O sucesso de Singapura na gestão da covid-19 está a ser posto em causa por infecções entre os imigrantes pobres
O país asiático foi dos primeiros a pôr em prática medidas fortes de isolamento social e a fechar fronteiras. Mas nas últimas semanas o número de infecções disparou.
Durante vários meses, Singapura foi considerado um exemplo no combate à propagação do novo coronavírus, mas o aparecimento de novos focos de infecção relacionados com as más condições de higiene nos dormitórios para trabalhadores estrangeiros veio manchar a reputação da cidade-Estado asiática.
Assim que os primeiros sinais de que o surto que teve como epicentro a cidade de Wuhan, na China, se iria espalhar pelo resto do mundo, as autoridades de Singapura emitiram fortes medidas para restringir movimentos e realizou milhares de testes em pouco tempo. Em Fevereiro, por exemplo, já tinha proibido a entrada de pessoas que tivessem estado na China.
A resposta rápida pareceu dar resultados. No início de Abril, o país registava pouco mais de mil casos confirmados e seis mortes, ao mesmo tempo que apresentava centenas de recuperações. Mas, na última semana, o número de contágios disparou e na sexta-feira contabilizavam-se mais de 2100.
O crescimento acelerado da propagação está relacionado com as condições em que vivem milhares de imigrantes pobres. Há pelo menos cinco dormitórios em isolamento total, em que os residentes devem passar a maior parte do tempo nos seus quartos, enquanto nos restantes, os moradores estão proibidos de sair.
O revés na “história de sucesso” de Singapura veio expor as condições precárias em que estes trabalhadores vivem.
Um dos pilares do sucesso económico de Singapura está na política de acolhimento de imigrantes, provenientes sobretudo de países asiáticos, como a Índia ou o Bangladesh, que chegam à cidade-Estado para trabalhar na construção, nas indústrias marítimas e noutros sectores geralmente mal pagos. Dos cerca de 5,7 milhões de habitantes, estima-se que mais de um milhão estejam no país nestas condições.
Na esmagadora maioria dos casos, os trabalhadores vão viver para dormitórios exíguos, onde há dezenas de pessoas a partilhar o mesmo espaço. Um relato de moradores publicado no jornal Straits Times dizia que numa das casas as sanitas estavam a transbordar e na cozinha havia uma infestação de baratas.
O primeiro-ministro, Lee Hsien Loong, disse que o Governo montou uma equipa específica para assegurar que os trabalhadores migrantes ficam a salvo da infecção, com acesso a comida e água, mas nada foi dito sobre as condições de confinamento. “Estamos a trabalhar com os empregadores para assegurar que vão receber os seus salários e que podem enviar esse dinheiro para casa”, garantiu o primeiro-ministro, que disse também assegurar todos os cuidados médicos necessários.
Lee, de 68 anos, também deixou um apelo aos cidadãos mais idosos para respeitarem as medidas de isolamento social, após relatos de ajuntamentos nas ruas. “As nossas hipóteses de morrer são muito mais elevadas e se ficarmos infectados e espalharmos o vírus entre os amigos da nossa idade, ou se trouxermos o vírus para as casas das nossas famílias, estamos a pô-los em muito perigo”, afirmou o chefe do Governo.
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