E depois da pandemia? Estará o futuro jovem hipotecado?
É neste ciclo vicioso de instabilidade que a minha geração se tem habituado a (sobre)viver. As crises têm demonstrado que são sempre mais penosas para as jovens gerações que acabam por regressar demasiadas vezes à casa de partida.
Como vai mudar a nossa vida? Está o futuro dos jovens suspenso por melhores dias? Quais serão os impactos futuros desta crise? São questões para as quais as respostas se revelam incertas, tal como o futuro da juventude.
“Estamos de tanga”, “acabou o tempo das vacas gordas”, “bancarrota”, “crise mundial”, “austeridade”... A minha geração já ouviu tudo isto vezes de mais. Quando algo mal se inicia, esperamos sempre que seja passageiro; todavia, a crise entranhou-se no período histórico em que esta geração — a mais bem preparada, bem formada e muito desenrascada — luta por uma emancipação condigna. Depois da crise das dívidas soberanas em 2008, o futuro dos millennials voltará a tropeçar noutra crise, provocando um novo retrocesso no caminho desbravado até então com muito esforço, resiliência e criatividade.
É neste ciclo vicioso de instabilidade que a minha geração se tem habituado a (sobre)viver. As crises têm demonstrado que são sempre mais penosas para as jovens gerações que acabam por regressar demasiadas vezes à casa de partida.
Sabemos que, pela primeira vez, uma geração vai viver pior do que a anterior. Sabemos que não teremos um emprego para a vida. Sabemos que poderemos não vir a ter uma reforma. Sabemos que estamos a perder o nosso planeta. Sabemos demasiadas coisas más para encararmos o futuro com um sorriso. Porém, reinventamo-nos constantemente e alimentamos a alma com causas humanitárias e soluções para um mundo viciado na crise.
Apesar de todos estes percalços, a minha geração enfrentará a hecatombe económica que se avizinha com garra e determinação, dispondo de um inigualável poder de inovação social. Mas o embate deve ser feito com protecções que o Estado deve criar para aqueles que, um dia, serão os zeladores do mundo.
Num momento em que o nosso país já se foca no “depois da pandemia” e muitas são as medidas que surgem, é imperativo incluir a juventude nas prioridades da acção governativa. Apesar da imprevisibilidade, temos algumas certezas: as necessidades dos jovens vão alterar-se por força das mudanças profundas que virão. Ainda desconhecemos muitas delas, mas já nos vamos apercebendo que estão longe de se restringirem à economia, passando por mudanças sociais, culturais e comportamentais nos nossos modos de vida.
O emprego e a habitação jovem serão as prioridades maiores. Com a crise pandémica a fechar empresas e a pôr a economia em standby, os despedimentos e a não renovação de contratos serão uma consequência, para a qual se exige um reforço da verba de programas de apoio, para a conquista de um trabalho digno e de uma habitação acessível, símbolos maiores da autonomia da juventude.
O empreendedorismo jovem na ciência, na cultura, no associativismo e no desporto deve ser ainda mais estimulado e apoiado pelo Estado Social, activando a juventude para a resolução de problemas ao serviço do país, dando continuidade à digitalização, desmaterialização e reinvenção que ganhou novo folgo com a crise.
A educação pós-pandemia deve ser repensada para que as aulas sejam espaços de discussão de ideias e não apenas de exposição de conteúdos, contribuindo para a coexistência de competências educativas e de intervenção social em jovens cidadãos.
A causa ambiental não deixará de ser uma luta pois se há lição maior desta pandemia é o efeito nefasto da acção humana sobre os ecossistemas. A diminuição drástica da nossa pegada ecológica, durante o confinamento, prova que aquilo que os jovens têm reivindicado é real, tendo a Humanidade de optar no agora pela afamada economia verde.
É imperativo precaver situações de falta de acesso da juventude aos seus direitos, sendo dever do Estado identificar, agir e antecipar os seus problemas, em linha com a visão dos jovens e das suas organizações.
As repostas têm de vir, de todos os lados, dos municípios ao Governo, do sector público ao privado, para que o futuro das novas gerações não seja hipotecado.
A esta geração, menos convencional e mais social, mais inclusiva e menos conservadora, dizem que o mundo está nas suas mãos, mas de que vale construirmos vidas e casas de papel se, à mínima turbulência, tudo se desmorona como um castelo de cartas? Não queremos ser a geração mais rica em sonhos e ideias para o mundo, mas que não as concretiza por falta de oportunidades. Lembremo-nos sempre do que está em causa: uma juventude sem horizontes é uma Humanidade sem presente e futuro.