Be Angel lança a primeira máscara transparente portuguesa certificada
A empresa de Famalicão criou uma máscara transparente certificada, que facilita a comunicação com pessoas surdas ou com problemas auditivos. Deverá chegar ao mercado “em três semanas”. “Um passo importante para uma sociedade mais inclusiva”, mas que não deve desaparecer com a pandemia.
Se a utilização da máscara trouxe protecção contra a covid-19, trouxe também dificuldades acrescidas para quem tem problemas auditivos. Um pano a cobrir parte da cara, acrescido de distância social, dificulta a comunicação e o entendimento entre pessoas — sobretudo para os surdos, pessoas com dificuldades auditivas ou intérpretes de língua gestual.
Ashley Lawrence, uma estudante norte-americana, já tinha chamado a atenção para este problema. A 31 de Março lançou uma campanha de crowdfunding onde apresentava uma solução: uma máscara com tecido transparente na zona da boca, uma espécie de janela, através da qual é possível ver os lábios e, por conseguinte, as expressões faciais. Agora, a ideia chegou a Portugal: a marca Be Angel, de Famalicão, está prestes a lançar a primeira máscara transparente certificada.
Foi um “convite informal” da equipa do Citeve (Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário) à Be Angel que desencadeou a criação da máscara “Especial”, como foi baptizada. “Apesar de ter sido desenvolvida para um grupo muito específico” — como as pessoas com dificuldades auditivas e todos aqueles que com eles lidam —, a máscara “tornou-se agradavelmente confortável ao uso, com a vantagem de melhor percebermos as expressões faciais, tornando-a muito apetecível ao público em geral”, refere Nuno Oliveira, CEO da Elastoni-Confecções, a empresa detentora da Be Angel.
Era “uma necessidade específica no mercado” e todo o processo de criação da máscara aconteceu de uma forma “muito rápida”. Depois de “alguns modelos e melhoramentos”, a Be Angel chegou ao produto final, agora certificada pelo Citeve, que respeita as recomendações da Direcção-Geral de Saúde. E Nuno Oliveira acredita que “em três semanas” estas máscaras possam começar a ser comercializadas.
Entretanto, refere, a empresa está “em sintonia com a equipa do Citeve na ultimação de questões técnicas e burocráticas, como a elaboração das regras específicas para este tipo de máscaras, no sentido de garantir um folheto informativo adequado”. A produção das máscaras “está a iniciar” e estão a ser criadas parcerias, para ser possível uma “resposta maior” às necessidades do público.
O lançamento da máscara transparente é, para Armando Baltazar, da Associação de Surdos do Porto, “uma mais-valia na situação pandémica que atravessamos”. A existência da mesma “é importante para todas as pessoas surdas ou com problemas auditivos, pois permite ver o movimento dos lábios e a face, ajudando a suprir a falta de comunicação”, reitera.
Ainda não há preço definido para a máscara: “Estamos neste momento a perceber o verdadeiro preço produtivo e só a partir daí é que teremos o valor definitivo”, explica Nuno Oliveira. “Tem um longo tempo de processo, assim como técnicas de confecção que conjugam plástico e têxtil, dificultando a sua produção, tornando-a mais cara”, adianta. Em comparação com as “máscaras normais”. terá um preço “alto”. “No entanto, terá um tempo de vida muito longo, o que a tornará bastante barata e acessível, mesmo quando comparada com as mais baratas do mercado”, garante.
Armando Baltazar acredita que este “é um passo importante para uma sociedade mais inclusiva, onde todos se sintam iguais, independentemente das suas capacidades ou limitações de ordem física, sensorial ou social”. Mas deixa um desejo: “Que de futuro, com ou sem covid-19, os profissionais, em determinadas situações em que seja necessário utilizar máscara, utilizem estas máscaras transparentes — independentemente de os beneficiários serem pessoas surdas ou ouvintes.” Ou, por outras palavras, “que venham para ficar.”