Apenas um quarto dos profissionais testados à covid-19 fizeram a análise nas primeiras 24 horas
Este é um dos resultados do último estudo da Escola Nacional de Saúde Pública dedicado aos profissionais de saúde. Inquérito revela ainda que 60% dos casos suspeitos de infecção não foram submetidos a vigilância activa.
São alguns resultados do último estudo do Barómetro Covid-19, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), dedicado aos profissionais de saúde: 60% dos casos suspeitos de infecção não foram submetidos a vigilância activa e entre os profissionais testados apenas um quarto realizou análise nas primeiras 24 horas após a primeira suspeita de terem a doença. Os profissionais também reportam grandes níveis de ansiedade e muitos falam em ausência de apoio dos serviços de saúde ocupacional.
O questionário, dirigido a profissionais de saúde, recolheu 4212 respostas entre os dias 2 e 10. Dos inquiridos, 36,7% trabalham em áreas dedicadas ao tratamento de doentes ou suspeitos covid-19 – nos cuidados primários (39,1%), urgências (31,8%), enfermarias (21,7%) e cuidados intensivos (12,6%) – e 19,5% em outros locais.
De acordo com os resultados, foram detectados 13,6% de casos suspeitos de infecção entre os profissionais de saúde, sendo a maioria enfermeiros (35,1%) e médicos (18,9%). Mas “apenas 38,6% foram submetidos a vigilância activa por parte das entidades responsáveis”, fossem elas a saúde ocupacional ou as autoridades de saúde.
O inquérito da ENSP revela que entre os profissionais que trabalham em áreas de doentes de covid-19, “somente 40% foram vigiados de forma activa” e que 34,1% não realizaram automonitorização diária dos sintomas, apesar das indicações do Direcção-Geral da Saúde nesse sentido.
Quanto aos profissionais testados (73,3%), “apenas um quarto realizou o teste nas primeiras 24 horas, tendo quase 30% realizado o teste mais de 72 horas após a suspeição, inclusivamente alguns trabalhando em área dedicada a doentes (ou suspeitos) de covid-19”, refere a ENSP. Foram detectados 64 profissionais de saúde com resultado positivo.
“A realidade concreta aponta para que mais de 10% de todos os infectados sejam profissionais de saúde, que para além de constituir um grupo de risco específico quando a doença é contraída na prestação de cuidados aos doentes pode, na actual fase pandémica, também constituir um potencial risco para os seus contactos”, diz Florentino Serranheira, coordenador executivo do estudo, no comunicado emitido pela ENSP.
O último balanço da Direcção-Geral da Saúde, dados referentes à sexta-feira passada, dava conta de 1849 profissionais de saúde infectados. Destes, 488 são enfermeiros, 276 são médicos e 1085 são de outras profissões da saúde. Nesse dia, o país contabilizava 15.987 casos positivos, fazendo com que os profissionais de saúde representassem 11,5% do número total de infectados.
Relativamente às condições de trabalho, 38,4% dos inquiridos apontaram a ausência de apoio dos Serviços de Saúde Ocupacional. Para Florentino Serranheira, isso “é revelador das fragilidades organizacionais em saúde ocupacional, ou mesmo a sua inexistência”.
Disponibilidade de equipamentos é moderada
O inquérito quis também conhecer a visão dos profissionais de saúde quanto à disponibilidade de equipamentos de protecção individual, como luvas, máscaras ou viseiras. Para 47,7%, essa disponibilidade é classificada como moderada e 30,5% considera que é insuficiente. “Quando analisadas as respostas dos profissionais que se encontram em áreas covid-19, quase metade dos profissionais considera a disponibilidade destes equipamentos mais adequada, sendo considerada insuficiente em apenas 24,7%”, refere o comunicado.
Os efeitos da pandemia também se fazem sentir a outros níveis. “A presença de fadiga é referida como moderada a elevada por 76,7% dos profissionais, que, apesar do elevado nível de pressão em que se encontram, ainda se sentem em condições para tomar decisões rápidas no contexto da prestação de cuidados (87%) e afirmam poder contar com um bom suporte dos colegas (84,6%).”
No entanto, aponta o estudo, “apenas 2,2% dos respondentes apresentam níveis de ansiedade normais, com mais de dois terços dos inquiridos (68,8%) a apresentar ansiedade acima dos considerados normais”. “São os médicos o grupo de profissionais de saúde com maiores níveis de ansiedade, ainda que essa diferença não seja significativa”, aponta a ENSP, que refere que o grupo de investigação da saúde ocupacional vai lançar um novo questionário dedicado aos profissionais de saúde na quinta-feira.