Portugal utilizou pouco os fundos europeus para a acção climática
A realidade no país não difere da dos restantes Estados-membros. Novo ciclo de fundos estruturais deve trazer uma realidade bem diferente, pedem associações ambientalistas.
Os países da União Europeia recorreram muito pouco aos fundos que esta disponibilizou para intervenções relacionadas com a acção climática. Em média, os Estados-membros mobilizaram apenas 9,7% dos Fundos de Coesão e Desenvolvimento Regional da UE destinados a financiar, no período 2014-2020, infra-estruturas de energia limpa. Portugal saiu-se bem na utilização dos fundos destinados a infra-estruturas públicas, mas só utilizou 7,7% dos fundos no investimento em energias renováveis, eficiência energética e em investigação e inovação que tinha à disposição, diz um relatório agora divulgado.
O relatório Climate and energy transition: the untapped potential of EU funds (Transição climática e energética: o potencial inexplorado dos fundos da UE), elaborado no âmbito do projecto Life Unify, que congrega várias associações europeias com o objectivo de ajudar os Estados-membros a realizarem a transição energética, conclui que estes têm sido “lentos em apoiar os seus compromissos climáticos com os fundos europeus”, sintetiza, em comunicado, a Zero, a representante portuguesa do projecto.
Na análise feita à utilização de fundos por parte dos 27 Estados-membros, Portugal aparece como aquele que utilizou a maior percentagem da verba destinada a investimento nas infra-estruturas públicas - cerca de 85% dos fundos -, mas isto não impede que a avaliação final aponte para uma “reduzida” utilização dos apoios europeus, já que quando se olha para o outro prato da balança - os fundos destinados a investimento em energias renováveis, eficiência energética e em investigação e inovação - não fomos além de uma utilização de 7,7% do valor disponível.
Filipa Alves, da associação ambientalista Zero, encontra razões para o país, e os restantes Estados-membros, estarem a usar muito pouco estas verbas. “Muitos destes fundos começaram em 2014, numa altura em que estávamos a começar a ter mais fenómenos extremos na Europa e em que ainda não estávamos tão cientes que as mudanças climáticas estavam a começar a bater à nossa porta”, diz. Além disso, lembra, atravessámos no período analisado a grave crise económica e financeira. “E nessa altura estávamos a pensar noutro tipo de problemas, mais relacionados com a subsistência”, acrescenta.
Hoje, o desejo dos que integram a Life Unify é que a utilização dos fundos que estarão disponíveis no período 2021-2027 possa ser muito diferente da que agora foi conhecida. E até a actual situação atípica causada pela pandemia de covid-19 pode contribuir para isso, argumenta a responsável da Zero. “Os países têm de perceber que este é o momento de apostar, porque a acção climática traz muito emprego”, defende Filipa Alves.
E, por isso, a Zero e Rede Europeia da Acção Climática (CAN Europa), que coordena o projecto Life Unify, querem que o orçamento da UE para 2021-2027 dedique 40% do seu valor à acção climática. E Portugal, defendem, terá mesmo de investir mais nas energia renováveis, na mobilidade eléctrica, na economia circular e na adaptação às alterações climáticas. A começar pelos municípios e comunidades intermunicipais que, segundo o relatório agora apresentado, “devem estar no lugar do condutor das medidas de mitigação e adaptação às alterações climáticas, na transição para economias sustentáveis.”