Coronavírus
Joana Corker está a desenhar o diário da quarentena dos Birds Are Indie
Joana Corker já ganhou o hábito de fazer pequenos diários visuais sempre que vai de férias. Não é só tirar fotografias: “durante o dia, vou desenhando as coisas que fiz, as refeições que comi ou os sítios que vi”, explica ao P3 a co-fundadora dos Birds Are Indie, banda de Coimbra cujo novo álbum, Migrations, tem data de lançamento marcada para 17 de Abril. “É da maneira que fico com um complemento de memória para esses momentos.” Fechada em casa há pouco mais de três semanas com o companheiro, Ricardo Jerónimo, guitarrista e vocalista do grupo, a artista decidiu encarar o seu período de distanciamento social como se de uma viagem se tratasse — e, como tal, começou a ilustrar a sua quarentena.
“O Jerónimo tem aproveitado o tempo em casa para escrever músicas novas. É a maneira de se manter ocupado. Eu exteriorizo o que estou a sentir através do desenho”, assinala a designer, que começou a sentir o peso do isolamento “por etapas”. “Eu sou freelancer, por isso já passava a maior parte dos dias aqui dentro. Mas é claro que, ainda na primeira semana, o choque foi evidente. Muitos orçamentos recusados, muitos concertos cancelados”, reflecte.
Nas ilustrações de Joana Corker, cabe muita coisa. Há espaço para os almoços na varanda – durante os quais contempla “o mundo a ficar mais vazio” – ou os domingos “tristes e chuvosos” – que parecem servir apenas para “ficar no sofá a ver televisão” –, do mesmo modo que surgem nas páginas do diário as (aparentes) banalidades que o novo coronavírus transformou em tarefas de rotina – tais como a leitura nervosa e apreensiva das notícias, as corridas de supermercado em supermercado ou a limpeza dos móveis. “Para me abstrair do que está a acontecer”, sugere a autora. O puré de batata instantâneo, o fermento natural com restos de farinha “que já estavam fora do prazo”, “o podcast do Conan O’Brien” ou o teclado que “começou a funcionar de uma forma estranha” trocam olhares preocupados em desenhos marcados por altos e baixos, que dão conta da “montanha russa de emoções” que a sua criadora tem vivido.
“Depois de algum tempo, com as saudades dos meus pais e dos meus amigos, tive uma quebra mental. Por um segundo, deixei-me ir um bocadinho abaixo. Agora, já estou a recuperar”, garante Joana. “Acho que isto vai ser sempre mais ou menos assim durante a quarentena. Um dia, até podes estar muito bem, mas se calhar no dia a seguir estás deitada na cama a pensar na vida e a deprimir.” Nos momentos de inspiração e nos mais cinzentos, a artista quer ter o caderno sempre por perto. “Era giro eu conseguir levar isto até ao fim da ‘viagem’. Só espero que a tinta das canetas aguente.”
Durante dois meses, o P3 actualizou esta galeria semanalmente com os novos desenhos da Joana. O diário chega agora ao fim.