Covid-19: Trump anuncia plano em três fases para os EUA regressarem à normalidade

Presidente dos EUA recua e em vez de ordens aos estados faz recomendações para o regresso à normalidade.

Foto
Donald Trump com Anthony Fauci EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quinta-feira à noite um plano de três fases para reabrir a economia, apesar de o país ainda lutar contra a pandemia da covid-19. Trata-se de um itinerário de três fases com recomendações aos estados para darem início da uma “trajectória de reabertura” quando a curva do número de casos começar a descer e assim permanecer durante 14 dias.

“Não vamos abrir tudo ao mesmo tempo, vamos dar passos cuidadosos, um passo de cada vez”, disse Trump, que há dias dissera pretender reabrir a economia americana “com um grande estrondo”.

O plano é um conjunto de recomendações, não são ordens. E nesse sentido, representa um recuo de Trump que, na segunda-feira, insistiu que tinha total autoridade para ordenar a reabertura ou o isolamento dos estados. Na verdade, essa decisão pertence aos estados, não à autoridade federal.

Mas com o ónus nos governadores, o plano também dá cobertura ao Presidente Trump, caso o regresso à normalidade corra mal. O Presidente, que se recandidata pelo Partido Republicano nas eleições presidenciais de Novembro, tem enfrentado críticas por, na primeira fase da pandemia, ter minimizado a doença e os seus efeitos.

As recomendações que fez na quinta-feira à noite foram criticadas por Ron Klain, que geriu a resposta da Administração Obama ao ébola e foi conselheiro do vice-presidente Joe Biden, o provável candidato democrata nas presidenciais.

“Isto não é um plano. É um powerpoint sofrível”, escreveu Klain no Twitter, sublinhando que Trump nada disse sobre aumentar o número de testes à covid-19 ou sobre estabelecer-se uma meta para o número de casos antes de a economia ser reaberta.

Os democratas, por exemplo a presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e Joe Biden, têm dito que fazer mais testes é um passo fundamental para a reabertura das actividades e têm criticado Trump por nunca ser específico no que diz.

“Não lhe chamaria um plano. Penso que o que ele fez foi jogar à defesa”, disse Biden numa entrevista à CNN.

As novas directivas puseram fim, pelo menos para alguns estados, às ordens de confinamento dadas há 30 dias pelo Governo federal e que deviam estar em vigor até ao final de Abril. Os estados que cumprirem o estipulado podem passar à fase um da reabertura já nesta sexta-feira, disse Trump. Cerca de 29 estados estão em condição de o fazer, acrescentou o Presidente.

Mas antes de o fazerem, diz o plano, os hospitais têm que ter um “plano forte de testes” que inclua testar os trabalhadores do sector da saúde.

Os estados devem ainda ter capacidade de testar pessoas com sintomas da doença e ter mecanismos para fazer o rastreio de contactos aos casos positivos. Centros de saúde e hospitais têm ainda que ter capacidade para assegurar que têm equipamento de protecção e gerir novos surtos que venham a surgir, diz o documento.

Na fase um do desconfinamento, diz o plano, devem-se evitar ajuntamentos de mais de dez pessoas e as viagens não essenciais devem ser evitadas. O teletrabalho deve ser encorajado e as zonas sociais das empresas e escritórios devem ficar fechadas.

Nessa fase um, as escolas devem permanecer fechadas, mas teatros, cinemas, restaurantes, estádios e locais de culto podem abrir “com rigorosos protocolos sobre distâncias de segurança”. Os hospitais podem retomar algumas cirurgias e os ginásios podem reabrir, “mediante novos protocolos”. Os bares devem ficar fechados.

A fase dois deve entrar em vigor quando “não houver recaídas”, ou seja quando ficar claro que não há novos surtos. E nessa altura devem ser proibidos os ajuntamentos de mais de 50 pessoas, as viagens não essenciais podem ser retomadas, escolas podem recomeçar as aulas e os bares podem reabrir as portas. Os hospitais podem começar a fazer todas as cirurgias que “são essenciais” para os seus orçamentos, diz o documento.

A fase três diz que se pode começar a funcionar de forma normal nos locais de trabalho, mas Deborah Birx, coordenadora da equipa da Casa Branca para o coronavírus e médica, diz que “o novo normal” deve continuar presente no comportamento de todos: manter os hábitos de higiene adoptados durante a pandemia para evitar a disseminação do vírus.

A Casa Branca sublinhou a participação de Birx e do médico especialista em doenças infectocontagiosas Anthony Fauci, neste plano, assim como de Robert Redfield, director do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças. Trump não se cansou de lhes agradecer.

Donald Trump tem insistido na necessidade de reabrir a economia dos Estados Unidos, depois de a pandemia ter deixado milhões de americanos sem trabalho. Mais de 20 milhões pediram subsídio de desemprego num mês e mais de 90% dos trabalhadores estão com ordens para ficar em casa.

“Um confinamento prolongado aliado a uma depressão económica forçada pode causar um dano grande na saúde pública”, disse Trump, acrescentando que há também o risco de aumentar o abuso de drogas, álcool, de suicídios e de ataques de coração.