Sucedem-se os protestos contra a demolição do edifício Y-blokka, em Oslo
É uma história antiga, a da demolição deste bloco em forma de “Y”, um projecto do arquitecto Erling Viksjø, que tem obras de Picasso e do escultor Carl Nesjar. A câmara de Oslo e o governo norueguês estão divididas acerca do assunto e há um abaixo-assinado a pedir que se encontrem outras soluções.
Um protesto contra a demolição do edifício Y-blokka, construído em 1969 no Regjeringskvartalet, o “bairro do governo”, realizou-se na noite de sábado em Oslo, na Noruega. Os manifestantes protestaram também contra a retirada, para recolocação num outro lugar, da obra O Pescador, desenhada por Pablo Picasso e executada pelo escultor norueguês Carl Nesjar no exterior do edifício, virado para uma praça pública, e de A Gaivota, desenhada também por Picasso e instalada no átrio. Paralelamente às acções de protesto, corre um abaixo-assinado a exigir alternativas à demolição, um documento que esta segunda-feira contava já mais de 47 mil assinaturas.
É uma história antiga, a da demolição deste edifício em forma de “Y”, projecto do arquitecto norueguês Erling Viksjø integrado num conjunto arquitectónico que inclui também o Høyblokka, o Bloco H, também por si desenhado e construído anos antes, em 1959. Ambos sofreram danos com as explosões do ataque terrorista do radical de extrema-direita Anders Breivik, que matou 77 pessoas a 22 de Julho de 2011.
Desde 2014 que o governo norueguês defende que o Y-blokka tem de ser demolido por questões de segurança causadas pelos estragos do atentado, e nessa altura a Câmara de Oslo concordava com esta decisão, tendo recentemente mudado de ideias. Mas de nada servirá, pois o governo norueguês está a levar avante a demolição, só tendo aceitado que as obras de arte de Carl Nesjar e de Pablo Picasso devem ser preservadas.
“Vamos mostrar o nosso desgosto perante a demolição sem sentido do edifício Y-blokka e com o poder estatal, que, com a sua arrogância, não nos ouvirá nem verá outras soluções. Desenhe, pinte, escreva em cartazes que possam ser pendurados na cerca”, lia-se na página da manifestação criada no Facebook. Os organizadores pediam que, em tempo de covid- 19, os participantes obedecessem a regras como a presença de um máximo de cinco pessoas de cada vez e mostrassem respeito pelo local, sem vandalismo.
Durante os últimos dias muitos têm sido os protestos, como o de Ellen de Vibe, a ex-presidente da Câmara de Oslo, que se sentou em frente do edifício e foi retirada e arrastada pela polícia, conta ao PÚBLICO a arquitecta Margarida Pais, formada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), que vive e trabalha em Ålesund, na Noruega, onde tem um atelier.
Há também artistas e cidadãos que deixam flores ou pintam mensagens na cerca que rodeia o edifício. Um deles foi AFK, que em protesto pintou na cerca um Picasso, com a sua típica camisola às riscas com a gola em forma de ípsilon. Tem o braço esticado, com a mão aberta em sinal de “stop”, reclamando o fim da demolição. Conta a arquitecta que passadas algumas horas o desenho foi retirado, só restando agora uma orelha do Picasso original. “Muita gente luta contra o governo para parar esta calamidade”, acrescenta Margarida Pais.
Sucedem-se também os debates nos canais de televisão e noutros meios acerca da insistência do governo norueguês em levar avante esta decisão apesar de três organizações, entre as quais a Ordem dos Arquitectos, terem anunciado a 13 de Fevereiro a sua intenção de pôr o caso em tribunal e estarem agora a pedir que a retirada das obras de arte seja adiada até à decisão judicial. O governo rejeitou o pedido, alegando custos financeiros e o atraso das obras que para ali já estão aprovadas. O projecto de renovação do quarteirão propõe a construção de quatro novos edifícios. A 20 de Fevereiro, o Ministério de Administração Interna e da Modernização deu o aval para que se iniciasse a demolição. E o baixo-relevo O Pescador já está tapado com um pano.
Em Outubro do ano passado, Gudmund Stokke, o arquitecto responsável pelo novo projecto arquitectónico no Regjeringskvartalet, que deverá estar pronto em 2025, explicava ao Ípsilon que a decisão de demolir o Y-blokka tinha sido prévia ao concurso que o seu atelier, o Nordic, ganhou para a requalificação do bairro.
Actualização às 20h48 com a especificação das razões de segurança que levam a que o governo norueguês queira demolir o edifício desde 2014