Exportações e importações afundaram-se em Março

Exportações caíram 13% em Março e importações diminuíram 11,9%. Uma quebra simultânea tão forte dos dois indicadores não acontecia desde 2009, durante a crise financeira internacional

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Paulo Pimenta

A queda abrupta na procura de bens tanto no mercado nacional, como no resto do mundo, registada no passado mês de Março, conduziu a uma diminuição das trocas comerciais de Portugal com o estrangeiro que apenas encontra paralelo na crise financeira internacional de 2009.

De acordo com os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) esta sexta-feira, tanto as exportações como as importações de bens registaram em Março quebras face ao mesmo mês do ano anterior superiores a 10%, um cenário a que já não se assistia desde Outubro de 2009. Nessa altura, a queda a pique dos mercados financeiros tinha criado um clima de enorme incerteza e pessimismo na grande maioria das economias mundiais, conduzindo a uma travagem das trocas comerciais. Agora, a pandemia do novo coronavírus e as medidas de confinamento para limitar o contágio estão a levar ao mesmo tipo de resultado.

Os números do INE mostram que as exportações portuguesas de bens caíram 13% em Março face ao mês homólogo de 2019. Durante a última década, período em que as exportações nacionais registaram um desempenho forte, os meses de variação negativa foram surgindo apenas de forma pontual e nunca com quedas superiores a 6%.

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Agora, no entanto, há motivos muito claros para pensar que a variação negativa tão acentuada não será pontual, devendo prolongar-se durante mais algum tempo. A procura de bens na generalidade das economias do mundo está fortemente limitada, tornando muito difícil às empresas exportadoras portuguesas colocarem os seus bens nos mercados internacionais, existindo dúvidas sobre o tempo que demorará o regresso total à normalidade.

É necessário recuar a 2009 para encontrar um cenário semelhante de queda prolongada das exportações e, especificamente, a Setembro de 2009 para observar uma queda homóloga mensal superior à registada em Março. No início de 2009, as quedas nas exportações (e também nas importações) chegaram a valores próximos de 30%, um cenário que não pode ser descartado agora, tendo em conta que a queda da economia mundial, de acordo com a generalidade das previsões, deverá ser maior em 2020 do que a registada na crise financeira internacional em 2009.

No que diz respeito às importações, a variação homóloga negativa de Março foi de 11,9%. Também aqui, tendo em conta a contracção do consumo e do investimento que se verifica actualmente em Portugal, é provável que seja apenas a primeira de uma série de descidas.

 Neste caso, é possível encontrar uma variação homóloga mais negativa em Abril de 2012, quando o país estava no auge da aplicação das medidas de austeridade e apresentava uma contenção muito forte da procura interna. Em 2012, ao contrário do que aconteceu em 2009 e se verifica agora, a queda das importações aconteceu ao mesmo tempo que as exportações cresciam, o que permitiu uma melhoria muito acentuada da balança comercial do país.

No passado mês de Março, assinala o INE, o défice da balança comercial de bens registou uma diminuição de 151 milhões de euros face ao mês homólogo de 2019. No entanto, é preciso levar em atenção que o INE não publica os dados referentes à exportação de serviços, onde se incluem por exemplo os serviços de turismo. E é muito provável que a este nível a quebra, tanto das exportações como das importações, tenha sido ainda maior, algo que pode prejudicar consideravelmente a balança comercial de Portugal, que tem registado excedentes significativos neste saldo.

No que diz respeito aos bens, mostram os números do INE publicados esta sexta-feira, os maiores decréscimos, tanto nas exportações como nas importações, verificaram-se no material de transporte, com quedas de 33,5% e 38,4%, respectivamente. Um resultado que não surpreende se se levar em conta que algumas das principais empresas do sector situadas em Portugal, como a Autoeuropa, suspenderam a sua produção.

Já ao nível dos produtos alimentares e bebidas, bens essenciais que as pessoas não deixaram de consumir, a normalidade manteve-se. Esta foi a única categoria de produtos a registar aumentos tanto nas exportações como nas importações.

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