Vómitos, diarreia ou urticária: os sintomas “invisíveis” da covid-19

Os sintomas mais comuns em Portugal são tosse, febre, dores musculares, cefaleia, fraqueza generalizada e dificuldade respiratória. Mas há outros que começam a surgir associados a um quadro de covid-19. Em Espanha, começa a alertar-se para a os vómitos, diarreia ou urticária.

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Em Portugal, 52% das pessoas com infecções confirmadas tiveram tosse PAULO PIMENTA

Ainda há muito que não se sabe sobre a covid-19 e uma dessas coisas é a extensão dos possíveis sintomas que lhe estão associados. Os mais comuns são mesmo a febre, a tosse e as dificuldades respiratórias, de acordo com os boletins diários da Direcção-Geral da Saúde portuguesa, mas há outros sintomas que também começam a ser associados à doença noutros países e que até agora foram descartados — entre eles a diarreia e a urticária.

Mas vamos por partes. Os sintomas mais comuns em Portugal, de acordo com os dados da DGS desta quarta-feira, que correspondem a 82% dos casos confirmados, são a tosse (que 52% das pessoas com infecções confirmadas demonstra ter tido), febre (37%), dores musculares (27%), cefaleia (25%), fraqueza generalizada (20%) e dificuldade respiratória (15%).

Não é de estranhar que este seja também o leque de sintomas mais comuns para identificar casos de possível infecção pelo SARS-CoV-2 e para decidir quem testar. Quando se faz o questionário no site SNS24, que serve para encaminhar possíveis casos de infecção e evitar sobrecarregar a linha, percebe-se que, para além da febre (acima dos 38ºC) e tosse (seca ou que tenha desenvolvido expectoração), se apresentam outros sintomas ou condições que poderão ajudar no diagnóstico, numa extensa lista — entre eles vómitos e diarreia.

De facto, vómitos, diarreia e até urticária são sintomas que têm passado despercebidos, mas que são cada vez mais associados a um diagnóstico de covid-19. E os especialistas começam a advertir para esses “sintomas invisíveis”, numa altura em que vários países europeus se preparam para levantar medidas de confinamento. Se forem ignoradas, pessoas com estes sintomas (ou até sem sintomas nenhuns) poderão ser os catalisadores de novas cadeias de transmissão activas.

Em Espanha, começa a dar-se o alerta. “Desde o princípio” que estes sintomas se revelam, avalia Ricardo González, director do centro de saúde de San Fermín, em Madrid, em declarações ao El País.

“Quando chega alguém assim, mandamos para a zona de cuidados respiratórios [ou seja, para as áreas dedicadas covid-19]”, diz o mesmo médico, apesar de admitir que não há protocolos para encaminhar essas pessoas que não têm os sintomas mais comuns.

Perda de olfacto ou dor no peito: dois sintomas a não ignorar

Os sintomas menos conhecidos da covid-19 e as suas implicações na testagem serviram de mote para um editorial da revista médica British Medical Journal, publicado na semana passada. Conhecer os sintomas é fundamental para saber quem testar e, em última instância, controlar o vírus.

Os sintomas de “doença respiratória grave” como febre, tosse ou dificuldades respiratórias são normalmente usadas pelos clínicos para perceber quem deve fazer o teste. “Esta estratégia usa a apresentação sintomática mais típica, mas não é capaz de identificar manifestações menos usuais, como doentes sem sintomas respiratórios ou apenas com sintomas pouco graves”, lê-se no editorial.

Os seis autores do editorial citam estudos que apontam para que 2% a 40% dos doentes com covid-19 tenham sintomas gastrointestinais — sendo que a diarreia costuma ser uma das manifestações iniciais.

Foram também identificadas alterações no olfacto ou paladar em 53% de uma pequena amostra em Itália. Por causa disso, a perda do olfacto (anosmia) está a ser proposta como um critério para que se faça o teste, especialmente junto de pessoas mais novas que não apresentam outros sintomas. É que, apesar de assintomáticas, estas pessoas continuam a transmitir o vírus.

Mas há também sintomas neurológicos associados ao diagnóstico com covid-19 — das tonturas ao derrame cerebral  e outras complicações associadas ao sistema cardíaco  de arritmias a inflamação do miocárdio. “A dor no peito deverá alertar clínicos para a possibilidade de covid-19”, lê-se no mesmo editorial.

Também os sintomas oculares da hiperemia conjuntival ou o aumento de secreções oculares são razões de alerta, lê-se na mesma revista, que salienta que 32% dos doentes de uma pequena amostra na China tiveram também esses sintomas.

Uma questão de olho clínico

Sem protocolos, os médicos espanhóis estão a identificar estes casos com base na sua própria experiência, o que poderá levar a diagnósticos diferentes. “Ainda estamos a aprender como se comporta o vírus”, diz o pediatra Aser García Rada ao El País.

 “Há cerca de um mês relacionou-se a anosmia com o vírus; há 15 dias alguns colegas começaram a advertir para a urticária. O problema é que a extensão e a intensidade dos sintomas são muito amplas”, lamenta. E ignorá-los poderá ter consequências graves.

Por isso, o conselho deste pediatra é que se trate “qualquer infecção aguda como possível caso de covid-19 até que se conseguia descartar com um teste”.

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