Lisa Lang juntou fabricantes e artistas do Porto para reinventar a Bauhaus

A empreendedora alemã pôs as máquinas a trabalhar para si e, em conjunto com fabricantes e artistas, criou uma linha de produtos inspirados na Bauhaus. As peças são produzidas no Porto, com materiais europeus que já existem em stock. A campanha de crowdfunding que lançou já acabou, mas as peças deverão voltar a estar à venda.

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Que Lisa Lang acha que o futuro da moda está atrasado, já não é novidade. Em Outubro último, dizia ao P3 que a roupa que vestimos “é estúpida” e que a indústria da moda, uma das historicamente mais inovadoras, se tinha esquecido de como o ser. Agora, decidiu pôr mãos à obra e criar uma linha de produtos, usando a Bauhaus como inspiração. “A Bauhaus defende que o design se encontre com o artesanato — o artista é o criador, o criador é o artista” — e foi exactamente esta ideia que aplicou.

Para a concretizar, fez nascer o The Knitting Project, um projecto inserido n’OFundamento — a empresa que criou para aliar a tradição têxtil à inovação tecnológica —, com o objectivo de unir artistas e fabricantes europeus na criação de peças únicas. Convidou Anna Niestroj, designer de padrões digitais sediada em Berlim, e Graça Paz, pintora do Porto, para que juntas conseguissem continuar o legado deixado pelas criativas da Bauhaus — na altura ignoradas, apesar de aceites na escola alemã.

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É que Lisa sempre admirou o trabalho das mulheres da Bauhaus: “Elas eram hackers de máquinas, entendiam a alma da máquina e como elas funcionavam já há cem anos. Com esse conhecimento, simplesmente continuamos a sua missão”, refere. E continua: “Para mim, o motivo pelo qual os designers da Bauhaus foram tão inovadores foi porque se uniram com a indústria de manufactura e usaram materiais num contexto interdisciplinar. Por exemplo, nunca ninguém tinha usado tubos de metal como elementos decorativos.”

Além das artistas convidadas, a empreendedora alemã trabalha com pequenas empresas de manufactura do Porto, onde vive, para concretizar as ideias. Da parceria nasceram ponchos, cachecóis, almofadas e cobertores em tons de néon, pastel, preto e branco — com padrões exclusivos, que transpiram o sentimento da Bauhaus, reinterpretado pelas artistas convidadas.

Para lançar o projecto, Lisa começou uma campanha no kickstarter, onde definiu um objectivo de 15 mil euros. Acabou por arrecadar mais de 16 mil, o que significa que estão reunidas as condições para a produção começar. O surto de coronavírus poderá atrasar o processo, “uma vez que a equipa não pode trabalhar junta no mesmo espaço”, mas também salienta “uma grande vantagem” do projecto: “Como só usamos fio de fornecedores europeus e que já estão em stock, não estamos dependentes de encomendas internacionais. Só usamos materiais que já estão disponíveis — isto é sustentabilidade.”

Além disso, afiança, quando o The Knitting Project começou, assentava na ideia de “salvar a indústria de manufactura local”: “O surto de coronavírus prova como estas campanhas são importantes. Usamos apenas recursos locais, produção ‘lenta’ — e tudo é guiado por uma história muito forte.”

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A campanha funcionou como uma “colecção cápsula”, o que significa que era o momento para os interessados comprarem as peças. Contudo, por receber “contactos de clientes e marcas”, a empreendedora tenciona alargar o período de vendas a partir do site.

A ideia d'OFundamento mantém-se: “Dar um novo propósito” à infra-estrutura que os fabricantes do Porto já têm e, pouco a pouco, “mudar mentalidades”, que, como dizia em Outubro, “são a única barreira”. Sempre com um pé no futuro e outro no artesanal.

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