No desconfinamento, museus e galerias de arte reabrem a diferentes velocidades

A próxima segunda-feira, 18 de Maio, foi a data estabelecida pelo Governo para a reabertura de museus, monumentos, galerias e salas de exposições. O PÚBLICO foi saber qual é o caderno de propósitos de alguns dos espaços mais vocacionados para as artes plásticas contemporâneas.

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O Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado vai reabrir já a 18 de Maio Daniel Rocha

Quando, no final do estado de emergência, o Governo apresentou o calendário do desconfinamento, a reabertura do sector da cultura foi distribuída por três datas, entre 4 de Maio e 1 de Junho, tendo aos museus e às galerias de arte calhado o dia 18 do mês corrente. Mas serão provavelmente poucos os espaços a cumprir esta data.

No levantamento que o PÚBLICO fez junto de alguns dos principais museus e galerias do país dedicados à arte contemporânea, só o da Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNACC) e o Museu Colecção Berardo, em Lisboa, confirmaram a reabertura a 18 de Maio. E, no caso da Gulbenkian, essa data só vai ser cumprida pela ala dedicada à Colecção do Fundador, já que a da Colecção Moderna vai “permanecer encerrada devido às obras de remodelação previstas para o edifício e para o lado sul do Jardim Gulbenkian, a iniciar no Verão”, explica o gabinete de comunicação da fundação.

Para o dia da abertura, e associada ao Dia Mundial dos Museus, a Gulbenkian, através da sua directora Penelope Curtisdará as boas-vindas a todos os visitantes numa visita online em directo pelas galerias do museu. Mas a programação interactiva a assinalar a reabertura da Gulbenkian e que inclui também música, dança, performances, depoimentos e conversas com artistas e curadores far-se-á já a partir de sábado, dia 16, com a inauguração de uma exposição participativa virtual com meia centena de obras escolhidas pelo público, na sequência do desafio lançado nas redes sociais Curador por um dia.

No dia 19 reabrirão as Galerias Municipais de Lisboa, mas “de forma gradual e com um horário mais reduzido” (entre as 14h30 e as 19h, no início), avançou ao PÚBLICO Maria Manuel Ferreira, directora-adjunta da equipa da EGEAC que gere estes equipamentos.

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Estás Vendo Coisas, da dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, reabre a 19 de Junho na Galeria da Boavista, em Lisboa DR

Também em Maio, mas sem data definida, a Culturgest promete retomar as duas exposições interrompidas pela pandemia da covid-19, Lendo Resolve-se: Álvaro Lapa e a Literatura, na sua galeria de Lisboa; e Sol Cego, de Elisa Strinna, no espaço portuense.

Quanto ao resto, e além de dar continuidade à sua programação virtual, a Culturgest lembra que “toda a programação prevista até ao fim desta temporada — espectáculos, concertos, conferências, exposições — foi adiada para a segunda metade do ano”, ressalvando, contudo, que “não houve cancelamentos”.

Para Junho, estão anunciadas as reaberturas da Galeria Municipal do Porto (dia 2) e da Casa da Arquitectura, em Matosinhos (dia 9).

Igualmente sem data definida para o desconfinamento estão o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa — que, no entanto, promete celebrar, a 18 de Maio, o Dia Internacional dos Museus com “uma programação alternativa e live streaming com curadoria de Pedro Gomes” —, e o Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães, que espera ainda as orientações do Governo e das autoridades de saúde para refazer o seu calendário.

Já o Museu de Serralves comunicou não ter ainda informação disponível sobre a reabertura.

Admitindo o desejo de também poder assinalar o Dia Internacional dos Museus, o director executivo do CIAJG, Ricardo Freitas, avançou ao PÚBLICO, via email, que a reabertura será feita com “a preocupação de assegurar todas as condições de segurança aos colaboradores e aos visitantes”, o que passará, como em todo os outros espaços, pela obrigatoriedade do uso de máscara.

“Apesar de a quase totalidade da equipa estar em teletrabalho, desde o dia 16 de Março, ao longo deste período fomos criando novos conteúdos multimédia, produzidos para manter a relação com o nosso público, mas especialmente com o intuito de fomentar um maior conhecimento e interesse sobre o CIAJG e a Casa da Memória de Guimarães”, acrescenta o responsável por estas estruturas geridas pelo centro de artes A Oficina.

Certo é que, quando reabrir, o CIAJG vai reatar o ciclo expositivo Caos & Ritmo, que acabou por estar disponível apenas três dias, e que se completará com o regresso de Para Além da História, a mostra que inaugurou o Centro quando da Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Esta exposição ficará patente até Fevereiro de 2021.

Aposta no digital

A aposta em programações digitais tem sido uma constante no conjunto das instituições artísticas e o cuidado com as condições da reabertura é agora outro denominador comum. É assim que o regresso à actividade do Museu Gulbenkian, por exemplo, passará pela limitação da visita a 160 entradas diárias, “mas em algumas salas mais pequenas, como a de Arte Egípcia ou a Lalique, só serão permitidos quatro visitantes em simultâneo”, explica a fundação. Já para a exposição temporária A Idade de Ouro do Mobiliário Francês, o número de visitantes não poderá exceder os 25, e não haverá visitas organizadas.

