Economia com queda de 3,9% no primeiro trimestre do ano

Dados do INE confirmam que economia portuguesa, tal como as restantes economias europeias, sofreu choque nunca antes visto logo no primeiro trimestre. França, Itália e Espanha foram as economias mais penalizadas, Alemanha e Holanda resistiram melhor.

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Daniel Rocha

Bastaram duas semanas de confinamento no final do mês de Março para que o primeiro trimestre deste ano tivesse conquistado um lugar de destaque na lista dos momentos mais negativos da história da economia portuguesa.

A quebra do PIB face ao trimestre anterior foi a maior desde pelo menos 1977, enquanto em termos homólogos, tudo indica, um novo recorde histórico negativo deverá chegar no segundo trimestre.

De acordo com a estimativa rápida divulgada esta sexta-feira pelo INE, o PIB português caiu 3,9% durante os primeiros três meses do ano face ao trimestre imediatamente anterior, colocando a variação face ao mesmo período do ano anterior num valor negativo de 2,4%.

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Os dados da variação do PIB face ao trimestre anterior são os que melhor medem o choque trazido pela pandemia à economia portuguesa, uma vez que a variação homóloga traz também para a análise o ritmo de económico positivo que a economia portuguesa registou nos trimestres antes da pandemia. Os dados apresentados pelo INE são todos corrigidos de sazonalidade.

E aquilo que as estatísticas mostram - nomeadamente as séries longas do PIB trimestral disponibilizadas pelo INE e pelo Banco de Portugal e nas quais é possível aceder a dados que remontam até 1977 – é que o choque sofrido no primeiro trimestre é já o maior de que há registo.

A queda mais acentuada do PIB face ao trimestre imediatamente anterior que era possível encontrar até agora aconteceu no primeiro trimestre de 2009, no auge da crise financeira internacional e logo a seguir à falência do banco Lehman Brothers nos EUA. A contracção do PIB nessa altura foi de 2,5%. Agora o choque sofrido pela economia foi bem mais forte: 3,9%.

No que diz respeito à variação do PIB face ao mesmo período do ano anterior, o pior trimestre desde 1977, com uma variação negativa de 4,5%, ocorreu no quarto trimestre de 2012, num momento em que Portugal estava sob vigilância apertada da troika e com pesadas medidas de austeridade a serem aplicadas, registando variações negativas do PIB durante vários trimestres consecutivos.

Agora, por enquanto, o choque sentido foi de curta duração, mas tudo indica que o pior – e um novo recorde negativo na variação homóloga do PIB trimestral – ainda estará para vir. No segundo trimestre deste ano, ainda a decorrer, a variação homóloga do PIB deverá ter sido consideravelmente mais negativa, uma vez que se acumulam já as perdas sentidas no primeiro trimestre e, em vez dos 15 dias de confinamento registados no primeiro trimestre, a economia passou em Abril e Maio bastante mais tempo limitada pelas restrições impostas aos movimentos. 

A Comissão Europeia, por exemplo, prevê que no segundo trimestre do ano a queda do PIB português seja, face aos três meses imediatamente anteriores de 11,8% e que a variação homóloga negativa atinja os 12,5%. Para a totalidade do ano, a previsão é de uma contracção de 6,8%

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O INE refere, na nota em que publica as estatísticas, que “a contracção da actividade económica reflecte o impacto da pandemia COVID-19 que já se fez sentir significativamente no último mês do trimestre”. E revela, com alguns dados preliminares, que para a variação trimestral negativa do PIB contribuiu tanto a procura externa como a interna.

A variação negativa do PIB de 3,9% tem um contributo de dois pontos percentuais da procura externa líquida (o que significa que as exportações caíram mais do que as importações) e um contributo de 1,9 pontos da procura interna, num cenário de quebra do consumo e do investimento.

França, Itália e Espanha com quedas mais fortes

O choque sofrido pela economia portuguesa foi comum a todos os países europeus, havendo casos em que os efeitos negativos da pandemia foram, durante o primeiro trimestre do ano, consideravelmente mais acentuados.

De acordo com os dados publicados também esta sexta-feira pelo Eurostat, o PIB da zona euro registou nos primeiros três meses do ano uma variação negativa de 3,8% face ao trimestre imediatamente anterior, um valor quase idêntico aos 3,9% registados em Portugal.

No que diz respeito à variação homóloga, a queda na zona euro, de 3,2%, é mais forte do que em Portugal (2,4%). A diferença neste caso está relacionada com o facto de a economia portuguesa ter estado, nos trimestres anteriores à pandemia, a crescer mais rapidamente do que a média europeia.

É possível desde já identificar diferenças consideráveis no desempenho das economias europeias perante o choque trazido pela pandemia. As diferenças têm a ver, não só com a dimensão da crise sanitária e das medidas de confinamento tomadas, mas também do calendário de chegada da crise a cada um dos países. Mas é impossível não notar a divergência que está já a acontecer entre os países da chamada periferia e os do centro.

Sem surpresa, Itália, Espanha e França destacam-se pela negativa, enquanto entre as grandes economias da União Europeia (UE) são a Alemanha e a Holanda que registam um efeito mais moderado no PIB. Portugal fica, para já, a meio caminho entre estes dois grupos de países.

Na variação do PIB face ao trimestre anterior (o melhor indicador para medir o choque sofrido pela economia, retirando o efeito do anterior ritmo de crescimento das economias), a França, com uma contracção de 5,8%, foi a economia com o resultado mais negativo entre todos os países para os quais já foram disponibilizados dados.

A Espanha registou uma queda de 5,2% no seu PIB e a Itália de 4,7%, resultados particularmente negativos para os quais terão contribuído os níveis de contágio do novo coronavírus registados nesses países.

Depois, com resultados substancialmente diferentes, a Alemanha apresenta uma queda do PIB em cadeia de 2,2% e a Holanda de 1,7%.

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