Governo teme que haja menos alunos a entrar no ensino superior
Secretário de Estado do Ensino Superior recomenda aos estudantes que estudem opções de candidatura para escolherem os exames nacionais que vão realizar. Este ano só há provas no ensino secundário nas disciplinas específicas.
O Governo teme que haja menos alunos a entrar no ensino superior neste ano lectivo, devido ao contexto criado pelas medidas de contenção da covid-19, e alerta os estudantes para a necessidade de realizarem provas suficientes para poderem concorrer a vários cursos, num ano em que os exames nacionais vão ter regras especiais em consequência da suspensão das aulas nas últimas semanas.
“Poderemos ter mais pessoas a terminar o 12.º ano, mas depois menos alunos a entrar no ensino superior”, alertou esta quarta-feira o secretário de estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SECTES), João Sobrinho Teixeira, numa entrevista à Fórum Estudante, transmitida em directo na página de Facebook da revista.
Devido à pandemia da covid-19 que levou à necessidade de manter o distanciamento social e à suspensão das aulas presenciais desde Março, o Governo decidiu fazer alterações no acesso ao ensino superior. Este ano, os alunos só precisam fazer exames nacionais no ensino superior às disciplinas exigidas para os cursos a que pretendem concorrer. O secretário de Estado alertou que é preciso estar precavido para o caso de não conseguirem entrar no curso com que sonham: “Os alunos têm de pensar num leque para ter uma abrangência de candidatura, porque algo pode correr mal e depois ficam sem a prova de ingresso”.
Sobrinho Teixeira recomendou aos alunos que perspectivem “o seu futuro e outras alternativas com a realização de provas que permitam esse acesso”. Os estudantes devem assim avaliar quais vão ser as provas de ingresso que vão realizar, escolher a sua primeira opção, mas também as provas necessárias para uma segunda ou terceira opção, reforçou.
Todas as escolas estão encerradas desde 16 de Março e apenas os alunos do 11.º e 12.º ano deverão voltar a ter aulas presenciais ainda este período. Em meados de Maio, os estudantes deverão regressar às escolas apenas para ter aulas às disciplinas a que se propõem fazer exame.
“O nosso sonho seria que houvesse no próximo ano um maior incremento de estudantes”, disse em entrevista à Fórum Estudante. Mas, além do receio de os alunos não fazerem as provas suficientes há ainda duvidas quanto ao eventual impacto económico da pandemia nas famílias. “As nossas grandes preocupações neste momento são perceber qual será a resposta económica do país. Vamos ou não ter jovens a não se candidatar por questões económicas?”, questionou o secretário de estado, garantindo que o Governo tem resposta para estes casos.
Menos carga lectiva no ensino superior
Os alunos do ensino superior devem passar a ter menos carga lectiva, defendeu também o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, lembrando que “Portugal tem uma das maiores cargas horárias semanais”. João Sobrinho Teixeira apontou como um dos impactos da pandemia da covid-19 no ensino superior a percepção de que é possível ensinar com menos carga lectiva, que classificou de “excessiva”.
“Portugal tem uma das maiores cargas horárias por semana” e que a imposição de isolamento social veio trazer um “abanão às aulas presenciais”, afirmou Sobrinho Teixeira. O secretário de Estado entende que deve passar a haver “menor carga lectiva” e as escolas devem começar a “trabalhar com os estudantes recorrendo a outras ferramentas”, num ensino também baseado em projectos. O desafio é conseguir ensinar “de uma forma mais eficaz para que os nossos estudantes possam aprender”.
“Já foi aberto um concurso com fundos comunitários para que esta nova noção de aprendizagem possa ser implementada”, afirmou o secretário de Estado, considerando que este desafio é independente daquilo que venha a ser o impacto futuro da covid-19. Com menor carga lectiva, também os professores do ensino superior podem ficar com mais tempo para a investigação.
Na próxima semana, as actividades presenciais no ensino superior vão começar a ser retomadas gradualmente, com destaque para as aulas práticas, que estiveram suspensas no último mês e meio. Muitas instituições vão continuar a desenvolver ensino à distância e só “no final de Maio e inicio de Junho irão retomar a actividade presencial”, acrescentou o governante.
Sobre as aulas presenciais para os cursos mais práticos, como os de medicina ou enfermagem, Sobrinho Teixeira garantiu que “felizmente os cursos de saúde em Portugal têm uma grande componente prática e muitos dos estudantes já cumpriram o número de aulas práticas recomendadas” internacionalmente. No entanto, o governante assegurou que o objectivo continua a ser o de complementar com mais formação prática.