Um mês depois, TVI avança com Big Brother em duas fases — quarentena e depois o velho confinamento na casa

Reality show torna fase de quarentena e testes em programação televisiva. Há mais gente a ver televisão, mais preocupações sanitárias e as equipas técnicas vão trabalhar de forma diferente — como se faz um Big Brother em contexto de pandemia?

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DANIEL ROCHA

Um mês depois de adiar a estreia da sua grande aposta Big Brother 2020 devido à pandemia da covid-19, a TVI anuncia o regresso do reality show já no dia 26 de Abril — num contexto único e tornando a fase de quarentena e testes em programação televisiva. As mesmas preocupações sanitárias que precipitaram o adiamento do programa que confina mais de uma dezena de pessoas numa casa tornaram-se agora parte integrante do formato, que acompanhará numa primeira fase uma quarentena de 14 dias e dois testes dos concorrentes ao novo coronavírus. “Tivemos que nos ajustar”, diz Nuno Santos, director de programas do canal.

No horário nobre de domingo, dia 26, a TVI estreará então o Big Brother 2020 numa versão quarentena: não só porque se chamará à primeira fase do programa BB Zoom, como a plataforma tão usada neste mês de mudança e isolamento social para reuniões, encontros e entrevistas, mas também porque os concorrentes “estarão a cumprir a quarentena” de acordo “com as instruções das autoridades sanitárias”, explica Nuno Santos esta segunda-feira numa conversa com os jornalistas (precisamente via Zoom).

Os concorrentes, que previamente já estiveram em isolamento social, aparecerão à conversa entre si mas também com o apresentador Cláudio Ramos, subtraído à SIC na guerra das audiências para apresentar o Big Brother, “cada um no seu apartamento [numa espécie de aparthotel] na Grande Lisboa”. É um Big Brother com “dois andamentos” e nesta primeira fase o isolamento individual dos concorrentes “gera conteúdo”, diz Nuno Santos.

Ao fim desses 14 dias, os concorrentes terão feito dois testes à covid-19 para garantir que podem passar à casa do Big Brother na Ericeira e entrar então no formato mais parecido com o programa que em 2000 deu a vitória na guerra das audiências em Portugal à TVI e mudou o rosto da televisão nacional. “Precisamos de ter a certeza absoluta de que no momento em que entram na casa todos estão de perfeita condição de saúde”, diz Nuno Santos, dizendo que o processo será acompanhado por “uma empresa certificada” para assegurar o cumprimento das directrizes da Direcção-Geral de Saúde antes de entrarem no confinamento que caracteriza o programa.

Questionado pelo PÚBLICO sobre se a dimensão de risco que motivou o adiamento do programa há um mês está mesmo eliminada, Nuno Santos responde: “Sentimos que tomámos a decisão certa naquele momento, a decisão que se impunha em função das circunstâncias e até do desconhecido que tínhamos pela frente, que fizemos tudo o que tínhamos de fazer neste período e que temos o processo controlado”. Podiam ter optado por não fazer da quarentena também programa? “Podíamos, mas avaliámos e tomámos esta decisão.”

50 “olhos” robotizados

É um contexto novo para um reality show que atraiu tantos espectadores quanto críticas desde a altura da sua invenção na Holanda e chegada a Portugal. Também nos bastidores o programa mudou. Se há 20 anos era feito com operadores de câmara escondidos nas paredes além de câmaras isoladas, hoje tem mais de 50 “câmaras inteiramente robotizadas, controladas a partir de uma régie por um número muito restrito de pessoas”. Ainda assim, o Big Brother 2020 envolve “uma equipa de cerca de 150 pessoas” e se algumas “estarão nas próximas semanas em teletrabalho, outras estarão on location devidamente separadas”, explica Nuno Santos.

A evolução da covid-19 em Portugal faz já parte da história deste regresso ao Big Brother mas o contexto televisivo é também diferente, desde a forma como em poucas semanas a linguagem televisiva passou a integrar imagens de Skype, WhatsApp ou Zoom no entretenimento ou nos noticiários, até ao aumento histórico do consumo de televisão em Portugal (e nos países afectados pela pandemia e onde há confinamento voluntário). “Temos a produção de ficção — todos, e não só a TVI — parada há mais de um mês. Isso tem impacto nas produções a decorrer, nas que se preparavam para entrar em gravações. Toda esta cadeia está alterada”, recorda o director de programas na tarde desta segunda-feira, e é preciso ter soluções na manga.

E se no início do estado de emergência os portugueses viram notícias religiosamente, agora parecem estar a voltar-se para outros temas. É nesse contexto que Nuno Santos reflecte sobre se o contexto da pandemia tornou aquele que apelida de “programa do ano” ainda mais importante (e numa altura em que a SIC continua a consolidar a liderança roubada à TVI em 2019).

“Para a TVI é melhor ter o Big Brother, mas não o podíamos fazer a qualquer preço. Também gostava de transmitir o Euro 2020 mas sensatamente a UEFA adiou [o campeonato europeu de futebol] para o próximo ano”, admite e compara. O director de programas da estação de Queluz aponta que nas últimas semanas há uma “apetência crescente do público por programas de entretenimento — episódios de novela, concursos, cinema. Esse movimento parece estar a ganhar ainda mais consistência. Pode existir uma apetência do público para seguir um conteúdo como o Big Brother pelas suas características.”

O programa vai ter, como na sua versão inicial, um programa-âncora ao domingo e um outro programa, de segunda a sexta-feira, em late night, e um compacto ao sábado. Há conteúdos digitais planeados e duas incógnitas pairam sobre o Big Brother 2020: como reagirá o público, 20 anos e dezenas de reality shows depois (na TVI, SIC e mundo fora), e o que permitirão em Maio as restrições sociais em torno da pandemia, nomeadamente em termos de junção de público em estúdio — e da aproximação do formato e do mundo de 2000 ao de 2020.

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