Testar para poupar: investigadores traçam plano para evitar descontrolo da pandemia
Os cientistas do Porto apontam que, mais do que aumentar o número de testes, é necessário testar, concretamente – e de forma alargada –, os contactos dos novos infectados, mesmo que assintomáticos. E apresentam uma ferramenta de cálculo para provar que fazer mais testes permite poupar dinheiro.
Testar, testar, testar. Este mantra foi celebrizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda numa fase precoce da pandemia de covid-19, mas continua actual, mesmo numa altura em que há, grosso modo, um mundo em cenário de desconfinamento. A testagem não deve ser, no entanto, focada apenas nos cidadãos com sintomas.
Sete investigadores portugueses assinaram um editorial da edição de Maio da revista da OMS, deixando o alerta global de que, mais do que aumentar o número de testes, é necessário testar, concretamente e de forma alargada, os contactos dos novos infectados.
Para evitar o descontrolo da pandemia nesta fase de desconfinamento, os investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do CINTESIS sublinham que “o número de testes por caso confirmado é uma medida muito importante nesta fase de desconfinamento em que serão feitos muitos testes de rastreio”.
E advertem, com um exemplo, que continuar a olhar apenas para a percentagem de testes positivos dá “uma falsa sensação de segurança”. “O Vietname, sem mortes nos seus 97 milhões de habitantes, apresenta o maior número de testes por caso confirmado: 791 versus 10 de Portugal (…) nesta fase, todos os contactos, mesmo que assintomáticos, devem ser testados para a covid-19”, pode ler-se na revista internacional.
Testar mais é gastar menos, defendem
Apesar de do aumento de testes advir um custo financeiro associado, os cientistas portugueses defendem que a testagem em larga escala significa… poupança. Justificam-no com a detecção precoce de novos casos, sobretudo os assintomáticos, e com a forma como esta evita mais internamentos – e respectivos custos.
Para comprovar a teoria, a equipa de investigadores avança a criação de uma ferramenta online cuja fórmula matemática permite simular quantos internamentos seriam evitados com o aumento do número de testes. Este cálculo prevê, também, a medição da poupança real num prisma financeiro, considerando os custos directos dos internamentos em cada país.
“Neste simulador, é possível testar diferentes cenários e frequências de testes, tendo por base a situação epidemiológica do país e variáveis relacionadas com a utilização de cuidados de saúde por parte de doentes com infecção covid-19”, explica Bernardo Sousa-Pinto, um dos autores do artigo.
Os investigadores reconhecem que o aumento da capacidade de testagem já foi, em Portugal, um factor decisivo “no sentido de evitar o colapso do SNS” – e estimam que o aumento do número de testes pode ter permitido evitar mais de cinco mil internamentos, com poupanças na ordem dos 27 milhões de euros.
Nesta fase, estão já pré-definidas simulações em Portugal e noutros sete países.