Lares de idosos abrem-se aos visitantes esta segunda-feira, mas vai ser “gradual”

Alguns lares de idosos precisarão de mais tempo para reunir as condições de segurança necessárias à abertura das portas aos familiares. Impedidos de ver os familiares desde o dia 6 de Março, alguns familiares terão de esperar mais alguns dias.

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Nalguns lares, os idosos erão de esperar mais alguns dias antes de poderem rever os seus familiares Paulo Pimenta (arquivo)

Desde a promoção das visitas nos jardins, à criação de salas adaptadas perto de uma das entradas ou de circuitos específicos dentro dos lares: as visitas dos familiares aos idosos institucionalizados em lares deverão ser retomadas de modo gradual, à medida que as instituições forem conseguindo criar as condições necessárias para minimizar o risco de contágio pelo novo coronavírus. “Algumas instituições estarão já prontas a receber os familiares nesta segunda-feira, outras podem começar já a agendar mas precisarão de alguns dias antes de abrirem as portas”, adiantou o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, que detém cerca de 700 estruturas residenciais de acolhimento de idosos, antes de explicar que “tudo depende da concepção física” dos edifícios.

“Se for um rés-do-chão com varanda, como temos alguns, será fácil que as visitas decorram no exterior; nalguns lares há várias entradas de rua e também será fácil destinar uma única entrada para as visitas, criando uma sala perto da porta, para evitar que os familiares circulem no miolo do lar, e nalgumas instituições isso já foi feito”, acrescentou o presidente da UMP, ressalvando que, nalgumas zonas, como em Alcáçovas, no Alentejo, “estão a ter alguma dificuldade em encontrar acrílico no mercado para criar as barreiras que garantam o distanciamento físico entre os utentes e os familiares”.

O presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade Nacional (CNIS), Lino Maia, responsável por 846 estruturas residenciais para idosos, fala também de “um ambiente claramente favorável das instituições à retoma das visitas, até porque os idosos estão desde o dia 6 de Março sem poder ver os seus familiares”, mas alega não conseguir quantificar quantos estarão em condições de abrir as suas portas ao exterior esta segunda-feira. “É necessário que tenham feito os testes, que não haja doentes com covid-19, que haja equipamentos de protecção individual suficientes e que esteja identificado o local onde as visitas poderão decorrer. Tudo isso está a ser feito, o que não quer dizer que todas as instituições tenham tudo concluído até ao dia 18, o que também não seria de esperar, dado que o objectivo é que esta abertura se faça de modo faseado, sem escancarar as portas”, ressalvou Lino Maia, assegurando, porém, que, em todas, o agendamento prévio das visitas – ditado pela Direcção-Geral de Saúde (DGS) – “está em condições de ser feito”.

Entre os lares privados, muitos dos quais funcionam em moradias adaptadas, a abertura das portas será igualmente faseada. “Dependerá das condições estruturais do imóvel”, lembra João Ferreira de Almeida, presidente da Ali – Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos, que representa 210 dos cerca de 700 lares de idosos privados licenciados do país. “Não vai abrir tudo ao mesmo tempo, porque alguns precisarão de mais tempo para adaptar os seus espaços, por um lado, e porque os prazos de entrega de viseiras, máscaras e acrílicos estão a demorar entre duas a três semanas”, declarou. E, apesar de concordar com a urgência na retoma das visitas, “porque dois meses sem visitas é muito violento e os idosos estão muito ansiosos”, o presidente da Ali lembra que “nalguns casos, estas visitas tardarão a fazer-se por decisão dos próprios familiares”. “Na minha instituição, a filha de um idoso com Alzheimer disse que prefere esperar, porque não sabe qual será a reacção do pai quando a vir sem que ela possa agarrá-lo e beijá-lo”, exemplifica.

Alimentos e objectos pessoais ficam de fora

Entre as regras divulgadas pela DGS inscreve-se a obrigatoriedade de ser mantido o distanciamento físico entre idosos e familiares, cujas visitas têm de ser agendadas previamente e registadas, com referência à data, nome e contacto do visitante, para, como sublinhou este sábado a ministra da Saúde, Marta Temido, “ser simples, às autoridades de saúde pública, fazer alguma identificação posterior, no caso de haver algum caso [de contágio] confirmado”. Por estes dias, de resto, decorre ainda a operação de rastreio do novo coronavírus aos profissionais dos lares de idosos, sendo que nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve, por exemplo, os resultados finais só deverão ser conhecidos no dia 22 de Maio. Já na região abrangida pela Administração Regional de Saúde do Norte, a operação ficou concluída no final da semana passada. 

A DGS informou ainda que os visitantes devem usar máscara, “preferencialmente cirúrgica” e que, nesta primeira fase, os visitantes não poderão levar objectos pessoais, alimentos ou outros produtos para dentro do lar. No caso dos lares privados, João Ferreira de Almeida considera avisado que, além da máscara, os visitantes usem viseira “porque os olhos são um dos pontos de entrada possível do vírus”. Independentemente da adaptação que vier a ser feita em cada lar, a ideia será sempre que quem entra circule o menos possível dentro da instituição, devendo abster-se de usar as mesmas instalações sanitárias dos utentes. Cada idoso poderá receber apenas uma visita por semana, não devendo aquelas exceder os 90 minutos.

Mas o presidente da UMP, Manuel Lemos, considera que hora e meia poderá revelar-se excessivo. “No caso de muitos idosos, é pesado. Os familiares gostam de vir mais vezes aos lares e ficam por 15 a 20 minutos. Por isso, cada instituição terá liberdade para, dentro dos limites fixados, escolher o modelo que considerarem melhor para cada caso”, concluiu.

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