Covid-19: Portugal soma 1,04 casos de contágio em média por cada doente infectado
A partir de uma amostra de 2958 casos de transmissão, a Direcção-Geral de Saúde concluiu que 30% dos contágios ocorreram em casa, na coabitação com doentes infectados. Entre os restantes, 25% ocorreram em lares, empresas e hostels e 9% resultaram de contactos com amigos e familiares não coabitantes.
A mensagem é clara quanto baste: “Não haverá um regresso à normalidade tal como a conhecíamos e temos que nos habituar e aprender a viver com a doença, até que a vacina ou um tratamento eficaz sejam identificados.” Quem o disse foi a ministra da Saúde, Marta Temido, que, na habitual conferência de imprensa da Direcção-Geral de Saúde (DGS), cuidou de lembrar que nem a doença está controlada nem o esperado relaxamento do confinamento admite que possa haver uma menor preocupação com as medidas de prevenção.
“Num momento em que nos interrogamos sobre as condições para o alívio das medidas de contenção e de combate à covid-19”, enfatizou Marta Temido, “mantém-se a necessidade de cumprimento escrupuloso das medidas de saúde pública, como o uso de máscara social quando nos viermos a encontrar em espaços fechados e com um número significativo de pessoas”.
Insistindo que ainda não é este o caso, numa crítica velada ao notório aumento de pessoas na rua, a ministra da Saúde percorreu alguns números sobre a transmissão do coronavírus e, mantendo que continua válido o que se disse antes, isto é, que “a incidência máxima tenha ocorrido entre 23 e 25 de Março”, revelou que o número médio de casos secundários resultante de um caso infectado, medido em função do tempo - o designado Rt - “posiciona-nos agora, com os números de que dispomos para o período entre 16 e 20 de Abril, nos 1.04 casos”.
“Isto mostra-nos que o máximo da incidência da infecção já terá ocorrido e que o número médio de casos secundários está um pouco acima de um”, precisou Temido.
Mas há variações substanciais entre regiões. A análise aos números dos últimos cinco dias, mostrou que o número médio de casos secundários resultantes de um caso de infecção variou entre os 0.99 casos na região Norte e os 1.2 na região de Lisboa e Vale do Tejo”. Na região Centro, cada pessoa infectada contagiou outra pessoa, em média. “O risco de transmissão no tempo mostra que temos situações que não são iguais em diferentes distritos do país e mostram que poderemos precisar de medidas específicas como tivemos num passado recente”, sublinhou a governante, referindo-se à cerca sanitária de Ovar, recentemente levantada.
Reconhecendo que o risco de transmissão “subiu um bocadinho nalgumas regiões”, Marta Temido lembrou que na última vez em que as autoridades fizeram esta análise “o risco situava-se nos 0.95, não sendo então muito divergente entre as regiões”. “Estes números mostram que [o combate à propagação do vírus] depende da nossa acção individual”, insistiu, renovando o apelo a que, agora que o país vai entrar na nona semana desde a detecção do primeiro caso, “tenhamos todos paciência e disciplina e a capacidade de nos adaptarmos ao que é viver com a infecção”.
Maior parte dos contágios ocorre em casa
Quanto aos locais de infecção, a análise da DGS, em colaboração com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, aos números de casos notificados entre os dias 18 e 24 de Abril, num total de 4370 casos, dos quais 2958 tinham indicação quanto ao local de transmissão, revelam que a habitação, mais concretamente a coabitação com infectados, “continuava a ser o principal contexto de transmissão, representando cerca de 30% dos casos”.
Quanto aos restantes, 25% dos casos correspondiam a situações de surto em estruturas como lares, instituições particulares de solidariedade social, dois hostels e uma empresa. A ministra destacou ainda os 9% de casos de transmissão social, derivados “do contacto com amigos, com familiares não coabitantes”.
A ministra da Saúde referiu-se ainda ao número médio de contágios causados por cada pessoa infectada - o conhecido R0 — e revelou que o cálculo do R0 com base na curva epidémica até ao dia 16 de Março situa-o nos 2.08, “podendo o verdadeiro valor situar-se entre 1.97 e 2.19”.
O boletim deste domingo mostra um total de 903 óbitos e 23.864 casos confirmados.
Quebra de 13% na vacinação em Março
Na conferência de imprensa, a Directora-Geral da Saúde, Graça Freitas, alertou para a necessidade de não interromper a vacinação de crianças durante este período, em particular no primeiro ano de vida.
Graça Freitas referiu uma quebra de “cerca de 13%” no nível de vacinação no mês de Março. “Muita dessa quebra está a ser recuperada em Abril”, nota a directora-geral da saúde, apelando a pais e mães para “não atrasar as datas para vacinar”, em particular “no primeiro mês de vida”.
A responsável recordou que o Programa Nacional de Vacinação é universal — “todos têm direito a ser vacinados” — e que 2018 e 2019 foram anos “extraordinariamente bons”, em que “nunca tivemos taxas de vacinação tão elevadas”. “Portugal não tem surtos [de doenças como sarampo ou meningite], mas não podemos deixar de nos vacinar”, sublinhou a directora-geral da saúde. "O apelo aos portugueses é que se vacinem e vacinem as suas crianças.”
Neste período de contenção da pandemia de covid-19, Graça Freitas recomendou agendar a ida ao centro de saúde para vacinação, evitando muito tempo em salas de espera e “acumulação de gente”. “Vamos evitar que, sob uma epidemia de covid, para o ano tenhamos outros surtos”.