Milão quer renascer com menos poluição, 35 km de ciclovias e mais espaço para caminhar

A cidade do Duomo já pensa na mobilidade em tempo de pandemia: para “a fase 2” a ideia passa por transporte mais seguro e com menor risco de contágio. Que melhor que as bicicletas e demais veículos de duas rodas?

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Reuters/DANIELE MASCOLO

Uma das cidades e regiões do mundo mais atingida pelo surto do novo coronavírus, e das primeiras em Itália e na Europa, começa a reerguer-se e a preparar-se para o que Marco Granelli, conselheiro para a Mobilidade as Obras Públicas na autarquia de Milão, chama a fase 2, que inclui o Plano Ruas Abertas, anunciado pela autarquia esta terça-feira e considerado um dos planos mais ambiciosos da Europa para a redução do uso do automóvel e aumentar áreas de ciclovias e pedonais, refere o jornal italiano Corriere della Sera.

“Mobilidade em tempo do coronavírus: estamos em emergência e para a fase 2 temos de nos organizar para que todos os que têm que se mover para fazer funcionar a cidade, o façam da forma mais segura e com menor risco de contágio”, escreveu Marco Granelli, conselheiro para a Mobilidade as Obras Públicas na autarquia de Milão, antecipando as linhas gerais do que a capital da Lombardia prepara. E já há plano para melhorar a questão, incluindo reduzir a poluição: dedicar 35 quilómetros a ciclovias. 

“Não podemos ter o metro e os autocarros lotados” e “para evitar termos mais um milhão de carros nas ruas, teremos de fortalecer as duas rodas: mais bicicletas e mais scooters eléctricas, e até trotinetas”. 

Vale tudo para que os transportes públicos circulem com um número de passageiros considerado seguro e para que a cidade não fique a abarrotar de veículos só com um passageiro. Incluindo, avança ainda, mais meios de partilha de veículos. 

Pelos cálculos do especialista em mobilidade urbana em Milão, o metro terá de ser reduzido a uns “25-30%” de capacidade, sendo que diariamente transportava “cerca de 1.400.000 pessoas”. 

Para conseguir segurança nos transportes, Granelli refere que será necessário uma “forte colaboração entre instituições, cidadãos e empresas”, teletrabalho ou diversificação de horários e “redução do número de deslocações e barrar os horários, diminuindo as horas de ponta”. 
 
O Plano Strade Aberte irá também impor velocidades máximas de 30 km/h na cidade.

Capital industrial da Itália, Milão e a região é um dos pontos de maior poluição do país. Segundo medições do satélite europeu Sentinel-5p, a Agência Espacial Europeia concluiu que as concentrações no ar de dióxido de azoto, entre 13 de Março e 13 de Abril, baixaram em média 47% em Milão
 
"Queremos reabrir a economia, mas temos de fazê-lo sobre uma base diferente de antes”, disse ainda Granelli, citado pelo Corriere della Sera. “Devemos imaginar Milão de uma forma diferente. E quando tudo tiver terminado, as cidades que deram um passo como este estarão em vantagem. E Milão quer estar nessa categoria”.

“O plano de Milão é extremamente importante porque estabelece um bom manual de como as cidades se podem refazer”, comentou ao The Guardian Janette Sadik-Khan, que antes foi comissária de transportes em Nova Iorque e agora colabora com cidades com Milão ou Bogotá na renovação dos seus programas de transporte. 

“É uma oportunidade única para olhar com outros olhos para as ruas e garantir que elas estarão preparadas para alcançar os resultados que queremos alcançar: não apenas movendo carros o mais rapidamente possível do ponto A ao ponto B, mas fazendo com que seja possível que todos se possam locomover com segurança”.

O plano de Milão já corre mundo e poderá mesmo influenciar muitas cidades em busca de renovação e reinvenção rápidas. 

A mais jovem e célebre activista ecológica dos nossos dias não perdeu tempo a destacar o plano de Milão, via Guardian, no seu Twitter.

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