O MNACC — a directora, Emília Ferreira, explica ao PÚBLICO que a instituição está “a tentar deixar cair a designação Museu do Chiado, que faz esquecer ser este o único Museu Nacional de Arte Contemporânea, criado em 1911 e, portanto, um dos primeiros (senão o primeiro) no mundo, com essa designação”, além de querer também evitar a confusão que a designação Chiado cria a muitos visitantes, que imaginam “um museu de sítio ou sobre o incêndio de 1988” — vai reabrir a 18 de Maio associando-se ao tema lançado pelo ICOM para celebrar o Dia Internacional dos Museus: Museus para a Igualdade: Diversidade e Inclusão. Fá-lo, com entrada gratuita, com as duas exposições que já aí estavam patentes em Março: Biografia do Traço. Colecção de Desenho (1836-1920), com curadoria de Maria de Aires Silveira, que incluirá algumas novidades a anunciar mais tarde; e Pedro Gomes. Encontro às Cegas, com curadoria da própria Emília Ferreira e de Hugo Dinis.

No átrio do museu centenário de Lisboa será instalada uma nova e pequena exposição em torno do quadro Otelo e Desdémona, do pintor espanhol Muñoz Derain (1840-1924), “obra que integrou a colecção do MNAC logo ao tempo da sua fundação, e que apenas fora exposta pelo seu primeiro director, Carlos Reis, em 1913, numa exposição colectiva”, explica a actual directora, dizendo também que, devido a “compromissos prévios com os emprestadores”, a mostra Sarah Affonso. Os dias das pequenas coisas não será retomada.

Em meados de Junho, o MNACC irá apresentar Como silenciar um poeta, de Susana Mendes Silva, e a colectiva Dissonâncias, em que Emília Ferreira e Adelaide Ginga seleccionam algumas das doações feitas ao museu, uma exposição que irá ficar, “pelo menos”, até ao final de Setembro. Este “pelo menos”, diz a directora, “prende-se com a necessidade de reavaliar as condições para a concretização de outras exposições entretanto programadas”. 

Máscara ‘Mondrian’ no Museu Berardo

Também o Museu Berardo vai reabrir no Dia Internacional dos Museus, associando-se ao mote do ICOM em defesa dos princípios da diversidade e da inclusão, e seguindo as novas regras de segurança determinadas pela DGS. Nesse sentido, numa iniciativa conjunta com o Ministério da Cultura e com o jornal PÚBLICO, vai distribuir aos visitantes máscaras comunitárias com a reprodução de uma obra do pintor holandês Piet Mondrian (1872-1944), que posteriormente ficarão também à venda na loja do museu.

Na programação, oferece as exposições temporárias que ou foram interrompidas ou não chegaram a abrir por causa da pandemia da covid-19:  Mutações. The Last Poet, de Joana Escoval (que ficará patente até 16 de Agosto); Deeper Shades. Lisboa e Outras Cidades, de Andreas H. Bitesnich (até 5 de Setembro); e Obras Inéditas, de Julian Opie (até 18 de Outubro).

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A exposição Obras Inéditas, de Julian Opie, não chegou a receber visitantes: deveria ter aberto ao público a 19 de Março Museu Colecção Berardo

Também a partir do dia 18, e na sequência da oferta da programação online, o museu instalado no Centro Cultural de Belém vai inaugurar a apresentação de uma colecção de livros de bolso, adaptados para smartphone e tablet, com a transcrição de uma visita guiada pela artista Joana Escoval e pelo curador Pedro Lapa à exposição Mutações. The Last Poet.

Na retoma da sua actividade, o museu irá depois exibir também a mostra Constelações II: uma coreografia de gestos mínimos (até 27 de Setembro), além de manter a exposição permanente da Colecção Berardo de 1960 à actualidade

Fernão de Magalhães adiado

Nas Galerias Municipais de Lisboa, a 19 de Maio, as duas primeiras exposições a (re)abrir, depois da interrupção por causa da covid-19, serão Qualquer coisa de intermédio, de Catarina Botelho e curadoria de Sandra Vieira Jurgens, no Pavilhão Branco; e Estás vendo coisas, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, com curadoria de Rayne Booth, na Galeria da Boavista. Uma semana depois, a 26 de Maio, na Galeria da Avenida da Índia, retoma-se também R-Humor, de Catarina Simão, com curadoria de Cristiana Tejo.

