Saudades das buzinas de Nova Deli

Harpreet Singh Aurora, director adjunto do Centro Cultural Português de Nova Deli, está a caminho do 40.ª dia de confinamento. E recorda a falta das caminhadas no Parque de Sanjay Van.

É cómico ler ou ouvir falar as pessoas que por estes dias juram ter novas resoluções na vida como se tivessem tido uma outra oportunidade de tentar concretizar as suas resoluções inacabadas de Ano Novo. Infelizmente, este replay aconteceu na vida de todos e de todas por causa da covid-19, que se espalhou por países desenvolvidos e em desenvolvimento, entre todas as religiões, castas, raças e classes. Existe aqui uma mensagem oculta para a humanidade? Não sei, eu não sou um pregador.

Eu moro em Nova Deli, capital da Índia, e queixava-me com frequência de morar numa cidade metropolitana que é amplamente conhecida como uma das mais populosas e poluídas do mundo e em que o céu nebuloso era o normal. O novo normal agora é o céu azul, devido à poluição reduzida, que é desconcertante, mas bem-vindo. Já aquele mar de pessoas, o tráfego intenso, as buzinas, francamente, nunca me tinha apercebido que faziam parte de nossas vidas desta forma e que um dia eu teria saudades disso. Provavelmente, nesta fase de nossas vidas, tornou-se mais um sinal de que estamos vivos do que um sinal de caos.

Espere, não me julgue ainda, eu também sou um amante da natureza. Sinto falta das minhas caminhadas matinais em Sanjay Van, um parque florestal na cidade e perto de minha casa, onde costumava respirar ar fresco, percorrer pequenos riachos, ver pavões e antílopes, visitar o Lal Kot, um antigo forte do séc. XI. Serei capaz de fazer isso de novo?

Hoje é o 35.º dia do confinamento a que estão sujeitos 1,3 mil milhões de indianos e este período de quarentena parece não acabar em breve. As sombras das notícias positivas e negativas vindas de todo o mundo continuam a surgir nas várias esferas da nossa vida. Portanto, nesses tempos de isolamento, para me desligar dos aspectos negativos, simplesmente fecho os olhos e recordo as minhas longas caminhadas pelas colinas dos Himalaias e coloco uma das minhas canções favoritas, We are the world.

Além de trabalhar em casa, estou a aproveitar a oportunidade para participar em seminários online sobre património cultural, sobre os melhores investimentos para a reforma, ler os livros que ainda não tinha lido da minha lista, assistir a filmes online, aprimorar as minhas habilidades culinárias com a família ou, às vezes, simplesmente ficar quieto sem qualquer remorso ouvindo I want to break free. Recentemente, comecei a seguir algumas hashtags apenas para me divertir, compartilhando-as com os meus amigos, #gocoronago. Fique seguro!
 

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