A prevenção de incêndios florestais também pode ir montada em cavalos garranos

A expectativa dos investigados da UTAC é que os cavalos, com o pastoreio, ajudem a diminuir a carga de biomassa.

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bsc bruno simoes castanheira - colaborador

Investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) estão a estudar o contributo do pastoreio dos cavalos de raça garrana na prevenção de incêndios florestais, no âmbito do projecto europeu “Open2preserve”.

“Trata-se de um projecto inovador que utiliza garranos na gestão do espaço florestal e, consequentemente na prevenção de incêndios, visando igualmente implementar uma estratégia sustentável do ponto de vista socioeconómico”, afirmou Filipa Torres-Manso, responsável pelo projecto na UTAD, em Vila Real.

O estudo que está a ser desenvolvido pela UTAD pretende conjugar a “utilização do fogo controlado com o pastoreio de cavalos garranos, respectivamente na limpeza e manutenção das áreas de matos”. Trata-se de uma raça autóctone de equídeos portugueses, característicos do Minho.

A expectativa é que os cavalos, com o pastoreio, ajudem a diminuir a carga de biomassa.

A investigadora da academia transmontana acrescentou que se pretende “também desenvolver a valorização da raça garrana através de estratégias que passam pela implementação de produtos turísticos que consistem na observação de cavalos em estado semi-selvagem”.

“Para valorizar os garranos para além do serviço de ecossistema que eles estão a fazer, no sentido de prevenção de incêndio, temos também uma estratégia de valorização dos garranos que passa pela observação de cavalos, o horsewatching à semelhança do que acontece com o birdwatching, afirmou à agência Lusa.

De acordo com um comunicado da UTAD, o ensaio está a decorrer numa área de baldio no vale da Campeã, no concelho de Vila Real, e envolve os investigadores do Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (CETRAD) e do Centro de Investigação e Tecnologias Agro-ambientais e Biológicas (CITAB) Filipa Torres-Manso, Luís Ferreira, Ana Marta-Costa, Paulo Fernandes e Rui Pinto.

Numa área total de 11 hectares, implementaram-se três parcelas, numa das quais foi realizado fogo controlado durante o Inverno de 2019 e onde estão os garranos em pastoreio, outra, que foi também submetida a um fogo de Inverno e, uma última, sem qualquer intervenção, constituindo a parcela de controlo.

Esta área encontrava-se “bastante vulnerável a incêndios e sem qualquer valor para o pastoreio”.

Com a utilização do fogo controlado, verificou-se uma “rápida recuperação da vegetação, surgindo novas espécies herbáceas e um rejuvenescimento dos matos preexistentes”, salientou a investigadora.

Agora, acrescentou Filipa Torres-Manso, está a tentar manter-se um “nível baixo de combustíveis de biomassa florestal através dos garranos, havendo parcelas comparativas”.

Para o final de Maio está previsto o primeiro inventário florístico de todas as parcelas”.

Depois poderão ser obtidos os primeiros “resultados de progresso”, no entanto, a investigadora ressalvou que serão necessários “alguns anos para se obterem resultados conclusivos relativamente à evolução da vegetação e ao efeito dos garranos”.

“Este é um processo que não tem efeito imediato”, explicou.

O projecto-piloto tem a duração de dois anos, mas, de acordo com a responsável, pretende-se dar continuidade à investigação através de candidaturas a outros programas comunitários.

O estudo da UTAD está incluído no projecto europeu “Open2preserve” que visa desenvolver um modelo de gestão sustentável a fim de permitir a redução de risco de incêndio, garantir a preservação dos serviços dos ecossistemas e a qualidade ecológica dos espaços abertos de montanha de elevado valor ambiental.

A iniciativa é apoiada pelo programa Interreg-Sudoe, liderado pela Universidade Pública de Navarra e conta com um financiamento de cerca de 1,7 milhões de euros.

O projecto tem ainda como parceiros em Portugal o Instituto Politécnico de Bragança e as entidades espanholas e francesas: Universidade de Santiago de Compostela, a Universitat Autònoma de Barcelo, a Fundació d"Ecologia del Foc i Gestió d"Incendis Pau Costa Alcubierre, a Agencia Estatal Consejo Superior de Investigaciones Cientifica, o Instituto Navarro de Tecnologías e Infraestructuras Agroalimentarias, a Chambre d"agriculture des Pyrénées Atlantiques, a Société d"élevage des Pyrénées Orientales, o Centre National de la Recherche Scientifique, a Junta de Andalucía e a Fundación Centro Tecnolóxico da Carne.