De Itália a Espanha. As datas dos países mais afectados para o regresso à normalidade possível
Grande parte dos planos dos governos europeus apontam para um aligeiramento das medidas de restrição para a primeira semana de Maio. Ainda que os cidadãos anseiem por um regresso a uma nova normalidade, quase todos os planos dos Executivos apontam para um retorno lento, cauteloso e por fases.
O continente europeu soma mais de metade das mortes por covid-19 no mundo. Segundo os últimos balanços feitos pelas autoridades de saúde de cada país, mais de 122 mil pessoas morreram infectadas com o novo coronavírus na Europa — em todo o mundo são já mais de 200 mil.
Apesar de todos os países europeus estarem ainda longe de uma realidade em que o vírus já não faz parte do dia-a-dia da população, os números relacionados com a pandemia desta última semana têm sido mais animadores. Em Espanha, Itália e no Reino Unido, alguns dos países mais afectados, o número de novos casos tem vindo a diminuir (ainda que de forma lenta) e o mesmo acontece com o número de mortes diárias.
Estas boas notícias têm dado algum alento aos Governos europeus, que têm estado a preparar, ainda que de forma cautelosa e sempre “por etapas”, um regresso à normalidade — em muito casos, estas primeira medidas vão entrar em vigor no início de Maio.
Espanha — um regresso “lento” a 2 de Maio
Este domingo, o número de mortes diárias em Espanha devido à covid-19 caiu para o nível mais baixo em mais de um mês. Nas últimas 24 horas, registaram-se 288 mortes, menos 90 do que no sábado. Desde o início da pandemia, o novo coronavírus já tirou 23.190 vidas em Espanha. Em 24 horas, registaram-se mais 1729 novos casos — no sábado tinham sido 2944 — totalizando 207.634 infectados.
No fim da tarde deste sábado, o chefe do governo de Espanha, Pedro Sánchez, falou ao país e anunciou que “a partir de 2 de Maio” Espanha vai iniciar um regresso lento à normalidade, isto se a evolução da pandemia “continuar favorável”. O primeiro-ministro anunciou que o Conselho de Ministros decide esta terça-feira um plano para aliviar o confinamento que será executado “gradualmente, assimetricamente e com a máxima “prudência”.
Uma das grandes medidas anunciadas passa pela permissão da realização de exercício físico e de pequenos passeios fora de casa. Sánchez disse que os espanhóis vão poder praticar desporto fora de casa ou passear com as pessoas com quem vivem, sublinhando sempre que se a situação do vírus no país mudar, o Governo terá de rever todo este plano. Até aqui, os espanhóis tinham permissão para sair para comprar comida e medicamentos ou ir ao banco, mas não para fazer exercício.
Apesar de o plano de regresso à normalidade só ser divulgado esta terça-feira, Sánchez adiantou, em conferência de imprensa, algumas pistas. “A redução será gradual, não recuperaremos repentinamente todas as nossas actividades e a nossa mobilidade social. Vamos fazê-lo por etapas”, disse, reforçando que cada campo de actividade económica também reabrirá por fases, como as lojas, restaurantes, as actividades lazer, cultura, desporto e os actos religiosos. “[Esta reabertura] também será assimétrica, dependendo de cada território, porque a epidemia também foi transmitida de maneira díspar”, disse.
Outras das pistas deixadas por Pedro Sanchéz passa por um reforço dos serviços de saúde, principalmente dos cuidados intensivos, uma vez que o país precisa preparar-se para a possível ocorrência de um novo surto do vírus. O chefe do Governo lembrou ainda que o distanciamento social e os cuidados de higiene são para manter, independentemente do tipo de medidas que forem anunciadas.
Ainda assim certeza sobre pontos específicos do plano do Governo de Sanchéz, os espanhóis estão já a assistir a algum aligeiramento das medidas em vigor. A partir deste domingo, por exemplo, as crianças com menos de 14 anos vão poder sair de casa durante uma hora para brincar e fazer pequenos passeios com os pais. O passeio terá de ser feito com a companhia de um adulto, entre as 9h e as 21h, e não poderá ir além de um quilómetro das suas casas. Poderão brincar em áreas verdes, mas não em parques infantis. Esta abertura será para tentar minimizar os possíveis impactos que as rígidas medidas de confinamento social estão a ter sobre as crianças, isto porque até aqui os menores de 14 anos estavam impedidos de sair de casa.
