Metade das árvores da Praça de Espanha ficarão no novo parque
A contabilidade às plantações, transplantes e abates não é fácil de fazer, mas nem só de somas se faz o número de árvores que a câmara promete na praça: 1000.
A Câmara de Lisboa diz que o futuro parque urbano da Praça de Espanha vai ter três vezes mais árvores do que as actuais, mas só cerca de metade das que lá estão se vai manter. A construção de uma nova rede viária e do parque urbano está a originar enormes mudanças na zona e nem todas as árvores têm lugar no projecto, o que tem justificado abates e transplantes para outros locais.
Ainda na semana passada foram abatidas pelo menos 12 árvores na zona do antigo terminal rodoviário, o que levou a um protesto e a um pedido de informação da Plataforma em Defesa das Árvores. O grupo cívico considera que o projecto devia adaptar-se mais ao arvoredo já existente e pediu a Fernando Medina “o número total de abates, transplantes e plantações” da obra.
A contabilidade não é fácil de fazer. Em resposta a perguntas do PÚBLICO, a câmara garante que a Praça de Espanha “passará das 300 árvores existentes antes da intervenção para cerca de 1000 exemplares”, mas nem só de somas se faz este número. Há 81 árvores existentes que não vão sair do sítio, enquanto 84 serão transplantadas dentro da zona da empreitada, principalmente na Rua Eduardo Malta. Isto perfaz um total de 165 árvores pré-existentes que se mantêm.
Dos restantes exemplares, 49 vão ser transplantados noutros locais, à semelhança do que já aconteceu no ano passado. A autarquia diz que as árvores até agora no antigo terminal rodoviário serão postas nas azinhagas dos Barros e das Galhardas e nas avenidas dos Combatentes e Egas Moniz. Estão previstos, ao todo, 133 transplantes de árvores, o que, segundo palavras da autarquia, corresponde a “uma das maiores operações e investimentos de sempre na cidade em transplantes, feita com recurso à melhor tecnologia e conhecimento disponível”.
Em Julho do ano passado foram realizados os primeiros 33 transplantes, incluindo os de 29 árvores de grande porte. Desses, “apenas um dos exemplares de grande porte não sobreviveu”, explica a autarquia, justificando com “uma ruptura da EPAL que deixou a árvore sem rega”. Entretanto, outras 30 árvores jovens também foram mudadas de local e, destas, 24 sobreviveram. “A taxa global de sucesso da empreitada de transplantes é, assim, de 80%”, escreve a câmara.
Árvores jovens é o que se encontra na Rua Eduardo Malta, nas traseiras da Comuna, onde se fará o grosso da operação de transplante agendada para os próximos dias – são 63 espécimes que mudam de sítio. “Os arranjos exteriores desta rua e respectivo ajardinado são muito recentes (2016 ou 2017) e o arvoredo existente é muito novo e ainda em instalação”, lê-se num dos relatórios publicados há dias no site da autarquia. “O transplante destas árvores deverá ser efectuado na época de Outono/Inverno”, alerta a técnica do Núcleo de Arvoredo que assina o parecer. O PÚBLICO tentou saber se esta recomendação vai ser seguida, mas não obteve resposta.
Quanto a plantações, o projecto de alteração da rede viária prevê 214 novas árvores e o do parque urbano contempla 653, o que perfaz um total de 867 novos exemplares.
Numa carta enviada a Fernando Medina na semana passada depois de nas redes sociais terem surgido alertas sobre o iminente abate de várias árvores, a Plataforma em Defesa das Árvores pediu mais transparência. “Torna-se cada vez mais desmotivador, preocupante e perigoso verificarmos não só a crónica e completa discrepância entre o que é projectado e anunciado a 3D com a realidade do pós-obra, como o facto de o cidadão comum se acabar por perder no ‘verde’ de imagens virtuais, nunca sabendo quais as árvores que são na realidade para abater e quais as que são para preservar”, escreveram as activistas Inês Beleza Barreiros e Rosa Casimiro. “Lamentamos a perversidade que é abater árvores para fazer espaços verdes. O imprudente que é, na crise climática que vivemos e quando se sabe que uma árvore jovem não proporciona os mesmos efeitos de árvores adultas, não adaptar os projectos, sobretudo projectos ‘verdes’, às pré-existências.”
A empreitada da rede viária da Praça de Espanha deve estar concluída em Setembro, começando as novas regras de trânsito a aplicar-se em Maio. O parque urbano também deve ficar pronto este ano.