Mercados da dívida ainda pouco convencidos com decisões dos líderes europeus

Taxas de juro não corrigiram subidas dos dias anteriores. Atenções estão viradas para decisão da Standard & Poor’s sobre rating italiano.

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O entendimento entre os líderes europeus em relação à necessidade de avançar com um plano de recuperação económica na UE não foi o suficiente para aliviar o clima de tensão a que se tem assistido nos últimos dias nos mercados de dívida pública.

Os sinais de deterioração das contas públicas em vários países, os avisos das agências de ratings e o facto de ainda não haver consenso dos líderes em relação às características e dimensão do plano contribuem para que as taxas de juro de países como Itália, Espanha e Portugal continuem a ser colocadas sob pressão.

Esta sexta-feira, a taxa de juro da dívida pública portuguesa a 10 anos fechou, de acordo com os dados disponibilizados pela Reuters, nos 1,1%, em valores próximos dos registados no dia anterior.

O mesmo aconteceu com os outros países da chamada periferia da zona euro. No caso da Itália, o país que tem estado no centro das atenções dos investidores internacionais, a taxa de juro a 10 anos cifrou-se nos 1,83%. Não foram dados portanto sinais de que os resultados da cimeira europeia desta quinta-feira tenham contribuído para aliviar a pressão que está a ser exercida sobre os custos de financiamento dos países do sul.

Pelo contrário, ao início da manhã, as taxas de juro destes Estados-membros revelaram mesmo uma subida, que apenas ao fim da manhã acabou por ser revertida, com a ajuda, de acordo com operadores do mercado citados pela agência Reuters, de um reforço das compras de títulos realizadas pelo Banco Central Europeu.

Há vários motivos para a persistente desconfiança dos investidores em relação à capacidade de a Europa ser capaz de evitar uma nova crise das dívidas soberanas.

Em primeiro lugar, apesar de terem chegado a um acordo relativamente à necessidade de lançamento de um plano ambicioso de recuperação económica, os líderes europeus não fizeram qualquer avanço em alguns dos temas que mais o dividem, nomeadamente de onde virá o dinheiro e como é que irá ser distribuído, através de empréstimos ou de subvenções a fundo perdido.

A Comissão Europeia irá apresentar uma proposta na primeira metade de Maio e será nessa altura que se irá perceber se as antigas divergências entre as capitais se mantêm ou se foram resolvidas.

Depois, as projecções de contracção económica e de deterioração das finanças públicas parecem ter tendência para se tornarem cada vez piores.

Em Itália, o país que neste momento mais concentra as atenções dos mercados, o Governo está, de acordo com as notícias publicadas por órgãos de comunicação social italianos, a apontar para um défice de 10,4% este ano, com a dívida pública a subir até aos 155,7%. Estes valores são ainda mais altos do que os projectados pelo FMI na semana passada.

Por fim, um dos principais receios é que se comece a assistir a uma descida dos ratings atribuídos aos Estados (e aos bancos) da zona euro.

Esta sexta-feira, ao fim do dia, a Standard & Poor’s decidiu manter o rating italiano em BBB, com perspectiva negativa, mas deixou avisos claros sobre o que é que a pode levar a operar uma deterioração da classificação: se a dívida pública, que prevê chegue aos 153% do PIB este ano, “não conseguir entrar numa trajectória descendente clara nos três anos seguintes” ou se “houver uma deterioração marcada nas condições de financiamento que ameace a sustentabilidade das finanças públicas, incluindo, por exemplo, por causa de medidas políticas de apoio insuficientemente fortes ao nível da zona euro”. 

Neste cenário, aquilo que impede que as taxas de juro subam acaba por ser essencialmente o BCE. Para além de estar a realizar compras de dívidas nos mercados, garantindo um nível de procura saudável, o banco liderado por Christine Lagarde anunciou esta semana que poderia continuar a comprar títulos da zona euro, mesmo que estes vissem os seus ratings baixar para o nível “lixo”, uma garantia que contribui de forma decisiva para os bancos europeus possam continuar a contar com acesso a financiamento a taxas baixas no mercado.

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