Sánchez pediu às famílias que quando um adulto sair à rua com os mais pequenos ajam com responsabilidade e com “máxima segurança”. Se esta “prudência” for comprovada, algo sobre o qual disse não ter dúvidas, haverá medidas sucessivas de alívio a ser anunciadas nas semanas seguintes.
Itália — “fase dois” entra em vigor a 4 de Maio
Em Itália, o primeiro país europeu a ser fortemente atingido pelo novo coronavírus, algumas fábricas e empresas, desde a indústria à construção, vão poder reabrir ainda esta semana e o objectivo é retomar as actividades laborais a partir de 4 de Maio, disse o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, numa entrevista. A palavra de ordem deste plano continua a ser “faseado”, porque restaurantes e bares vão continuar fechados durante mais umas semanas, até meados de Maio.
O plano é que algumas empresas, consideradas “estratégicas”, incluindo as que estão vocacionadas para a exportação, possam reabrir já esta semana, desde que tenham aval das autoridades locais. “Não podemos prolongar mais este bloqueio... correríamos o risco de arruinar seriamente o tecido socioeconómico do país”, notou Conte em entrevista ao La Repubblica.
O primeiro-ministro italiano sublinhou ainda que, antes de reabrirem, as empresas terão de introduzir medidas rigorosas de segurança sanitária. Do plano de Itália, sabe-se também que as cerimónias religiosas também terão restrições.
Quanto às escolas, o chefe de Governo italiano disse que o plano é reabri-las em Setembro. No entanto, Conte avançou com reservas, referindo-se a estudos que indicam que o risco de contágio continuará a ser alto, dando ainda a indicação de que o ensino à distância parece estar a funcionar.
Horas depois, num anúncio ao país, Giuseppe Conte, avançava com mais algumas medidas que estão incluídas na “fase dois” do plano do Governo italiano. Uma das novidades mais aguardadas era o preço das máscaras, que daqui em diante terá um valor máximo por se terem registado vários “fenómenos especulativos” nos últimos dias. “Teremos um preço justo a pagar pelas máscaras, que não incluirá o IVA. As máscaras cirúrgicas custarão 0,50€”, referiu, citado pelo La Repubblica.
Mesmo durante o anúncio de um aligeirar das medidas em vigor desde 11 de Março em quase toda a Itália, o primeiro-ministro não deixou de frisar que este pequeno regresso à normalidade terá que ser encarado com cautela e tendo sempre em conta a “evolução da pandemia”. “Vamos aligeirar o bloqueio a partir de 4 de Maio, mas queremos manter a situação debaixo de controlo. As regiões terão de nos fornecer a sua curva de contágio e uma actualização diária do estado dos seus serviços de saúde. Se virmos que uma situação está crítica, vamos intervir”, explicou.
Conte pediu aos seus cidadãos para continuarem a respeitar as medidas de isolamento e a manter um metro de distância em relação a outras pessoas. “Se amam a Itália, mantenham a distância”, disse.
Sobre os negócios, Conte avançou que o pequeno comércio será reiniciado a 4 de Maio e o grande comércio a partir de 18 de Maio — 1 de Junho é a data marcada para reabrir bares, restaurantes, cabeleireiros, centros de beleza, barbeiros e centros de massagens. O Governo está ainda a estudar uma data para reabertura do resorts à beira mar. Os museus e as bibliotecas serão reabertos também a 18 de Maio.
Nesta segunda fase, o Governo italiano vai ainda permitir visitas a familiares e abrir parques e jardins públicos já a partir de 4 de Maio.
No campo da actividade física, Conte disse que se poderá realizar desporto, mantendo a distância social de, pelo menos, um metro para evitar contágios, a realização de funerais com um grupo de familiares, até 15 pessoas, sempre que usem máscaras e respeitem a distância, estando para já proibidas as reuniões sociais.
Além disso, está também proibida a saída à rua de pessoas que tenham febre superior a 37,5 graus, que devem ficar em casa, evitar contactos sociais e chamar o médico.
Bélgica — desconfinamento muito gradual a 4 de Maio
A Bélgica vai iniciar a 4 de Maio “um processo gradual de desconfinamento”, sete semanas depois da implementação das restrições para fazer face à covid-19 — o país totaliza cerca de 46 mil casos de infecção e sete mil mortes.
