Lar do Comércio queria evacuar temporariamente edifício mas recuou na decisão
Falta de alternativas para alojar os cerca de 200 utentes obrigaram a que instituição recuasse. O lar soma 13 mortes por covid-19, sendo que pouco menos de metade dos residentes estão infectados.
Para dar resposta à gravidade da situação no Lar do Comércio, em Matosinhos, onde já morreram 13 idosos por covid-19 e onde há 90 infectados, a direcção do lar equacionou mobilizar temporariamente os cerca de 200 utentes para proceder à desinfecção das instalações. Mas acabou por recuar. Se primeiro considerou ser fundamental esvaziar o edifício para proceder à desinfecção do espaço, depois voltou atrás por considerar não existir capacidade de alojamento para todos os utentes.
Ao início da tarde de domingo chegou um e-mail à Unidade de Saúde Pública (USP) de Matosinhos com um pedido de ajuda, assinado pelo médico Francisco Ferrão, do Lar do Comércio. A equipa médica adiantava querer proceder a uma operação de limpeza e de desinfecção na área total do lar. Mas na nota enviada existia uma condição necessária para isso ser possível acontecer: todos os utentes teriam de ser temporariamente mobilizados para outras instituições. Se isso não acontecesse o director clínico poria o lugar à disposição. Mas para onde seriam transferidos os utentes e que tipo de resposta estaria pensada para os doentes?
Estas e outras questões foram enviadas no mesmo dia à direcção clínica do lar pela Comissão Municipal da Protecção Civil (CMPC), da qual faz parte a Protecção Civil, a USP e a Segurança Social. Contactada pelo PÚBLICO, a autarquia adiantou que o esclarecimento passava também por saber que cuidados de saúde seriam assegurados e quais os “recursos humanos disponíveis e capacidade clínica e material para o adequado seguimento dos utentes”. Até segunda-feira não tinha chegado resposta. Porém, a direcção do IPSS agendou reunião com a comissão municipal para o final da tarde do mesmo dia.
Ao contrário do que tinha sido solicitado anteriormente, no início da reunião, de acordo com a câmara de Matosinhos, a direcção adiantou que o melhor seria optar pela segregação dos utentes dentro das instalações, como de resto já tinha sido sugerido a 7 de Abril pela comissão. Na reunião, em que foi notada a ausência do director clínico, estavam presentes todas as entidades da CMPC, o director do lar, José Fernando Moura, e a directora técnica, Marta Couto Soares. Segundo a autarquia, nos próximos dias a instituição formalizará o auxílio de que vai necessitar.
Antes de todos os intervenientes se juntarem à volta da mesa, fonte da direcção já adiantava ao PÚBLICO estar em aberto seguir outra via, semelhante à que levou a que no final de Abril, quatro corporações de bombeiros e 25 operacionais entrassem dentro das instalações para separar doentes covid-19 dos utentes saudáveis. Isto, porque o delegado de saúde não terá concordado com o plano inicial que implicaria uma evacuação temporária, por questões logísticas - não seria fácil encontrar alternativas para albergar os agora 195 utentes.
Os utentes serão assim deslocados de piso para piso do edifício à medida que se vai desinfectando todas as áreas, recuando a direcção da intenção inicial para uma alternativa que não implica deslocação para fora do lar. O objectivo, de acordo com a direcção, será voltar a testar os utentes, desinfectar o edifício na totalidade e criar circuitos de áreas limpas e não limpas.
O PÚBLICO tentou apurar junto da direcção se ao não se optar pela opção delineada pelo actual director clínico estaria em causa a sua continuidade. Mas não obteve qualquer resposta. Recorde-se que não seria a primeira vez que nas últimas semanas membros da equipa do lar deixariam de vago o lugar que ocupam. No final de Abril, a assessora de comunicação do lar demitiu-se, sugerindo existir “omissão, grave, de factos e números de infectados e mortes”. Nos últimos dias, os comunicados que têm chegado às redacções vêm assinados por Inês Serra Lopes, que suspendeu a carteira de jornalista para gerir a comunicação da crise covid-19.