A história de um grupo de miúdos do Bronx que um dia criou uma cultura global
“Here’s a little story that must be told”… eis um dos versos mais famosos de uma canção seminal do hip-hop ainda hoje samplado à exaustão. A história do hip-hop finalmente mapeada de modo profundo e sistemático em Hip-Hop Evolution, série documental disponível na Netflix que vai já na sua quarta temporada, está longe de ser uma “little story” – é toda uma cultura desde os finais dos anos 70 em análise e Shad Kabango, fã e rapper, é quem faz as cerimónias da casa.
Não foi preciso que um vírus colocasse o mundo em casa de quarentena para que Hip-Hop Evolution, a série canadiana que cartografa exaustivamente a história do hip-hop americano desde os seus primórdios (meados dos anos 70), passasse a ser um dos must-see na Netflix. Desde Dezembro de 2016, quando o serviço de streaming adquiriu à HBO Canada os direitos de exibição, que a série realizada por Darby Wheeler com guião do jornalista Rodrigo Bascuñán tem sido um dos maiores fenómenos entre fãs de hip-hop, melómanos e simples curiosos que desconhecem a forma como o som que hoje escutam em todo o lado — das discotecas aos ginásios, dos shoppings aos bares de praia, na rádio e na televisão — começou um dia como música de festa das margens pelas mãos de uns quantos miúdos do Bronx. Que ignoram como um género que muitos acharam que não passaria de uma moda de Verão e hoje é — já lá vai meio século — influência dominante nos processos e métodos (o sampling à cabeça) de produção da música popular contemporânea e em múltiplas tendências comportamentais em todo o mundo (da moda, caso do modelo Superstar que os Run-DMC imortalizariam em My Adidas, e de uma certa atitude, inclusivamente física, à linguagem e ao slang, dos “memes” virais aos versos de rappers utilizados como lemas de vida) nasceu, em grande parte, de um desses gloriosos acasos da História.
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