“A fé não se mede pelas multidões”, diz o bispo de Leiria-Fátima

O bispo de Leiria-Fátima, o cardeal António Marto, disse esta terça-feira que enjeitou possibilidade de “abrir” o 13 de Maio à presença física dos peregrinos, porque “não queria ficar não História como responsável por um agravamento da pandemia a nível nacional”.

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Daniel Rocha

Sem negar “a tristeza e dor” que diz sentir pelo facto de o 13 de Maio em Fátima se celebrar sem peregrinos, pela primeira vez em mais de 100 anos, o bispo de Leiria-Fátima, o cardeal António Marto, deixou esta terça-feira claras as razões pelas quais a Igreja Católica não aproveitou a abertura demonstrada pelo Governo para que a cerimónia se abrisse à presença física de alguns peregrinos: “Não queria ficar na história como responsável por um agravamento da pandemia a nível nacional.”

Mostrando-se descontraído perante os jornalistas que o questionaram quanto ao figurino “minimalista” do 13 de Maio, António Marto rejeitou quaisquer comparações com as manifestações da CGTP, no 1.º de Maio, porquanto “a Igreja não tem convidados seleccionados” como acontece nessas manifestações de carácter sindicalista e político. “Numa manifestação destas” - distinguiu, referindo-se ao 13 de Maio -, “era imprevisível que multidão vinha e como gerir isso”. “Se quiséssemos garantir distanciamento físico, não caberia muita gente e por que entrariam uns e não os outros? Seria, porventura, o caos”, acrescentou o cardeal, para lembrar que “se acontecesse alguma coisa, a responsabilidade recairia toda sobre a Igreja e sobre os católicos”. De resto, para o cardeal “a fé não se mede pelas multidões”. 

Salvaguardada assim “a saúde pública”, o responsável pela diocese de Leiria-Fátima desdramatizou a ausência de peregrinos e exortou-os uma vez mais a optarem por fazer “um caminho interior de purificação e de amadurecimento da fé”. E, questionado sobre eventuais tentativas de “furar o cerco” colocado à volta do santuário, desdramatizou-as, partilhando uma anedota. “Quando Pedro, que controlava as entradas no Céu, a certa altura deu conta que havia umas entradas por portas travessas, foi ter com Deus, indignado, ao que este lhe respondeu: ‘Ó Pedro, deixa lá, são coisas da minha mãe”.

Os preparativos nesta terça-feira, em Fátima Daniel Rocha
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Os preparativos nesta terça-feira, em Fátima Daniel Rocha

Arrumada a questão, o cardeal não se escusou a comentar o impacto financeiro deste “fecho de portas” do santuário aos peregrinos, embora se tenha dito incapaz de o quantificar. “Em relação a calcular quanto se perde, não sei. Mas toda a gente sabe que o santuário vive das ofertas e, por conseguinte, ressentiu-se”, começou por dizer, deixando, no entanto, uma certeza: “O santuário tem sustentabilidade económica para poder fazer face ao pagamento do vencimento dos seus funcionários, que são à volta de 350, e isso para nós é uma questão de honra. Não despedimos funcionários nem recorremos ao layoff.” Quanto ao restante, “na medida em que aparecerem os problemas, o santuário examiná-los-á”.

Desafiado a antecipar datas quanto ao desconfinamento na Igreja, disse ter a esperança que “em Agosto, com os emigrantes, as multidões possam voltar” ao santuário. No que toca à reabertura das missas comunitárias, lembrou que o desconfinamento dependerá ainda da avaliação que vier a ser feita pelas autoridades governamentais, mas, e porque as pessoas “vão demorar a libertarem-se do medo”, não antecipou quaisquer problemas relativamente à capacidade de acomodação dos fiéis nas igrejas do país. “Não vamos ter a ilusão que, ao abrir as igrejas, elas se vão encher. Acabei de ler que, em Espanha, as presenças estão a ser muito aquém do esperado: numa catedral, onde cabiam 200 pessoas, não estavam mais de 30”, exemplificou.

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