Espanhóis saem finalmente à rua entre sorrisos de alegria e espaços cheios
Milhares de espanhóis saíram de casa pela primeira vez em mais de um mês para passear e praticar desporto. Fazem-no respeitando horários para as diferentes faixas etárias.
Fartos de estarem confinados, milhares de espanhóis puderam voltar neste sábado à rua por todo o país para praticar desporto e passear. Houve espaços onde a distância de segurança se conseguiu manter, mas, noutros, as pessoas foram tantas que foi impossível. Quem saiu finalmente de casa diz que o sentimento é apenas um: felicidade.
“Pensava que já não sabia como caminhar”, confessou à televisão espanhola RTVE Ángeles, de 57 anos. Esteve fechado em casa 49 dias e, mesmo quando o Governo anunciou que poderia sair à rua para passear, teve dúvidas se o deveria fazer. Mas lá o fez: “Tive dúvidas sobre se devia esperar até segunda-feira, mas no final calcei os meus ténis”.
A liberdade de finalmente se poder sair de casa, respirando um ar mais puro, dado que o confinamento melhorou os níveis de poluição, foi motivo de felicidade para muitos espanhóis. “Notei que muitas pessoas corriam felizes”, disse ao mesmo canal Jaime, de 25 anos e que vive em Cáceres. “Saí às 8 horas e encontrei umas 20 pessoas a correr e a andar de bicicleta, todas a respeitar a distância [de segurança]”, continuou.
O Governo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, delineou uma estratégia de saída de confinamento por fases (da 0 à 3 e com dois meses de duração) e o relaxamento das restrições deste sábado é encarado como barómetro para se saber a velocidade a que se poderá passar de fase em fase, conforme o nível de contágio, o respeito dos espanhóis pelas medidas de isolamento social e a saturação dos serviços de saúde.
Por agora, quem quiser sair de casa terá de respeitar estritamente os horários estipulados pelo executivo. As pessoas com mais de 14 anos podem sair de casa entre as 6h às 10h, enquanto as de mais de 70 anos podem sair de casa entre as 10h e as 12h, desde que não ultrapassem uma hora lá fora, regressando depois entre as 19h e as 20h. Já os menores de 14 anos, acompanhados por um adulto, podem ficar na rua entre as 12h e as 19h. E, finalmente, entre as 20h e as 23h volta a sair quem tiver mais de 14 anos.
Horários que foram respeitados e, conforme as horas, as ruas e parques ganharam visitantes de diferentes faixas etárias. “Foi uma odisseia. Todos os idosos estão na rua. Todos. Além disso, há pessoas a passear o cão, a irem às compras, adolescentes a comprar batatas fritas nas ruas”, disse Mariluz, reformada de 70 anos, que admite ter encontrado uma Madrid muito diferente da que costumava ver quando ia à farmácia.
Em Barcelona, a rua Aigües, uma das rotas favoritas dos atletas, estava cheia de ciclistas, diz o El País. “Tem sido uma correria. Não contamos, mas talvez já estejam três mil pessoas”, disse um polícia que controla os acessos. “Nunca vi nada como isto. E muitas mais pessoas ainda vão vir”, disse um residente, citado pelo diário espanhol. As imagens são semelhantes em todo o país e, por vezes, a distância de segurança de dois metros é difícil de respeitar, a que se acresce o pouco uso de máscaras pelos residentes.
Parques, ciclovias, passadiços, praias e jardins foram os locais escolhidos pela maioria dos espanhóis para aproveitarem o dia de sol, o primeiro em que puderam sair depois de mais de um mês confinados enquanto assistiam à subida dramática do número de infectos e óbitos no país e no mundo. Espanha tem este sábado mais de 213 mil infectados e 24.543 óbitos, de acordo com a contagem da americana Universidade Johns Hopkins.
O Governo, à semelhança dos seus congéneres europeus, como o português, tem recomendado o uso de máscaras pela população, mas, este sábado, Sánchez anunciou que o seu uso passará, a partir de segunda-feira, a ser obrigatório nos transportes públicos e, para que assim seja, as autoridades vão distribuir 14 milhões de máscaras. O início da fase zerp, a de preparação para o desconfinamento, está agendado para começar já esta segunda-feira.