Negociações para pacto de regime pós-coronavírus arrancam com Sánchez e Casado de costas voltadas
Presidente do executivo espanhol avança com rondas bilaterais sem acordar reunião com o líder da oposição. PP cresce ligeiramente nas sondagens e a maioria dos espanhóis quer apoio dos partidos à estratégia do Governo para a contenção da covid-19.
Os planos de Pedro Sánchez para um pacto político alargado, tendo em vista a reconstrução económica e social de Espanha, pensado para o pós-pandemia, vão mesmo avançar, apesar de o presidente do Governo espanhol não ter sequer chegado a acordo com o líder do maior partido da oposição para uma reunião exploratória sobre o tema.
Pablo Casado rejeitou falar a sós com o socialista nesta semana, reforçando o estado de desconfiança dentro do Partido Popular (PP) para com as intenções do executivo e criticando a sua gestão da crise sanitária em Espanha.
O líder do PP também não gostou de saber através de uma conferência de imprensa da porta-voz do Governo que Sánchez iria manter a agenda das conversas bilaterais com os partidos representados no Congresso dos Deputados – que se iniciam na quarta-feira, por videoconferência, com Inés Arrimadas, do Cidadãos.
Num comunicado, os populares informaram que a reunião, a acontecer, será agendada para a próxima semana, uma vez que a prioridade devem ser os “planos de choque urgentes” de combate à covid-19 e não “planos a médio prazo”.
“Se quiser pactuar algo, coisa que duvido, façamo-lo publicamente no Congresso”, desafiou ainda Casado, esta quarta-feira, no Parlamento espanhol. “Não nos meta no seu teatro de marionetas (…). O senhor não é o rei, apesar de nos convocar para uma ronda de consultas. A representação da soberania nacional está no Parlamento”.
Perspectivando a crise financeira que se avizinha por causa dos efeitos nefastos das medidas de contenção do novo coronavírus, tomadas por vários países, no emprego e na economia, o presidente do executivo e líder do Partido Socialista (PSOE) propôs uns novos “Pactos da Moncloa” – numa referência ao compromisso interpartidário de 1977, desenhado para combater o desemprego e a inflação dos primeiros anos de democracia em Espanha –, que junte as vontades de partidos políticos, governos autonómicos, sindicatos e entidades patronais.
Mas o PP – e alguns partidos independentistas bascos e catalães, para além do Vox – defende que Sánchez apenas quer obter ganhos políticos com a enunciação deste plano e não pretende levar a sério as propostas dos partidos.
“A vontade de pactuar de Pedro Sánchez não é credível”, referiu o partido, no comunicado. “A base para qualquer acordo é a confiança, mas ninguém confia [em Sánchez]. Já enganou tanto e tanta gente que nem os seus próprios sócios acreditam nele”, acrescenta, denunciando desentendimentos entre PSOE e Unidas Podemos, parceiros de coligação.
Partidos devem apoiar Governo
Casado tem sido um dos principais críticos da gestão levada a cabo pelo Governo de uma crise que atingiu duramente Espanha. Já morreram quase 19 mil pessoas com covid-19 e há registo de mais de 177 mil infectados.
A última sondagem do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), publicada esta quarta-feira, já reflecte o impacto da crise sanitária na apreciação que o eleitorado faz do papel do poder político. Quase 48% dos inquiridos avalia negativamente a resposta do Governo, contra perto de 47% que a valoriza. Mas 46,6% da amostra (3 mil pessoas) acredita que a gestão seria “praticamente igual” se o executivo fosse liderado por Casado.
Ainda assim, uma maioria avassaladora dos inquiridos defende que é necessária uma união de todos os partidos em redor do Governo no combate ao vírus. Mais de 87% acha que a oposição deve colaborar e apoiar o executivo durante a crise e 91% considera que, uma vez terminada, as forças políticas devem procurar acordos alargados para responder à crise económica, social e laboral.
Quanto às intenções de voto, o estudo do CIS aponta para uma pequena descida do PSOE e para uma subida, mais significativa, mas também ligeira, do PP, em relação às últimas sondagens. Os socialistas baixam 0,7% e ficam-se pelos 31,2% e os populares sobem 1,5%, para 21,1%. Quem mais perdeu foi o Vox, que desce de 14,8% para 13%. O Podemos perde 0,9% e apresenta 12%, enquanto o Cidadãos sobe quatro décimas, para os 7,6%.