A luz ao fundo do túnel?
A luz ao fundo do túnel já se vê? Sim! Mas se quisermos “correr” para ela, podemos escorregar e deslizar de novo para dentro do túnel, ficando mais distantes da saída. Pense bem e proteja-se!
Desde dezembro de 2019, altura em que a China comunicou a existência de uma doença respiratória causada por agente microbiológico desconhecido, que o Mundo tem travado uma dura batalha contra este agente (mais tarde apelidado como SARS-Cov-2).
Ao longo destes quase cinco meses, o nosso país passou por diferentes fases. Inicialmente houve uma descontração natural perante uma doença que ocorria lá longe, na China. Depois, chegou a Itália, Espanha, França, Reino Unido, Alemanha e percebemos que iria chegar a Portugal, pelo que a Direção Geral da Saúde procurou preparar a população, disseminando recomendações de alteração de comportamentos habituais, promovendo o distanciamento social, reforçando a importância da etiqueta respiratória e da correta e assídua lavagem das mãos e alertando para a necessidade de não negligenciar qualquer sintoma respiratório, de modo a serem detetados, rapidamente, os possíveis casos desta doença.
No entanto, estas medidas não foram totalmente assimiladas pela população portuguesa, tendo persistido comportamentos de riscos para a disseminação desta doença. E Portugal entrou numa fase de combate ativo contra este agente. Com o avolumar dos casos, a população começou a integrar a necessidade de ter mais cuidado no seu dia-a-dia e de promover os comportamentos indicados pela Direção Geral da Saúde. Os serviços de Saúde tiveram que se reorganizar e passaram a existir centros de atendimento para doentes suspeitos e doentes covid positivos, procurando separar estes utentes de todos os outros que não apresentavam sintomas.
O Sr. Presidente da República, face ao crescente número de doentes positivos, declarou estado de alerta e, posteriormente, foi mesmo obrigado a decretar estado de emergência nacional. Nesse sentido, o Governo Português implementou sérias restrições à liberdade individual, determinando a obrigatoriedade, sempre que possível, do teletrabalho, a proibição das visitas aos idosos institucionalizados em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas e aos utentes internados nos hospitais e o encerramento das escolas, colocando milhares de crianças e jovens em casa e, consequentemente, um dos seus progenitores também. O país, a sua população, a economia nacional e das famílias têm sofrido imenso com a implementação e prorrogação do estado de emergência, medida necessária para uma luta mais eficaz e sustentada contra esta doença e em vigor até 3 de maio de 2020.
Naturalmente, com as semanas de restrição a acumularem-se, com a economia nacional e familiar a ressentirem-se, os sinais de estabilização do número de novos casos de covid-19, o aumento do número de doentes recuperados e a noção que a situação epidemiológica nacional começa a dar sinais de estar quase controlada, começam a surgir sinais de impaciência da população perante a continuidade das medidas restritivas. As pessoas precisam de regressar aos seus empregos, precisam de se encontrar com os seus entes queridos, precisam de retomar as suas atividades de lazer, precisam de sentir que tudo está a começar a regressar à “normalidade”.
O Sr. Presidente da República já afirmou que se começa a ver a luz ao fundo do túnel, num sinal claro de esperança e positivismo, tentando motivar os portugueses para o que ainda falta viver, procurando demonstrar que todo o esforço está a valer a pena e que vai, efetivamente, valer a pena. No entanto, continuou a frisar, e bem, que a luta ainda não terminou e que o mês de abril e maio serão determinantes para o combate a esta doença.
No sentido de se poderem levantar as medidas restritivas, o Governo começou a pensar em formas de permitir o retomar da economia e do trabalho, das atividades letivas presenciais e das creches, das atividades de lazer e da vida em geral, que se encontra suspensa. E é fundamental que esta matéria seja pensada e bem definida. A própria OMS já avisou que existe o perigo real de deitarmos a perder tudo o que conquistamos nestes meses duros, caso se opte por levantar as medidas de restrição antes da situação epidemiológica estar controlada.
Assim, e apesar de parecer que a situação está a ficar mais controlada, não podemos relaxar, sob o risco de voltarmos atrás no tempo, para uma realidade de transmissão comunitária descontrolada, de sobrecarga do nosso SNS, de aumento da mortalidade e de nova necessidade de implementação de medidas restritivas. Precisamos de manter todos os cuidados de distanciamento social, de etiqueta respiratória e de lavagem das mãos, de começar a utilizar máscaras respiratórias no nosso dia-a-dia, sejam cirúrgicas ou comunitárias, e de evitar deslocações desnecessárias, entre outras medidas sociais.
A luz ao fundo do túnel já se vê? Sim! Mas se quisermos “correr” para ela, podemos escorregar e deslizar de novo para dentro do túnel, ficando mais distantes da saída. Pense bem e proteja-se!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico