Bruno de Carvalho absolvido no caso do ataque a Alcochete

Juíza também não deu como provados os crimes imputados ao líder da Juve Leo e ao ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting. O caso não fica, porém, com culpados por apurar: entre os 44 arguidos, houve nove condenações a cinco anos de prisão.

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Bruno de Carvalho a falar aos media, antes da entrada em tribunal Rui Gaudêncio
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Grande parte do público acabou por ficar fora da sala de audiências Rui Gaudêncio
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"Mustafá", líder da claque Juventude Leonina, antes da sessão Rui Gaudêncio
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Bruno de Carvalho já depois da sessão no tribunal Rui Gaudêncio
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Apoiantes do ex-presidente do Sporting Rui Gaudêncio
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Alguns arguidos à entrada do tribunal Rui Gaudêncio

Está confirmado: Bruno de Carvalho foi absolvido de todos os crimes que lhe eram imputados no processo do ataque à Academia de Alcochete. Nesta quinta-feira, na leitura do acórdão, no Tribunal de Monsanto, a juíza Sílvia Pires avançou que, relativamente ao ex-presidente do Sporting e aos arguidos Bruno Jacinto (ex-oficial de ligação aos adeptos) e Nuno Mendes (líder da claque Juventude Leonina), “os factos foram dados como não provados”. E especificou sobre o ex-dirigente: “Não ficou provado que as críticas à equipa tivessem o objectivo de incitar à violência.”

Para estes três arguidos, o desfecho do caso da Academia de Alcochete — onde, a 15 de Maio de 2018, jogadores e equipa técnica do Sporting foram agredidos – não é uma surpresa. Tanto o colectivo de juízes, na alteração do texto da acusação, como o Ministério Público (MP), nas alegações finais, tinham ido ao encontro da ideia de que não havia prova para condenar os três arguidos acusados da autoria moral do crime.

Nove arguidos em prisão efectiva

O caso não fica, porém, com culpados por apurar. Entre os 44 arguidos, houve nove condenações a cinco anos de prisão, por já existirem antecedentes criminais: foram os casos de Domingos Monteiro, Bruno Monteiro, Fernando Barata, Elton Camará, Nuno Torres, Getúlio Fernandes, Leandro Almeida, Tiago Neves e Pavlo Antonchuk. A três outros arguidos (Samuel Teixeira, Tiago Rodrigues e Tomás Fernandes) foi decretada a pena de multa, enquanto os restantes 29 receberam penas suspensas – ainda que alguns com penas acessórias, como trabalho comunitário e proibição de irem aos estádios.

Um deles foi Rúben Marques, autor confesso de agressões mais graves a jogadores e técnicos, nomeadamente Bas Dost. O jovem foi condenado a pena suspensa e a 200 horas de trabalho comunitário, tendo sido valorizado pelo colectivo de juízes o facto de não ter antecedentes criminais e ter demonstrado boa postura em tribunal, assumindo os crimes e reconhecendo a intenção dos invasores na visita a Alcochete.

Já na fase final da sessão, a juíza Sílvia Pires, que deixou fora da sentença o enquadramento deste caso em terrorismo, passou uma extensa mensagem ética aos arguidos, que a ouviram em silêncio e em pé. “Vou usar um lema do Sporting, que já acabei por decorar: vocês não tiveram nem esforço, nem dedicação, nem devoção, nem glória. Foi tudo ao lado. Quem ama não bate. Não vale tudo na vida. Espero que aprendam a respeitar os outros”, disparou, relembrando que o tribunal está a dar uma nova oportunidade a muitos dos arguidos.

“Fui absolvido porque estou inocente” 

À saída do tribunal, Bruno de Carvalho satisfeito, mas reivindicativo reforçou a ideia de que sempre esteve tranquilo, ao longo das 37 sessões do julgamento. “Isto que me foi feito foi um crime. Se tiverem a coragem de dizer que fui absolvido porque estou inocente, posso começar a sair do meu confinamento de dois anos. Isto foi a assunção de algo que eu já sabia há dois anos.

O ex-presidente do Sporting, que contou com cerca de uma dezena de apoiantes no exterior do edifício – com tarjas e críticos para com a comunicação social , lembrou que sempre deu “tudo o que tinha” pelo clube. “Para mim, isto não muda nada. Ninguém merecia passar por aquilo que eu passei, nenhum cidadão.”

Sem querer alongar-se muito sobre os trâmites do processo, destacou o facto de o colectivo de juízes não ter tido “a tentação de dar uma pena exemplar”. “Esta procuradora teve uma intervenção que eu, enquanto cidadão, só tenho de reconhecer. O que ela fez foi repor a verdade e ficou demonstrado que houve dolo na acusação.”

Satisfeito com o desfecho do processo está também Nuno Mendes, o último arguido a chegar a Monsanto na manhã desta quinta-feira. “A investigação foi péssima. É um alívio. Foram nove meses...”, recordou, referindo-se ao período de prisão preventiva. “Vou tratar com o meu advogado de pedir uma indemnização, mas não é algo com que eu esteja preocupado nesta altura”, acrescentou.

Momento de alguma tensão à chegada

​Nesta quinta-feira, a chegada dos arguidos à sessão de leitura do acórdão mostrou, desde logo, que este era um dia diferente das demais sessões de julgamento. Visivelmente menos extrovertidos, os arguidos surgiram, na grande maioria dos casos, bastante circunspectos, atitude que mantiveram já dentro do tribunal. 

Ainda antes do início da sessão, houve tensão com a chegada de Bruno de Carvalho, que, apesar de inicialmente não querer falar à imprensa, acabou por apontar os jornalistas, em geral, como incompetentes na cobertura deste caso. O ex-presidente do Sporting, visivelmente irritado, envolveu-se, inclusivamente, numa discussão sobre princípios jornalísticos com uma repórter da RTP. 

Minutos depois, voltou a haver tensão, desta vez com a entrada no tribunal. Devido às restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19, boa parte do público, em grande número à porta do edifício, acabou por ficar de fora da sessão, cabendo apenas na sala de audiências dez familiares de arguidos sempre silenciosos e sem manifestações durante a sessão, tal como foi pedido pela juíza a todos os presentes.

Apesar dos prováveis recursos por parte de alguns arguidos, os cerca de dois anos deste caso terminam com relativa satisfação para a grande maioria dos 44 acusados pelo Ministério Público. Este aspecto tem particular significado nos casos de Bruno de Carvalho, Bruno Jacinto e Nuno Mendes, absolvidos na totalidade, e, sobretudo, de Rúben Marques, principal autor das agressões, que sai deste caso com uma pena suspensa.

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