E Depois de Amanhã?: conversas ao almoço sobre a crise do presente e os dilemas do futuro

Série de quatro episódios com assinatura do Canal180 e da S.P.O.T. desafia dois profissionais de diferentes áreas a partilharem uma refeição e conversarem sobre os incertos desafios impostos pela paralisação da actividade.

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Dois convidados por episódio vão discutir sobre como conseguiremos "recomeçar praticamente do zero" DR

Primeiro, monta-se o espaço. Enquanto o chef prepara a refeição, os arranjos florais são cuidadosamente espalhados pelo salão do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto. Na mesa, os talheres já estão à espera. Colocam-se seis cadeiras, mas só três lugares vão estar ocupados. O tema de conversa neste almoço com distâncias de segurança e “novas regras de etiqueta”? De que forma conseguiremos “recomeçar praticamente do zero”. E Depois de Amanhã?, série de quatro episódios que resulta de uma parceria entre o Canal180 e a produtora de conteúdos S.P.O.T., que teve a sua estreia esta sexta-feira, pretende reflectir sobre “como os profissionais da cultura, da restauração, do turismo e do desporto estão a reagir” à paragem forçada a que foram sujeitos.

“O mês de Março foi um choque muito grande. No espaço de uma semana, tudo o que tínhamos na agenda foi adiado ou cancelado”, contextualiza ao PÚBLICO Ana Neto, da S.P.O.T., de quem esta ideia inicialmente partiu. E Depois de Amanhã? surge num momento em que, num cenário de desconfinamento que avança entre incertezas, começa a aproximar-se para muitos, nos mais diversos sectores, a “hora do regresso”. Com as mais diversas condicionantes à espreita, importa pensar “acerca dos moldes” em que “vamos de facto conseguir desenhar uma retoma”.

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Série deseja colocar em troca de ideias duas pessoas a "navegar à vista, e, com sorte, a vislumbrar terra à distância" DR

As mesas das conversas E Depois de Amanhã?, montadas em “espaços que tiveram de fechar portas”, vão reunir, “simbolicamente”, agentes de turismo, produtores de eventos, músicos, técnicos de espectáculo, personal trainers, jornalistas “e muito mais”. Dois a dois, assinala a empresa, trocarão inquietações a respeito de um fenómeno “que transtornou as nossas vidas”. Conversarão sobre os efeitos da pandemia nas suas rotinas, mas também aproveitarão este “breve momento de convívio” com reservas para tentar chegar a “um ponto comum entre dois profissionais, mas acima de tudo duas pessoas, que se encontram no desconhecido, a navegar à vista e, com sorte, a vislumbrar terra à distância”.

O simbolismo dos planos em que se vêem mais cadeiras do que convidados é muito importante para Ana Neto. Mostra “a vontade de sermos mais”, em contraste com “a impossibilidade de concretizarmos esse desejo”. “Queremos todos estar juntos e não podemos. Queremos arregaçar as mangas e fazer o nosso trabalho, mas não temos essa possibilidade. Esta distância com que estamos a lidar é muito destrutiva, mas tem de ser respeitada, e é preciso mostrar esse fosso, essa dualidade”, observa.

“Uma das primeiras coisas em que pensei quando a S.P.O.T. nos abordou é que a cultura é um sector que vive do palco. É do encontro social que ela bebe e vive”, partilha João Vasconcelos, do Canal180. Fechados, perdemos o cruzamento de pessoas e o debate de ideias, “essa coisa que nos une imaterialmente”. “É vital mantermos vivo esse contacto”, avança o director executivo. “A discussão de pensamentos não pode parar, e há coisas que não nascem no Zoom.”

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No primeiro episódio, a refeição foi confeccionada pelo chef Pedro Braga, do Restaurante Mito DR
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Fora da mesa, de modo a não comprometer o distanciamento, só os fotógrafos e a equipa de vídeo permanecem no salão DR

João Vasconcelos acrescenta ainda que “é muito bonita a imagem da mesa toda bem arranjada num museu”, “mas que a ideia não é tirar o foco” da gravidade de uma situação sem fim à vista, que afunila perspectivas e deixa planos em xeque. “Infelizmente”, aponta, “não estamos a trazer respostas”, uma vez que, por agora, é tudo “pouco claro”, mas “estamos a dar voz a quem pensa de forma independente”. “Se calhar, tentamos dar alguma esperança e acreditar um pouco no futuro”, continua. E Depois de Amanhã?, experiência que nasce à luz de uma nova realidade, ajuda assim a cumprir uma missão “importante”, até porque, com “notícias diárias sobre teorias múltiplas de vacinas”, cria-se “uma certa intoxicação em relação a tudo o que tenha a ver com imaginarmos um horizonte estável”.

O primeiro episódio de E Depois de Amanhã?, que já está disponível no site do Canal180 e é exibido na televisão às 22h, teve a participação da rapper Capicua e da jornalista Inês Nadais, do PÚBLICO, numa conversa com moderação de José Costa Reis, o conservador do Museu Nacional de Soares dos Reis que desempenhou o papel de anfitrião; a refeição foi confeccionada pelo chef Pedro Braga, do Restaurante Mito. Durante a manhã desta sexta-feira, foi gravado o segundo almoço, no Coliseu do Porto, onde a presidente do equipamento, Mónica Guerreiro, acolheu João Carvalho, director da Ritmos, produtora que organiza o festival Vodafone Paredes de Coura, e António Guimarães, ou “Becas”, conhecido proprietário do Passos Manuel.

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