DGS aponta o caminho para o futebol, jogadores de FC Porto e Sporting discordam
Infecções em vários clubes da I Liga, chegada do vírus a um dos três “grandes” e jogadores de FC Porto e Sporting desconfortáveis com os pressupostos elaborados da Direcção-Geral da Saúde: o regresso do futebol não é, por enquanto, uma medida pacífica.
A Direcção-Geral da Saúde ditou as regras que suportam um eventual regresso do futebol – um rol extenso de exigências sanitárias –, mas não há, até ver, unanimidade. Danilo, Tiquinho Soares e Zé Luís, jogadores do FC Porto, e Francisco Geraldes, atleta do Sporting, já manifestaram desacordo com pelo menos um dos pressupostos definidos pela DGS, com reacções adaptadas aos tempos modernos – nas redes sociais e com recurso a emojis.
Ainda que não seja, para já, um manifesto claro de recusa em entrar em campo, a opinião dos atletas é, no mínimo, uma “areia na engrenagem” no regresso do futebol – mais uma.
Primeiro, o internacional português Danilo publicou, no Instagram, um emoji com o polegar em posição reprovativa, referindo-se, concretamente, ao ponto 1 do Código de Conduta elaborado pela DGS.
O ponto diz que “a FPF, a Liga Portugal, os clubes participantes na Liga NOS e os atletas assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infecção por SARS-CoV-2 e de COVID-19, bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública”.
Aparentemente também pouco confortáveis com a possível responsabilização a atletas e clubes com algo que corra mal, Tiquinho Soares e Zé Luís seguiram o capitão do FC Porto.
O brasileiro publicou uma imagem semelhante, escrevendo “Não”, enquanto o cabo-verdiano, com mais palavras, considerou que “só pode ser brincadeira”.
Já nesta segunda-feira, o médio Francisco Geraldes, do Sporting, também sugeriu estar contra o ponto 1 do Código de Conduta, publicando-o no Instagram com a descrição “e é só o ponto 1”.
DGS vai reavaliar caso as infecções se alastrem
Estas reacções, como discordância com os planos da DGS e da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), chegam horas depois de os casos de novas infecções por covid-19 começarem a assolar mais clubes nacionais. E houve, também, a primeira infecção conhecida num dos “grandes”.
Depois de três casos no Vitória de Guimarães, cinco no Famalicão e um no Moreirense, foi o Benfica a revelar uma infecção no plantel, informando, até, o nome do jogador – no caso, o jovem médio português David Tavares.
O maior mediatismo da chegada da covid-19 a um dos grandes poderá desencadear, naturalmente, uma maior reflexão sobre o regresso do futebol, algo a que a DGS até já se propôs.
Ainda antes de dar a conhecer o Código de Conduta, o organismo de saúde já tinha prometido reavaliar o risco do regresso do futebol caso os casos positivos aumentem.
“É uma situação muito complexa conciliar o retorno da actividade do futebol com regras sanitárias e de segurança. É difícil definir linhas vermelhas. Se os testes feitos às equipas derem um número elevado de pessoas positivas, terá de ser equacionado pelas autoridades de saúde”, explicou Graça Freitas, directora-geral da Saúde.
Já nesta segunda-feira, a retoma do futebol voltou a ser abordada pelo Governo. António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, reforçou que foi feito um trabalho “muito próximo e profícuo” entre a FPF e a DGS, garantindo que “os níveis de responsabilidade estão “muito bem definidos”. E acrescentou que cabe à Saúde testar, proteger e tratar, mas que cabe à FPF operacionalizar o plano. “Se cada uma das partes fizer bem o seu trabalho, a retoma será bem-sucedida”, previu.
É entre a operacionalização e a testagem que estará uma reflexão que, caso as infecções se alastrem entre futebolistas, poderá terminar com algo que ainda nem sequer recomeçou ou, no mínimo, levar a uma reapreciação do Código de Conduta elaborado pela DGS.