantes”, conclui a OIT no mesmo estudo.

Evitar impacto durante décadas

Se antes do aparecimento da crise da covid-19, a taxa de desemprego entre as mulheres jovens era de 13,1%, inferior à dos homens jovens, nos 14%, há outros indicadores que evidenciam a desigualdade de género no acesso e manutenção no mercado laboral.

O indicador que mede o subemprego ligado à duração do emprego e desemprego mostra que a taxa é de 20,3% entre mulheres jovens, comparando com 19,9% entre homens jovens. Na taxa NEET, a diferença é mais notória, de 31,1% para 13,9%, chegando a taxa entre as mulheres jovens a aproximar-se dos 40% nos países de rendimento médio inferior.

Neste cenário, e porque a crise económica “está a atingir os jovens — especialmente as mulheres — de forma mais dura e rápida do que qualquer outro grupo”, o director-geral da OIT, o britânico Guy Ryder, voltou a apelar a que sejam tomadas “medidas fortes e depressa” para que o “legado do vírus” não permaneça durante décadas.

Em concreto, a OIT recomenda a adopção de “programas de garantia de emprego/formação nos países desenvolvidos e programas e garantias de emprego intensivo nas economias de baixo e médio rendimento”.

Fazendo uma projecção do número de empregos que serão perdidos durante o segundo trimestre, a OIT antecipa que haja menos 305 milhões postos de trabalho nos meses de Abril a Junho por comparação com o período pré-pandémico, no quarto trimestre de 2019 (de Outubro a Dezembro).

Sugerir correcção
Comentar