O “plano de desconfinamento” foi adoptado este sábado pelo Conselho Nacional de Segurança e a primeira-ministra, Sophie Wilmès, fez questão de sublinhar que “o vírus continua muito presente e perigoso para a população”, pelo que o processo será acompanhado de medidas de segurança e pode sofrer alterações, em função da evolução da situação.
O processo passará por várias fases, a primeira agendada para 4 de Maio, e que prevê a obrigatoriedade de uso de máscara de protecção por todos os maiores de 12 anos nos transportes públicos. Nesse sentido, Wilmès anunciou a intenção de ser distribuído um meio de protecção a cada cidadão – designadamente uma máscara de pano e dois filtros —, assim como a reabertura de lojas de tecidos, para que seja possível confeccionar máscaras em casa.
O teletrabalho continuará a ser privilegiado para todas as empresas sem contacto directo com o público, e todo o comércio que se encontra encerrado assim continuará.
A segunda parte da “fase um” está prevista para uma semana mais tarde, a 11 de Maio, data em que deverá ser autorizada a reabertura de todo o comércio, mas as orientações de segurança específicas só serão decididas na próxima semana. Nesta fase permanecerão encerrados restaurantes e bares.
A “fase dois” deverá arrancar a 18 de Maio, com a reabertura progressiva e parcial de escolas, a reabertura de cabeleireiros e, eventualmente, de museus. As reuniões privadas em casa com pequenos grupos de amigos e familiares deverão passar a ser autorizadas.
A “fase três”, que terá início no melhor dos cenários a 8 de Junho, deverá ser marcada pela “reabertura potencial e progressiva dos restaurantes”, mas ainda não de bares e cafés, enquanto se estuda a situação da reabertura de cinemas, assim como das viagens ao estrangeiro.
Há várias semanas, as autoridades decidiram interditar a realização de grandes eventos, como os populares festivais musicais de verão, até final de Agosto.
França — normalidade pode regressar a 11 de Maio
À semelhança do Governo espanhol, também o Governo francês apresentará o seu plano de regresso à normalidade depois da quarentena na terça-feira. O executivo levará à Assembleia Nacional um plano para reduzir o grau de confinamento, que está previsto para ter início a 11 de Maio, segundo reportam os jornais franceses. No Twitter, o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, disse que este plano vai focar-se em seis essenciais: saúde pública, escolas, trabalho, negócios, transportes públicos e eventos públicos.
A reabertura gradual das escolas em França está marcada para esse data, e as autoridades de saúde francesas já vieram recomendar que os estudantes dos 11 aos 18 anos usem máscara na escola para conter o contágio do novo coronavírus, assim como os professores. Os franceses estão a viver debaixo de regras de confinamento apertadas desde 27 de Março.
Reino Unido — ainda há poucas certezas
Tendo em conta o número decrescente de hospitalizações dos últimos dias no Reino Unido, as autoridades britânicas estão convencidas de que o país já atingiu o pico da curva epidemiológica, mas têm evitado responder quando vai ser levantado o regime de confinamento decretado há cinco semanas, a 23 de Março.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, que está a substituir o primeiro-ministro, Boris Johnson, enquanto este está ausente em recuperação, argumentou este domingo que a pandemia ainda está numa “fase delicada e perigosa” e que é “irresponsável” especular sobre possíveis medidas para aligeirar o confinamento. Raab assegurou que o Reino Unido vai manter medidas de distanciamento “durante um tempo”.
Sobre as escolas, e acordo com o The Guardian, o sindicato dos directores das instituições de ensino disse que estas não deverão reabrir antes do 1 de Junho. A ministra do Interior, Priti Patel, disse este fim-de-semana que o Governo não vai apontar para uma data porque seria “irresponsável” e criaria “falsas esperanças”. Já Raab disse que seria “inconcebível” enviar as crianças de volta para as escolas sem as “regras de distanciamento físico”.
O governo está sob pressão crescente de políticos conservadores para aliviar as medidas de distanciamento social por causa da preocupação com o impacto na economia e também dos partidos da oposição para publicar o plano para o desconfinamento.
Numa carta divulgada este domingo, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, apelou a Boris Johnson, que estará de regresso a Downing Street esta segunda-feira, para que este faça preparativos rapidamente e que seja transparente sobre o que vai ser preciso fazer. Com Lusa