Páscoa
Igrejas vazias na Páscoa, mas com a Internet a olhar para elas
Os fiéis não puderam estar presentes na Semana Santa, mas os rituais litúrgicos cumpriram-se com a ajuda das plataformas digitais.
Na Igreja Matriz de Espinho ouve-se o som de um coro a abrir as celebrações da Ceia do Senhor. Como acontece todos os anos, imediatamente a seguir aos cânticos, o padre Artur Pinto, com dois diáconos a ladeá-lo, dá início à missa de celebração da Quinta-feira Santa. Normalmente este ritual é seguido por cerca de 500 fiéis. Mas desta vez, face ao período que atravessamos, para impedir o contágio da covid-19 e respeitando as medidas impostas pelo estado de emergência, a igreja está despida de fiéis. Porém, não foi por isso que a mensagem não chegou ao remetente. Na verdade, neste caso, o número de pessoas que a recebeu triplicou.
Esse milagre da multiplicação acontece graças à tecnologia. O cenário descrito mais acima pode ser visto e revisto no canal de YouTube criado pela paróquia para responder às necessidades dos crentes que estão em confinamento. Até sábado, a celebração já contava com quase duas mil visualizações. As igrejas estão vazias, mas a Semana Santa faz-se com o público a acompanhar as celebrações pela Internet. No terreno esteve Paulo Pimenta, fotojornalista do PÚBLICO, que seguiu os actos litúrgicos na Igreja Matriz de Espinho e na Igreja dos Grilos, encostada à Sé do Porto.
No Porto, o Tríduo Pascal tem sido celebrado apenas na presença dos trinta alunos do seminário. A presidir as celebrações está o bispo Dom Manuel Linda, acompanhado pelos bispos auxiliares. Um deles é Dom Vitorino Soares, que sublinha o carácter extraordinário da Páscoa deste ano: “É uma semana muito diferente para todos”. Os rituais cumpriram-se, mas foram acompanhados à distância. Porém, “com uma adesão muito grande”.
Nestes momentos de “fragilidade”, há tendência a existir uma procura maior pelo “divino”. Por outro lado, também há dúvidas que se levantam: “Por que é que Deus permite isto? Por que é que Deus permite o mal e a doença?”. É o “reverso da medalha”, afirma Dom Vitorino Soares. “Se outros se aproximam, outros podem continuar distanciados, esperando que Deus também fosse um milagreiro que viesse resolver os problemas das pessoas”, diz. Entende que assim não é, mas também não apoia a ideia de um “Deus castigador”. Nesta fase, prefere salientar as qualidades humanas de cada um: “O lado humano das pessoas é muito mais visível."
O bispo auxiliar tem estado presente nas celebrações pascais realizadas na Igreja dos Grilos. Não sabe quantas pessoas costumavam deslocar-se lá noutros anos, mas sabe que neste ano “especial”, com a ajuda da Internet, a adesão tem sido “favorável”.
Na igreja de Espinho, estavam cerca de uma dezena de pessoas: o padre, dois diáconos, o coro, uma pessoa responsável pela leitura de alguns textos e uma equipa de streaming. “Deus está em todo o lado, até na Internet?”, perguntámos por telefone. O pároco responde que sim e diz que em Espinho está no Whatsapp, Facebook e no YouTube. A paróquia já tinha uma página online, mas agora passou a estar nas redes sociais e noutros canais digitais.
Artur Pinto diz que a igreja teve de se adaptar a esta realidade. “O objectivo da Semana Santa é reunir as pessoas”, afirma, sublinhando que a única forma de não se perder este costume seria criar estas alternativas. A partir das redes sociais vão divulgando os eventos e deixando algumas dicas para que a Páscoa seja celebrada sem perder hábitos de outros anos. A adesão tem superado as expectativas. Por isso mesmo, afirma ter-se aberto aqui uma porta que não pode voltar a ser fechada: “[Daqui para a frente] vamos ter de usar muito mais estes meios."