Covid-19: Ensaios clínicos com plasma humano vão arrancar em dez serviços

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Doação de plasma convalescente no Reino Unido Reuters/KIRSTY HAMILTON/NHSBT

Ensaios clínicos com plasma de sangue de doentes recuperados da covid-19 vão arrancar este mês em dez unidades de saúde distribuídas pelo país, revelou o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST).

Depois de a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, ter anunciado na semana passada a criação de uma “task force nacional” para realizar um ensaio clínico alargado para perceber se o uso de plasma humano é seguro no tratamento da infecção pelo SARS-CoV-2, o coronavírus que provoca a covid-19, o IPST já avaliou as capacidades técnicas e logísticas dos serviços de imuno-hemoterapia para a colheita por aférese, um procedimento que permite separar os diferentes componentes do sangue.

“Não só os três Centros de Sangue e Transplantação do IPST - Lisboa, Porto e Coimbra - realizarão esta colheita, como também três serviços de imuno-hemoterapia na região Norte, um na região Centro e três na região Sul”, afirmou a presidente do Conselho Directivo do IPST, Maria Antónia Escoval, em resposta enviada à Lusa.

Além da identificação destes dez serviços, o IPST garantiu já ter definido um procedimento e “as directrizes para a selecção de dadores, colheita, análise, processamento, armazenamento e distribuição de plasma convalescente” aos serviços dos hospitais, onde os médicos e as equipas prescritoras vão ter a responsabilidade da realização dos ensaios.

“Durante o mês de Maio proceder-se-á ao recrutamento voluntário de doentes convalescentes e à sensibilização dos mesmos através dos médicos assistentes”, esclareceu Maria Antónia Escoval. “Em simultâneo, um grupo de trabalho, no âmbito do Ministério da Saúde, definirá os critérios mínimos de inclusão e exclusão dos doentes para entrarem em ensaios clínicos”.

Ensaios com plasma humano para tratar doentes com covid-19 já tiveram lugar na China e em Itália, denotando resultados promissores, apesar de terem um âmbito restrito. Em Portugal, o arranque do ensaio vai ser feito através de um apelo aos doentes recuperados para a dádiva - embora o IPST tenha admitido que “não é a única” solução disponível --, sendo que a demonstração de vontade de participação poderá ser feita pela internet.

Questionada sobre a existência de riscos associados à transfusão de plasma convalescente para doentes com covid-19, como um hipotético aumento do risco de infecção reportado em casos raros no tratamento de outras patologias, a presidente do Conselho Directivo do IPST vincou que “os benefícios parecem superar os riscos” e que a minimização destes riscos “está associada à selecção dos dadores”.

No lançamento dos ensaios clínicos com plasma anunciados pela Direcção-Geral da Saúde estão ainda envolvidos o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e o Infarmed. 

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infectou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 1007 pessoas das 25.351 confirmadas como infectadas, e há 11647 casos recuperados, de acordo com a Direção Geral da Saúde.