Alemanha: irá a crise do coronavírus ditar quem será o novo chanceler?

Pesos-pesados do partido conservador alemão estão em posições-chave na luta contra o coronavírus. Um candidato não oficial é quem parece estar a sair-se melhor. Mas há quem ponha outra hipótese: a própria Angela Merkel.

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O ministro da Saúde, Jens Spahn, e o chefe do governo da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, numa visita ao Hospital Universitário de Düsseldorf FEDERICO GAMBARINI/EPA

A crise do coronavírus pôs as atenções em grandes nomes do partido democrata-cristão da chanceler, Angela Merkel – os líderes dos governos regionais Armin Laschet e Markus Söder e o ministro da Saúde, Jens Spahn. O que fizerem agora será vital para as ambições políticas de todos, incluindo suceder à chanceler.

As crises fazem os políticos, e media alemães lembravam que o antigo chanceler Helmut Schmidt ganhou relevância nacional enquanto responsável pela pasta do interior do governo de Hamburgo em 1962, quando geriu umas cheias trágicas sem hesitações, ou que o antigo chanceler Gerhard Schröder talvez não tivesse sido reeleito em 2002 sem a sua gestão da crise das cheias no país e uma visita ao estado mais afectado, a Saxónia.

Num mundo pré-coronavírus, Merkel parecia ir-se apagando – cada vez dava menos conferências de imprensa, por exemplo e preparando a sua saída do cargo. Agora Merkel, acabada de sair de quarentena, está de novo no primeiro lugar dos políticos mais populares e chefia um Governo que, segundo uma sondagem Infratest/Dimap para a TV pública ARD, tem a confiança de 72% dos alemães –há um mês eram apenas 35%.

Se no palco europeu e na discussão sobre a emissão comum de dívida dos países do euro para fazer face ao desafio da covid-19 muito depende da chanceler, no palco alemão, devido ao sistema federalista, abriu-se um enorme espaço para maior proeminência de políticos regionais da CDU, como Armin Laschet, que é chefe do governo de um dos estados-federados mais afectados pelo coronavírus, a Renânia do Norte-Vestfália, e Markus Söder, líder de outro estado muito afectado, a Baviera. 

Laschet é um dos candidatos oficiais à liderança da CDU, com o ministro da Saúde, Jens Spahn, candidato a seu “número dois” – o anúncio foi feito em Fevereiro, no que parece ter sido há uma eternidade política. É uma equipa que conta com um aliado de Merkel (Laschet) e um crítico da chanceler (Merkel deu a Spahn a pasta da Saúde, habitualmente difícil, como um teste; nunca ninguém teria imaginado que a prova seria desta envergadura).

Outro nome oficialmente na corrida à liderança da CDU é Friedrich Merz, o multimilionário que fez carreira na BlackRock, e ainda Norbert Röttgen, chefe da comissão de Negócios Estrangeiros do Bundestag (Parlamento). 

Merz esteve doente com covid-19 e apesar de ter recuperado não tem tido muito eco na discussão política – a sua posição muito liberal não se coaduna com o tempo de forte intervenção do Estado na crise do coronavírus. E tanto Merz como Röttgen foram criticados por continuarem a falar na corrida quando o país atravessa uma crise inédita.

Quem está a ganhar mais com o modo como está a gerir a crise é Markus Söder, chefe do governo da Baviera, e líder da CSU. Söder causou alguma irritação entre os outros chefes de governo dos estados federados quando decidiu impor restrições ao movimento de cidadãos na Baviera sem coordenação com os restantes. 

Mas afinal o ter-se adiantado na medida, que acabou por ser adoptada a nível nacional, faz com que fosse visto como alguém que faz o que é preciso. Está a liderar “sem alarmismo, mas com firmeza”, elogiava um comentário da editora Nina Bovensiepen no diário Süddeutsche Zeitung. “Raramente [Söder] pareceu tão autêntico como na gestão de crise”. 

Söder já defendeu que o candidato a chanceler não devia ter de ser, como sempre aconteceu na CDU, o líder do partido, abrindo talvez a porta a uma candidatura à chefia do Governo.

Mas há quem imagine outro cenário ainda o tablóide Bild fê-lo depois de falar com vários políticos da CDU e alguns da CSU. Se nenhum dos três candidatos oficiais ganhar estatura para ser levado a sério como chanceler até ao congresso da CDU, em Dezembro, numa altura de crise de coronavírus e de uma consequente recessão económica, o partido poderia não ver outra escolha que não fosse pedir a Angela Merkel para se voltar a candidatar, em 2021, a um quinto mandato.

Notícia alterada às 12h30, Söder seria candidato a chanceler e não à liderança da CDU

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