Cancro: “Estão a ser feitos menos exames para um primeiro diagnóstico”

Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia alerta para o facto de a médio, longo prazo aparecerem doentes com tumores mais avançados. Os próprios doentes têm receio de ir aos hospitais e os serviços também estão concentrados no combate à covid-19 e com menos recursos.

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Rui Gaudencio

A Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), Ana Raimundo, a propósito do impacto da covid-19 na área da Oncologia, vem sublinhar a importância de continuar a fazer diagnóstico de cancro. “Estão a ser feitos menos exames para um primeiro diagnóstico e isso a médio, longo prazo pode significar que vamos lidar com doentes, por exemplo, com tumores em estádios mais avançados”, alerta.

“Não teremos só as vítimas directas da covid-19, mas também as indirectas”, afirma, acrescentando que “são os próprios doentes que têm receio de se deslocarem, nesta altura, aos hospitais”.

“Os doentes têm receio, mas também os serviços de oncologia têm menos recursos humanos”, explica, sublinhando que os profissionais ou estão alocados a outros serviços para ajudar no combate à covid-19 ou estão a cumprir medidas de quarentena devido à possibilidade de estarem eles próprios infectados. Ana Raimundo lembra as recomendações mais recentes da Direcção-Geral da Saúde (DGS). A norma da DGS recomenda que doentes oncológicos sejam testados, mesmo que não tenham sintomas, antes de iniciarem ou durante os tratamentos de quimioterapia e radioterapia e antes de serem operados. Nos casos positivos, a quimioterapia deve ser suspensa, mas a radioterapia pode manter-se.

Além disso, no caso dos doentes oncológicos com indicação para cirurgia, a norma recomenda que os médicos devem fazer uma avaliação de risco-benefício relativamente a um possível adiamento da operação. Segundo a presidente da SPO estas são recomendações importantes que atribuem ao medico decisões “difíceis e que têm de ser avaliadas com muito cuidado, caso a caso”.

“Esta é uma gestão que temos de fazer dia-a-dia”, explica. Ana Raimundo esclarece que os serviços tiveram uma fase inicial de adaptação a esta situação e que por isso houve muitas cirurgias que tiveram de ser adiadas. “Foi preciso adaptar os blocos operatórios para que fosse possível proteger não só o doente mas também os profissionais de Saúde que têm de estar nas salas durante as cirurgias”, explicou. 

Recentemente a Liga Portuguesa contra o Cancro também veio fazer um apelo para que não se esqueçam os doentes oncológicos, pois caso isso aconteça as mortes por cancro poderão ser muito superiores às da pandemia. O presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga, Vítor Veloso, veio mesmo alertar para o facto de muitos destes doentes estarem sem acesso à especialidade, a consultas, a diagnósticos, a tratamentos e a consultas de seguimento devido à situação de pandemia que levou ao cancelamento de consultas e cirurgias programadas não urgentes.

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