Hospital da Cruz Vermelha não vai ser só para covid-19

Ministério da Saúde considera que a integração do hospital na rede covid-19 não se justifica na actual situação epidemiológica.

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Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa Rui Gaudêncio

O Hospital da Cruz Vermelha (HCV) não vai passar a receber apenas doentes com o novo coronavírus. A decisão foi anunciada esta quinta-feira pelo Ministério da Saúde, num comunicado enviado às redacções.

O ministério considera que a “situação epidemiológica e a incerteza científica” exigem “uma avaliação regular do nível de preparação e resposta à pandemia”, cumprindo o que está no “Plano Nacional de Preparação à Resposta à Doença por novo coronavírus (COVID-19)”.

“É assim, no âmbito desta avaliação permanente, que consideramos não se justificar actualmente a integração do Hospital da Cruz Vermelha na rede covid, sem prejuízo do contributo vital que, nesta fase, já é desenvolvido por essa instituição no apoio ao Estado”, pode ler-se na nota enviada pelo gabinete da Ministra da Saúde, Marta Temido.

O Ministério realça o contributo da Cruz Vermelha, um parceiro absolutamente imprescindível ao serviço do País” no combate à pandemia em outras vertentes desde “a realização de testes laboratoriais smart junto dos lares de idosos, ao transporte de doentes suspeitos de covid-19”.

Contactado pelo PÚBLICO, Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e do Conselho de Administração do HCV, declarou a “concordância absoluta da administração” com a decisão do ministério.

A deliberação é vista “com satisfação” por Manuel Pedro Magalhães, director clínico do HCV, indo ao encontro do que tem sido manifestado pelo corpo clínico desde que, há algumas semanas, Francisco George manifestou o desejo de tornar o HCV um hospital só para doentes covid.

O corpo clínico do Hospital da Cruz Vermelha considera que o hospital não tem “condições nem estrutura física” para tal e, por isso, o director clínico reitera que o hospital estará a dar um contributo maior ao Serviço Nacional de Saúde ao aceitar outros doentes.

“O hospital estará integrado a dar todo o apoio ao Serviço Nacional de Saúde na área dos doentes que não são covid, mas precisam de continuar a ser tratados”, disse Manuel Pedro Magalhães ao Público.

“Se por acaso houver um agravamento significativo das necessidades de camas para tratar doentes covid, o HCV estará completamente disponível para o fazer”, acrescentou Manuel Pedro Magalhães, realçando que tal cenário não parece, para já, próximo da realidade.

Há várias semanas que o papel do HCV no combate à pandemia tem motivado uma “guerra” entre os profissionais de saúde do hospital e Francisco George.

A discórdia levou mais de 50 profissionais do corpo clínico do HCV a assinarem uma carta, dirigida a figuras como o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia, entre outros, a acusar Francisco George, de “ter tentado forçar a demissão do director clínico e promover a sua auto-nomeação para esse mesmo cargo, que não chegou a formalizar por se ter apercebido da posição contrária dos restantes membros do Conselho de Administração”.

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