Ministra sustenta que erros nos testes à covid-19 são “muitíssimo limitados”

Caso de falsos positivos a jogadores de futebol não justifica “desconfiança generalizada” quanto aos resultados dos testes à covid-19, segundo presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública.

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Manuel Roberto

A ministra da Saúde, Marta Temido, reconheceu que os casos de falsos positivos nos testes de diagnóstico e rastreio do novo coronavírus “têm obviamente impacto” na confiança com que se olha para os resultados, mas sustentou que “são casos muitíssimo limitados e têm sido todos localizados e identificados os respectivos processos de melhoria”.

Na habitual conferência de imprensa da Direcção-Geral de Saúde, a titular da pasta da Saúde foi confrontada com os resultados dos testes conduzidos pelo laboratório escolhido pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), a Unilabs. Segundo o semanário Expresso, o laboratório errou em nove dos 11 testes realizados a jogadores do V. Guimarães e do Famalicão, apresentando como positivos casos que um profissional do Hospital de São João, no Porto, viria a concluir que eram negativos, depois de uma contra-análise feita no âmbito de um estudo de identificação de anticorpos à covid-19.

Lembrando que compete ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) a validação das metodologias adoptadas pelos diferentes laboratórios que participam da operação de diagnóstico e rastreio ao novo coronavírus – numa rede composta por 80 laboratórios, dos quais apenas 34 são públicos , Marta Temido acrescentou que aquele organismo “vai reforçar a sua vigilância e acompanhamento de todas as entidades”, tendo, inclusive, reunido já com a Associação Nacional de Laboratórios “para que todas as entidades adiram ao processo de melhoria da qualidade e de boas práticas laboratoriais”.

Ao PÚBLICO, Ricardo Mexia, médico de saúde pública do departamento de epidemiologia do Insa, reconheceu que a técnica utilizada na recolha das amostras biológicas, bem como o seu transporte, pode conduzir a resultados errados. “É possível que haja um falso positivo se houver uma contaminação das amostras”, admitiu. Do mesmo modo, uma pessoa infectada pode ser objecto de um teste negativo “se, por exemplo, a zaragatoa for usada de forma muito verticalizada, o que não permite que ela atinja a mucosa da nasofaringe”.

Mas, acrescenta o também presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, “os laboratórios que estão no terreno hão-de estar certificados”, pelo que “não há razões para uma desconfiança generalizada quanto à fidedignidade dos resultados dos testes”.

Em declarações ao Expresso, a Unilabs, uma multinacional que tem vários centros espalhados pelo país, garantiu que os testes utilizados cumprem todos os requisitos do Ministério da Saúde e comportam um risco de haver falsos positivos “em 3% dos casos”.

Já este sábado, em comunicado, o Conselho de Administração do Hospital de São João (HSJ) demarcou-se da existência de resultados errados em testes à covid-19 feitos pela Unilabs a futebolistas. “O Centro Hospitalar Universitário São João não tem qualquer protocolo com clubes portugueses de futebol para colheita de análises de pesquisa de covid-19, e não tem conhecimento de resultados de testes de atletas de clubes”, lê-se no documento conjunto do Hospital de S. João e da Unilabs Portugal.

No mesmo comunicado, as duas instituições admitem a existência de vários factores que podem afectar os resultados, como datas da colheita, procedimentos aplicados e metodologias, equipamentos e reagentes usados no laboratório.

A Liga, por seu turno, assegurou que “a Unilabs foi o laboratório que melhores condições ofereceu para a quantidade e especificidade dos testes pedidos pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), sendo reconhecidamente um laboratório com credibilidade”. E acrescenta que o protocolo celebrado com aquela multinacional “não pressupõe exclusividade e os clubes são livres de realizar os testes com o laboratório que entenderem mais adequado, desde que respeitem os critérios e exigências definidas pelas autoridades de saúde”.

Dito de outro modo, “não há obrigatoriedade de realização dos testes na Unilabs, embora a grande generalidade dos clubes tenha optado por o fazer”.

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