Unidades hoteleiras do Douro começam a reabrir em Maio proporcionando aos visitantes dias de “isolamento” em paisagens de vinhas e rio, actividades ao ar livre e apostando num reforço das medidas de higiene e segurança.
O Douro turístico fechou-se em Março por causa da pandemia, numa altura em que estaria a arrancar a época alta na mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo. Os cancelamentos e adiamentos das reservas sucederam-se e os hotéis fecharam as portas.
Agora, verifica-se uma reabertura gradual das unidades hoteleiras, restaurantes e lojas de vinho e há quem esteja a optar pelo funcionamento em regime de exclusividade. Os planos de retoma da actividade passam pela implementação de rigorosas medidas de higiene e segurança por causa da covid-19.
A Quinta do Vallado reabre nesta sexta-feira a Casa do Rio Wine Hotel, em Vila Nova de Foz Côa, a Quinta da Pacheca, em Lamego, na segunda-feira e a Quinta da Salada, também em Lamego, no dia 01 de Junho. Todas elas já têm reservas feitas por portugueses.
“Não podemos estar parados. Temos de reabrir, mostrar às pessoas que estamos cá e estamos preparados, que tomamos todas as medidas necessárias e que o nosso cliente se pode sentir seguro”, afirmou à agência Lusa Cláudia Ferreira, directora de turismo da Quinta do Vallado.
Também Leonor Osório, da Quinta da Salada, afirmou que “não era comportável” continuar de portas fechadas.
Sandra Dias, directora-geral adjunta na Quinta da Pacheca, disse que as “pessoas estão com muita vontade de sair de casa” após os meses de confinamento e que as reservas estão a chegar para Maio e meses seguintes.
Na Quinta do Vallado, a opção passou por reabrir primeiro a loja de vinhos virada para a rua na propriedade situada perto do Peso da Régua, entre vinhas e junto aos rios Douro e Corgo.
O Wine Hotel Casa do Rio, com seis quartos e duas suítes, em Vila Nova de Foz Côa, abre hoje e depois, a 29 de Maio, os 13 quartos do Wine Hotel do Vallado. “É uma abertura gradual e com muitos cuidados neste momento”, salientou.
Depois de anos de uma forte aposta nos turistas internacionais, o Douro aponta agora para o mercado interno. “Temos de nos readaptar”, salientou Cláudia Ferreira.
A proposta do Vallado passa pelos hotéis pequenos e mais reservados, com quartos virados para o exterior, refeições ao ar livre, piqueniques e reforço de actividades como banhos nas piscinas, ou nos tanques existentes na propriedade do Douro Superior, e ainda caminhadas, passeios de bicicleta ou de barco. “Vamos apostar mais na oferta dos nossos piqueniques e das mochilas, para que as pessoas consigam tirar partido do campo”, salientou Cláudia Ferreira.
A adaptação à nova realidade exigiu a formação dos funcionários e passou também por submeter uma candidatura ao selo do Turismo de Portugal “Safe & Clean”.
Nas unidades hoteleiras, os funcionários usarão máscara, luvas, haverá álcool gel espalhado, a higienização será uma constante, os pequenos-almoços deixam de ser servidos em buffet, as mesas terão de cumprir o distanciamento de dois metros, o check-in e o pagamento será preferencialmente “online” e haverá ainda, em alguns destes espaços, a medição da temperatura dos hóspedes à chegada.
Do outro lado do rio Douro, na Quinta da Pacheca, localizada em Cambres, concelho de Lamego, ultimam-se os preparativos para a reabertura, na segunda-feira, do restaurante, da loja de vinhos, dos 15 quartos do Wine House Hotel e das 10 wine barrels, suítes dentro pipas de vinho de grande dimensão e que são, neste momento, a opção mais procurada.
Aqui tudo é amplo
“As wine barrels têm esta característica física em que não há zonas comuns, não têm de passar em nenhum corredor, tudo é amplo, tudo é inserido no meio da natureza e contacto directo com a vinha”, salientou Sandra Dias.
A reabertura será, segundo a directora-geral adjunta, feita de forma “muito gradual”, para adaptação dos colaboradores e dos hóspedes à “nova realidade” e “sobretudo com muita segurança” e “reforço das recomendações” da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Turismo de Portugal.
A ideia é ir ao encontro da vontade dos visitantes, pelo que as refeições podem ser servidas nos vários espaços ao ar livre existentes na propriedade, desde os decks das wine barrels, esplanadas ou jardins.
As provas de vinhos serão feitas, preferencialmente, no exterior, e no meio dos 75 hectares de vinha é facilmente conseguido o recomendado distanciamento social.
“Queremos que eles saiam sobretudo felizes depois de tanto tempo de confinamento, sem poderem sair de casa, e usufruam do melhor que o Douro tem”, afirmou.
Por aqui a aposta passa também pelas actividades ao ar livre, as caminhadas pelas vinhas, pelos passeios de bicicleta e pelos piqueniques.
Sandra Dias referiu que a altura do encerramento coincidiu com “o início da época alta, em que tudo ia começar a acontecer e tudo fazia crer que ia ser um ano de bater recordes”.
Na Quinta da Salada, também em Lamego, o serviço de turismo rural vai ser prestado em regime de exclusividade para cada família ou grupo. A propriedade tem seis quartos e um deles ficará reservado preventivamente para um caso suspeito de covid-19. “Fizemos um inquérito nas redes sociais e achámos que era o mais indicado porque as pessoas estão com algum receio de se misturarem”, afirmou Leonor Osório à Lusa. Desta forma é possível, reforçou, “garantir mais segurança para todos”, hóspedes, colaboradores e proprietários.
Para além do gel de desinfecção, luvas, máscaras e formação dos funcionários, foram também adquiridos aparelhos de ozono para higienizar os espaços. “Garantem a desinfecção de 99,98% dos germes, covid-19, bolor, fungos, garantem que o quarto fica completamente higienizado”, explicou. A propriedade possui uma capela, um burro, propõe provas de vinhos e a piscina é exclusiva para os hóspedes. “Já temos algumas reservas para Junho, Setembro e Outubro. Já tínhamos duas antes da covid-19 que não desmarcamos e recebemos mais duas”, referiu.
A unidade de turismo abriu em Setembro e fechou em Março. “Quando o Douro ia começar a ter hóspedes e tínhamos várias reservas, começaram a chover os cancelamentos. Comecei a ficar assustada com isto tudo e optei por fechar”, salientou Leonor Osório.
No Douro, muitos hotéis e unidades de enoturismo decidiram colocar os colaboradores em lay-off, estando agora a preparar-se para um regresso, faseado, à actividade que é uma das principais fontes de receita deste território.