Orçamento Suplementar: a última missão de Mário Centeno no Governo
Estou em crer que se fecha também, com essa última missão — apresentação do rectificativo no Parlamento —, o ciclo político de Mário Centeno no executivo e do “Ronaldo das Finanças” no Eurogrupo.
Há um ciclo político que se encerra com a apresentação, em Junho, do Orçamento Suplementar para 2020. É o ciclo iniciado por Mário Centeno em 2015, rumo ao excedente orçamental. Termina aqui e dificilmente a história de repetirá nesta legislatura. António Costa já o deu a entender. “As contas do ministro das Finanças apontam para que antes de 2022 não retomemos onde estávamos em 2019”, disse o chefe de Governo no dia em que retomou o hábito de tomar café na pastelaria Califa, em Benfica (Lisboa), a 18 de Maio.
Além disso, estou em crer que se fecha também, com essa última missão — apresentação do rectificativo no Parlamento —, o ciclo político de Mário Centeno no executivo e do “Ronaldo das Finanças” no Eurogrupo. No domingo, em entrevista a um jornal alemão, o ministro assumiu que “muito em breve” — a 11 de Junho — irá informar os seus colegas se virá a ser candidato, ou não, a um segundo mandato no Eurogrupo (as votações serão “na reunião de início de Julho”).
Este fim de era não significa que Mário Centeno esteja a ser despejado do Governo ou do cargo europeu. Muito pelo contrário: parece ser um encontro de vontades — e há vários meses que se falava e escrevia sobre ele. A questão interessante, neste momento, é saber que marca vai o ministro deixar no seu último acto.
A partir desta segunda-feira, os partidos com assento parlamentar são recebidos pelo primeiro-ministro, conforme António Costa tornou público no último debate quinzenal, para “discutir o Programa de Estabilização Económica e Social e o reflexo que deva ter também no orçamento suplementar”.
Do lado do Governo, o que sabemos sobre este programa é o que foi dito na reunião do PS, na última quinta-feira. Contempla um Simplex SOS para auxiliar os “processos de investimento e de resposta às necessidades desta crise”; prevê a manutenção de mecanismos de apoio ao emprego e a reinvenção de algumas dessas medidas (prolongamento do layoff noutros moldes?); aposta em pequenas obras e projectos, como a eliminação do amianto das escolas, a construção das faixas de interrupção de combustível para prevenir incêndios florestais ou programas de acessibilidades aos edifícios públicos para as pessoas com deficiência; e ainda inclui o reforço do SNS e da escola pública. Em resumo, é isto que o Governo vai oferecer a partir de hoje aos partidos, em troca do apoio a um documento que pelo menos o PSD já disse estar disponível para apoiar.
A mais problemática destas medidas será o alargamento do layoff — que o Presidente da República tem defendido, mas que a esquerda rejeita. Muito em breve saberemos se este orçamento suplementar também vai encerrar outro ciclo político: o do Governo apoiado pela esquerda parlamentar.