Escrevi por aqui, num outro artigo, que os trabalhadores deveriam ser salvaguardados com especial atenção neste tempo de pandemia, contudo tal não está a acontecer. Aliás, assistimos ao início do que se pode perfilar como uma das maiores ondas de despedimentos de sempre num curto espaço de tempo. Por hora, esta afirmação paira ainda no campo da especulação e esperemos, para o bem de todos, que nunca transite para uma constatação da realidade.
Todavia, a realidade demonstra-se já muito dura para milhares de famílias que se deparam com uma perda abrupta e repentina dos rendimentos, assoladas pela incerteza sobre a continuação ou termo do seu vínculo laboral ou sobre se vão continuar a exercer as suas profissões através dos malfadados recibos verdes ou se já nada está verde, mas vermelho, em tom de alerta sobre os tempos que hão-de vir.
Noutro dia, numa chamada para o IEFP da cidade onde resido, foi-me dito que os serviços estavam já num sufoco por terem dado entrada nas últimas semanas dezenas e dezenas de requerimentos para a atribuição do subsídio de desemprego. A par desse facto é também de salientar que existem centenas de trabalhadores que levam a cabo a sua prestação laboral através de um contrato de estágio atribuído pelo IEFP, contratos precários que possibilitam às entidades empregadoras suspender os estágios mediante a verificação de determinados critérios, ora é imperioso que os serviços seja rigorosos na determinação das muitas decisões que lhe são solicitadas. Por outro lado, os sindicatos alertam para os despedimentos em curso, as férias forçadas e de muitos outros atropelos que mencionei no outro artigo que escrevi.
Escrevo agora esta reflexão porque não podem ser subalternizadas questões tão fundamentais como os direitos dos trabalhadores e como o impacto que a degradação das suas condições, quer laborais, familiares ou sociais podem afectar de forma profunda o desempenho da economia. É líquida a importância que os trabalhadores detêm no processo produtivo e na realização concreta da economia no terreno, ademais, está à vista de todos que quando os trabalhadores, em teletrabalho ou sem teletrabalho, não estão nas empresas, nas fábricas, escritórios ou serviços, a produção nacional e por conseguinte toda a economia cai abruptamente. Mais uma vez, somos obrigados a constatar, mesmo que contra vontade, que não são os bancos que fazem o mundo girar.
Dir-me-ão que a economia não se aguenta porque os consumidores estão em casa, resguardados deste vírus maldito que a nada ou a ninguém perdoa. É verdade, mas não é menos verdade que os trabalhadores são os principais consumidores deste país porque constituem a larga maioria da população portuguesa. E sendo a maioria, são uma maioria pobre que ainda não se recompôs da crise de 2008, e bem nos lembramos do que aconteceu na última década.
Parem de despedir os trabalhadores porque senão, quando conseguirmos vencer o vírus, teremos perdido a batalha contra a indignidade e a sobranceria dos mais poderosos que quando se vêm impossibilitados de distribuir os acostumados e chorudos dividendos, descartam quem trabalha para salvar quem acumula.
Percebo que muitas empresas, especialmente as pequenas, estejam a enfrentar muitas dificuldades, percebo que vivemos tempos de emergência e que temos de fazer tudo para conter esta pandemia. Devemos ficar em casa, seguir todas as indicações da Direcção-Geral da Saúde e apoiar aqueles que por nós todos lutam na linha da frente. Mas também devemos respeito a quem constrói este país todos os dias, quem aguenta longas jornadas de trabalho há anos a fio a troco de um salário miserável. Não se esqueçam que quem está em casa são precisamente aqueles que levantaram o país do charco durante a última década inteira, que suportaram os desvarios da banca e as jogatanas da bolsa. Não lhes peçam agora que paguem mais uma crise enquanto os grandes empresários deste país aguçam os dentes com mais apoios de estado e os bancos continuam a lucrar com os juros das moratórias que nós concedem nestes dias de sufoco.
Não se enganem, é um excelente negócio para os bancos isto de adiar os pagamentos dos empréstimos, até porque como se costuma dizer: não há almoços grátis.