Covid-19: O pico das mortes em Nova Iorque já pode ter chegado

Governador Andrew Cuomo diz que a curva da pandemia parece ter estabilizado. Mas outras zonas, como Nova Jérsia, são agora fonte de preocupação, quando o número de mortes nos EUA chegou a dez mil.

Foto
Um trabalhador num momento de descanso no Centro Médico de Wyckoff Heights, em Nova Iorque Reuters/JEENAH MOON

O estado de Nova Iorque pode estar a atingir o “início do pico” da pandemia de covid-19, com o número de mortes a estabilizar e a entrar na curva descendente, afirmou esta segunda-feira o governador Andrew Cuomo. Morreram 599 pessoas esta segunda-feira e 594 no domingo, depois de um ponto alto de 630 no sabado.

“Este possível achatar da curva é o melhor que temos visto”, disse Cuomo, que já no domingo sugeriu a possibilidade de se ter chegado ao pico da epidemia em Nova Iorque, onde há 4758 óbitos e 130.689 infectados. Os EUA já atingiram a marca das dez mil mortos de covid-19, segundo uma contagem da Reuters, e são o terceiro país com mais mortes em todo o mundo, depois de Itália e Espanha.

Se o número de óbitos não abrandar, há um plano de contingência que prevê enterrar, provisoriamente, as vítimas da covid-19 num parque da cidade de Nova Iorque, disse no Twitter o director geral de saúde da cidade, Mark Levine. “Em breve vamos começar a fazer enterros temporários. Isto será feito provavelmente usando um parque da cidade para os enterros (sim, leram bem). As valas serão escavadas para acomodarem 10 caixões”, escreveu Levine.

Mas isto não é certo, apesar de este tweet ter tido muita atenção, como o próprio Levine diz, num post feito mais tarde, em que sublinha que tal só virá a acontecer “se a diminuição na taxa de mortalidade não for suficiente” para aliviar a pressão sobre a cidade.

No estado de Nova Iorque, as medidas de distanciamento social vão manter-se até ao dia 29 de Abril, assim como o fecho das escolas e de negócios não-essenciais. Em conferência de imprensa, Cuomo pediu às pessoas para “não relaxar” e às autoridades locais para escalar as medidas de contenção.

Semana negra

Para além de Nova Iorque, os Estados Unidos entraram naquilo que um responsável descreveu como “semana do pico da morte”. Um relatório de um organismo de supervisão mostra que os hospitais estão a lutar para manter e expandir a capacidade para cuidar de pacientes infectados. “Será o pico dos internamentos, a semana de pico dos cuidados intensivos e, infelizmente, a semana de pico das mortes”, disse o almirante Brett Giroir, médico e membro da equipa da Casa Branca encarregue do coronavírus, ao programa da ABC Good Morning, America esta segunda-feira.

Os estados de Nova Iorque, Nova Jérsia, Connecticut, e a cidade de Detroit são os locais que despertam maiores preocupações.

Os resultados de um inquérito nacional realizado entre 23 e 27 de Março mostraram uma “profunda escassez” de materiais para testes e tempos de espera longos para o resultado de exames, que estavam a limitar a capacidade dos hospitais se manterem a par da saúde dos profissionais e dos pacientes, concluiu o Gabinete do Inspector-Geral do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA.

“Os hospitais também descreveram desafios substanciais em manter e expandir a capacidade para cuidar de pacientes”, disse o relatório, descrito como um panorama dos problemas que os hospitais enfrentavam em meados de Março. Esforços para lidar com essas questões estavam a ser levados a cabo, segundo o documento.

O inquérito, que inclui informação de 323 hospitais, confirmou os relatos de que a falta de camas, ventiladores e equipamento de protecção estavam a criar condições caóticas, com pacientes, isolados das suas famílias, a morrerem sozinhos.

O supervisor disse que os hospitais relataram que “orientações mudadas e por vezes inconsistentes da parte de autoridades federais, estatais e locais (…) confundem os hospitais e o público”. A escassez generalizada de equipamento de protecção pessoal coloca os funcionários hospitalares e os pacientes em risco, afirma.

Trump delegou para os governadores a promulgação de ordens de quarentena. Oito estados, todos governadores por republicanos, ainda não emitiram ordens para que os cidadãos fiquem em casa: Arkansas, Iowa, Nebrasca, Dacota do Norte, Carolina do Sul, Dacota do Sul, Utah e Wyoming. A Georgia, que regista 6600 casos e mais de 200 mortes, deu ordem aos residentes para permanecerem em casa, mas permitiu a reabertura de algumas praias.

Em Washington D.C., e noutros locais, algumas pessoas ignoraram as orientações de distanciamento social durante o fim-de-semana. O sol e as temperaturas quentes trouxeram multidões para os trilhos de bicicleta e para locais abertos junto do Rio Potomac. Embora muitas pessoas usassem máscaras, alguns grupos deslocavam-se de forma próxima.