Menina desaparecida em Peniche encontrada sem vida. Pai e madrasta “fortemente indiciados” do crime de homicídio
A menina, de nove anos, estava desaparecida desde quinta-feira. PJ diz que estão “fortemente indiciados de crimes de homicídio, ocultação de cadáveres, entre outros”.
Valentina, a menina de nove anos cujo desaparecimento, em Atouguia da Baleia, Peniche, foi tornado público na quinta-feira de manhã, foi encontrada sem vida, este domingo. O pai e a madrasta foram detidos por suspeita de envolvimento na sua morte.
Fernando Jordão, coordenador da Polícia Judiciária de Leiria, disse nesta tarde de domingo, em conferência de imprensa, que o pai e a madrasta da criança, de 32 e 38 anos, estão “fortemente indiciados de crimes de homicídio, ocultação de cadáveres, entre outros”.
Os dois foram detidos já esta manhã, afirmou o responsável da PJ, realçando que a descoberta do corpo da menina só foi possível após a inquirição a várias pessoas, num trabalho desenvolvido “noite e dia”, em colaboração com a GNR, a Protecção Civil, autarcas e populares.
Fernando Jordão disse que a PJ está convicta que a menina “morreu na habitação”, ainda na quarta-feira, e que o corpo foi transportado para o local onde seria encontrado “já ao fim do dia”. Quanto às circunstâncias que levaram ao presumível homicídio, o responsável da PJ disse que ainda estão a ser apuradas, mas que, até agora, as informações recolhidas apontam para “questões internas do funcionamento da família”.
O corpo da menina não foi enterrado, estando apenas “tapado” com arbustos, no eucaliptal a alguns quilómetros da habitação dos suspeitos, em Atouguia da Baleia, Peniche, onde foi encontrado, afirmou ainda.
A confirmação do pior desfecho para o desaparecimento da criança chegou ao final da manhã, através de uma nota da Polícia Judiciária (PJ). Pouco depois, o presidente da Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia, Afonso Clara, em declarações aos jornalistas, dava conta que a menina tinha sido encontrada num “eucaliptal”, "a alguns quilómetros” da casa do pai, onde estava a viver temporariamente.
O autarca disse ainda que a descoberta do corpo terá sido consequência de informações recolhidas pela PJ no âmbito da investigação, e não fruto do trabalho desenvolvido pelos grupos de busca que estiveram no terreno. Representantes da GNR e da Protecção Civil de Leiria deram conta, na conferência de imprensa desta tarde, que cerca de 600 pessoas, entre elementos da GNR, PSP, bombeiros, escuteiros, equipas cinotécnicas e operadoras de drones estiveram envolvidas nas buscas, tendo percorrido cerca de quatro mil hectares de terreno. As equipas ainda não tinham chegado ao local onde foi encontrado o corpo da menina.
CPCJ diz que criança não estava sinalizada
Valentina já tinha desaparecido uma vez da casa do pai, a 8 de Abril do ano passado (quando este vivia em Peniche), tendo, na altura, sido encontrada bem pelas forças de segurança. A menina terá dito que tinha fugido por ter saudades da mãe. Nessa altura, o caso foi reportado à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), mas Fernando Jordão disse, esta tarde, não ter conhecimento que desse contacto tenha resultado qualquer suspeita ou referenciação de algum problema de negligência ou maus-tratos na família.
Isso mesmo confirmou o PÚBLICO junto da CPCJ de Peniche e do Bombarral. Rute Azevedo, presidente da CPCJ do Bombarral, explicou que esta “nunca recebeu qualquer sinalização da menor ou da família”. Da CPCJ de Peniche a indicação é exactamente a mesma: “Não temos qualquer processo aberto em nome da família, nem qualquer acompanhamento”, disse um elemento da comissão que prefere não ser identificado.
Ao início da tarde, em declarações ao PÚBLICO, Afonso Clara revelou que houve dois factos que lhe levantaram suspeitas. Por um lado, a atitude do pai, operário fabril, que não participou nas buscas e que, ao longo destes quatro dias, se apresentou sempre “demasiado calmo”. Por outro, o facto de o homem ter relatado que a criança tinha saído de casa de pijama e chinelos, o que não faria grande sentido se estava a pensar em fugir.
O presidente da Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia contou ainda que a mãe da menina participou activamente nas buscas. “Essa sim, notava-se que estava angustiada, em sofrimento”, acrescentou o autarca.
Valentina vivia habitualmente com a mãe
O pai de Valentina e a madrasta vivem na localidade há nove meses. O casal tem uma filha em comum com menos de um ano, e na habitação estavam ainda duas crianças, uma com “11/12 anos” e outra de quatro, filhos de uma relação anterior da mulher. A PJ disse não ter qualquer indicação se estes menores, terão assistido ao crime.
Já a menina vivia habitualmente com a mãe, descrita como “uma mulher de trabalho”, na vila do Bombarral, para onde se mudaram depois da separação. Antes, a família vivia numa aldeia do concelho, Famões.
Valentina frequentava o 3.º ano da Escola Fernão do Pó, no Bombarral, e a notícia da sua morte está a ser acompanhada com tristeza e incredulidade. A mãe de uma amiga de Valentina, que conhecia a menina desde os quatro anos, sintetizou o desânimo vivido: “Ainda bem que já não há mais aulas este ano, porque assim as crianças já não vão ser confrontadas com o lugar vazio.”
O alerta para o desaparecimento de Valentina foi dado pelo pai da criança, que, na quinta-feira de manhã, se deslocou ao posto da GNR. Na altura o homem terá dito que a filha foi dormir na noite anterior mas já não se encontrava em casa quando ele acordou.