Tatuadores reivindicam regresso ao trabalho
Duas dezenas de profissionais do sector uniram-se em vigília junto à câmara do Porto. À excepção da Madeira, de norte a sul do país, os estúdios de tatuagem continuam por abrir e sem previsão de data para o fazerem.
“Temos família. Queremos trabalhar. Somos tatuadores”, via-se escrito num dos cartazes que cerca de duas dezenas de profissionais deste sector levaram para a frente da câmara do Porto, nesta sexta-feira de manhã, em vigília organizada para que as portas dos estúdios de tatuagens voltem à abrir, à semelhança do que aconteceu com outros espaços comerciais que nesta fase de desconfinamento já voltaram à actividade. Com as agulhas no plástico e com as máquinas paradas há dois meses e meio, um pouco por todo o país, são muitos os tatuadores que, por uma questão de sobrevivência financeira, precisam de voltar a gravar a tinta na pele dos clientes. Em casos extremos há quem já tenha encerrado o estabelecimento. Entretanto, na Madeira, o negócio já reabriu.
Lara Wings, Kadaf e Mister Ruca, presentes na vigília que terminou mais cedo pela polícia por inexistência de autorização, não fazem parte do grupo dos que tiveram de encerrar o negócio definitivamente, mas dizem conhecer quem já o fez. Na linha da frente para que o sector volte à actividade reivindicam esse “direito”, justificando fazerem parte dos profissionais mais preparados para o fazer em tempos de pandemia.
“Toda a vida trabalhámos com este tipo de equipamento”, diz Lara Wings, referindo-se aos cuidados de higiene a que os estúdios de tatuagem estão obrigados a ter. “E neste momento em que é necessário usá-lo [em todos os sectores] não nos deixam usar?”, questiona, sublinhando a “ambiguidade” de critérios.
O material usado para tatuar é praticamente todo “descartável” e o “pouco” que não é, é “esterilizado”, diz Mister Ruca, destacando o facto de esta ser “das classes mais bem formadas a nível de contaminação cruzada”. Há 24 anos que é tatuador e desde essa altura que diz lidar com vários vírus. Sabendo dos cuidados que é obrigado a ter entende, sem desvalorizar as medidas necessárias a serem adoptadas, que este é “apenas mais um vírus” com o qual a sua classe tem agora que lidar. Sublinha ainda o facto de não ser habitual trabalharem com grupos de risco: “Não há quase nenhum cliente com mais de 65 anos”. Dos clientes que costuma receber são “muitos” os que continuam a ligar “todos os dias” para marcar tatuagem.
Não pode aceder aos pedidos, mas as contas para pagar afirma continuarem a chegar. “Há quem já não tenha o que comer”, atira. Kadaf, também com estúdio no Porto, diz existirem muitos colegas que estão a vender material e a “despachar os próprios bens”. O rendimento não está a entrar nos bolsos dos tatuadores e por isso consideram aumentar o risco de alguns começarem a tatuar em casa. Para atenuar o prejuízo que representa uma paragem prolongada como esta tentaram pedir o subsídio de apoio à Segurança Social. Até hoje nenhum deles foi contemplado.
Urgente consideram ser voltar a trabalhar. Na Madeira já saiu ordem de marcha para o regresso à actividade e já há estúdios de portas abertas. Mister Ruca considera “inconstitucional” não se ter optado por fazer o mesmo no continente. Entretanto, anseia pelo regresso ao trabalho: “Nem que seja um cliente por dia para podermos trabalhar. Porque as contas não estão em layoff”. Nos próximos dias, assim que tiverem resposta ao pedido de autorização para nova vigília que iria seguir nesta sexta-feira para a autarquia, os tatuadores voltarão a sair à rua.