Ainda antes das férias, esta mesma galeria recebe, a 11 de Julho, Homo Kosmos (cough cough), de Yonamine e Tiago Borges, com curadoria do director das galerias, Tobi Maier. Uma semana depois, o Pavilhão Branco inaugura Velvet Nirvana, uma mostra comissariada por Miguel Von Hafe Perez “com o foco na música punk e pós-punk nacional e internacional”. Também antes de Agosto, a Quadrum (25 de Julho) apresentará Earthkeeping/Earthshaking: arte, feminismos e ecologia, com curadoria de Vanessa Badagliacca e Guilia Lamoni; e a Galeria da Boavista (30 de Julho) receberá trabalhos da dupla Mariana Caló-Francisco Queimadela, vencedora da primeira edição do Prémio Paulo Cunha e Silva, com curadoria de Susana Ventura.

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A exposição Máscaras com curadoria de João Laia e do lituano Valentinas Klimasauskas, fará a reabertura da Galeria Municipal do Porto, a 2 de Junho dr

Ao PÚBLICO, Maria Manuel Ferreira explica que algumas das exposições previstas para esta altura tiveram de ser adiadas para 2021 — é o caso de Incognitum, comemoração dos 500 anos da circum-navegação de Fernão de Magalhães, com comissariado de Isabel Carlos e Raul Miranda.

A programação das diferentes galerias “será cumprida e adaptada ao contexto que vivemos”, tendo, por exemplo, sido canceladas as inaugurações, acrescenta a directora-adjunta das Galerias Municipais, que enumera ainda, até final do ano, as exposições de Kiluanji Kia Henda, João Ferro Martins, Elisa Pône e Roberto Winter.

No tempo das máscaras

Quanto à Galeria Municipal do Porto, Guilherme Blanc, o director, começa por explicar que a reabertura do espaço no Palácio de Cristal, a partir de 2 de Junho, será limitada a 20 pessoas, no piso zero, e a dez, na mezzanine, de cada vez.

No programa mantêm-se as duas exposições que não chegaram a abrir, como estava previsto, a 14 de Março: Máscaras, com curadoria de João Laia e do lituano Valentinas Klimašauskas (“cuja pertinência ganhou um sentido quase esotérico”, realça Guilherme Blanc); e Apesar de não estar, estou muito, de Diogo Jesus, com curadoria do ex-director do Museu de Serralves João Ribas. Já a exposição Anuário’19, no Palácio das Artes, vai ser retomada, pois só esteve aberta durante uma semana.

Fazendo notar que nenhuma exposição do calendário de 2020 foi cancelada, o director da Galeria Municipal do Porto anuncia o reagendamento, para Setembro, das mostras de Luís Lázaro Matos, com curadoria de Martha Kirszenbaum (responsável pelo Pavilhão de França na última Bienal de Veneza) e do Prémio Paulo Cunha e Silva. Já as que se encontravam anunciadas para esse mês — Que horas são que horas, sobre a cena galerística do Porto desde 1950; e a da artista e cineasta Inés Moldavsky — transitarão, respectivamente, para Dezembro próximo e para Março de 2021.

Ainda à espera de um acerto final no calendário das exposições, o MAAT remete para o seu site a informação sobre exposições que já estavam em curso quando do início da pandemia, mas destaca a aposta na instalação Beeline, “uma intervenção arquitectónica invulgar que foi encomendada ao estúdio nova-iorquino SO-IL”, e que ocupa todo o edifício desenhado por Amanda Levete — deveria ter sido inaugurada no final de Março.

Tendo também apostado no recurso aos programas digitais, ao mesmo tempo que continuou a produzir e a tratar conteúdos, a Casa da Arquitectura reabrirá a 9 de Junho, naturalmente com menor lotação nos espaços expositivos. A instituição retomará a exposição Souto de Moura – Memória, Projectos, Obras, e reprogramará as actividades paralelas que lhe estavam associadas, entre as quais os itinerários em volta de obras do autor do Estádio de Braga.

Sabe-se já que a iniciativa anual Open House Porto, que deveria ocorrer no início de Julho, foi transferida para o próximo ano, assim como se antecipa como inevitável o redimensionamento da festa do terceiro aniversário, a celebrar em Novembro. Foram também adiadas para 2021 as exposições Radar Veneza – Arquitectos portugueses na Bienale 1975-2020 e Guido Guidi – Em diálogo com Álvaro Siza.

Apostar na rentrée é também o propósito da Culturgest, que anuncia para essa altura a inauguração de três exposições que ficaram na sombra do lockdown. Serão elas, em Lisboa, Exposição Invisível (25 de Setembro) e a retrospectiva de Gabriela Albergaria, originalmente prevista para o período Maio-Agosto (16 de Outubro), e, no Porto, uma mostra de trabalhos de Evan Roth (2 de Outubro). Neste mesmo mês (dia 23), a Culturgest irá mostrar em Chaves, no Museu Nadir Afonso, obras da Colecção CGD, sob o título O Pequeno Mundo, com curadoria de Sérgio Mah.

É também para o início da próxima temporada (espera-se) pós-covid-19 que o Museu Gulbenkian tem reagendadas as exposições Esculturas Infinitas (17 de Setembro) e René Lalique (29 de Outubro). Com Lusa.

Notícia actualizada com o acrescento da programação do Museu Colecção Berardo.

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