Patton Oswalt de volta ao mundo dos vivos em I Love Everything

O novo especial do cómico de stand-up norte-americano foi lançado esta terça-feira na Netflix, com um bónus, um especial de outro cómico, Bob Rubin, que o influenciou.

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Patton Oswalt, o cómico de stand-up norte-americano, em I Love Everything, o seu novo especial na Netflix Netflix

Em 2017, Patton Oswalt pegou no pesar da morte da mulher, a escritora Michelle McNamara, que tinha acontecido apenas 18 meses antes, e transformou-o em Annihilation, a lidar com o luto e a tentar voltar ao mundo dos vivos. Passados dois anos e meio, o cómico de stand-up está de volta com um novo especial. I Love Everything, o seu sétimo em mais de 30 anos de carreira, mostra-o num estado de espírito bem melhor, com uma atitude muito mais positiva.

Com realização de Marcus Raboy, foi gravado no ano passado em Charlotte, Carolina do Norte e lançado esta terça-feira na Netflix, que já tinha sido a casa de Annihilation. Esta pouco mais de uma hora de comédia arranca in medias res, com um excerto de um momento que só é mostrado na íntegra 50 minutos depois. É uma história sobre a cadeia norte-americana de restaurantes tipo diner Denny's, que é, na realidade, sobre a relação com a filha. Antes disso, Oswalt fala de envelhecer e de ter feito 50 anos e como isso não mudou assim tanto a sua vida.

Entre muitos outros tópicos, e com ideias que se vão repetindo, em I Love Everything, fala de caminhadas, alterações em casa, o novo casamento que o ajudou a voltar ao mundo dos vivos, a experiência adolescente como DJ de casamentos, um bocadinho de como é complicado fazer piadas sobre Donald Trump, as suas teorias sobre como Jesus é um compósito de várias pessoas e até explicações racionais para os milagres que lhe são atribuídos.

Há um trecho sobre como ele, um famoso fã de Star Wars, foi convidado para a estreia de Han Solo - Uma História de Star Wars, que tinha uma réplica em tamanho real da Millennium Falcon que se podia visitar, mas não compareceu porque tinha uma exposição na escola da filha, em que esta fez um robô, segundo ele, manhoso, que parecia “um escroto de prata com uma caixa por cima” – uma formulação que é, aliás, Patton Oswalt vintage, dita com um gosto e uma musicalidade tremendas. Quando começa, engana-se a dizer uma palavra e volta atrás, mantendo esse momento no produto final.

Esta é exactamente a mesma pessoa que, há anos, quando a filha nasceu, escreveu um texto no MySpace sobre como isso o impediu de ir à estreia de Crank 2: Alta Voltagem, um filme com Jason Statham que tinha já combinado ir ver com amigos. Oswalt pode estar mais velho e menos autocomiserativo, mas, tirando as caminhadas e os cereais que agora come, que, diz ele num segmento memorável, são “mortalmente sérios”, por oposição aos da infância, continua a mesma pessoa, mesmo que a arte que faz evolua.

A secção dedicada a Trump dá lugar a considerações sobre o momento #MeToo, e como ficou surpreendido com as histórias de homens que se masturbavam em frente a mulheres, forçando-as a assistir, mesmo que pedissem consentimento – perguntando-se sobre se esse consentimento era ou não muito entusiástico. Fica, claro que está, em parte, a falar de Louis C.K., colega que foi ao casamento que Oswalt menciona minutos antes, ainda que nunca refira o seu nome. Oswalt substituiu C.K. na sequela de A Vida Secreta dos Nossos Bichos e, quando, em 2017, foi convidado de Fresh Air, o programa de rádio de Terry Gross, falou negativamente sobre as acusações contra C.K.

Num episódio do podcast Good One, de Jesse David Fox, lançado no mesmo dia do especial, Patton Oswalt disseca a piada dos cereais, mas fala também de algo que tem permeado a sua comédia nos últimos anos e que é um dos conceitos centrais do especial. É a ideia de falar de coisas de que gosta, por oposição a enumerar aquilo que odeia, encontrando nelas o que há de mais absurdo, estranho e até errado. É um óptimo complemento para I Love Everything, mas há ainda outro. A seguir aos créditos, Oswalt dirige-se ao público para apresentar um bónus, de outro cómico, Bob Rubin. Este outro cómico, explica ele, foi uma grande influência, e terá sido por isso que usou a plataforma da Netflix para o mostrar a outro público.

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