Covid-19: Risco de um segundo surto em Wuhan preocupa a China
No dia 8 será levantado o bloqueio à cidade chinesa onde começou a pandemia. Este sábado celebra-se o Dia dos Mortos sem visitas aos cemitérios.
O que mais preocupa as autoridades chinesas neste momento é a possibilidade de um segundo surto do novo coronavírus na cidade de Wuhan, que se prepara para, no próximo dia 8, deixar entrar e sair pessoas que não apresentem sintomas de doença e levantar algumas das medidas impostas para conter a pandemia da covid-19 que teve o seu epicentro inicial naquela cidade, capital da província de Hubei.
Os residentes da cidade foram aconselhados a continuar a manter-se nas suas casas e a proteger-se, enquanto o responsável do Partido Comunista de Wuhan, Wang Zhonglin, alertou para que o risco de uma segunda vaga de casos mantém-se elevado devido tanto a factores externos como internos, refere o The Guardian.
Nas últimas semanas, algumas das medidas tinham já sido levantadas. Uma reportagem do El País entrevista jovens que passeiam num dos recém-reabertos centros comerciais num dos bairros ricos da cidade. Um dele, de 23 anos e acompanhado pela namorada, manifesta dúvidas sobre os números oficiais de vítimas mortais da pandemia – 81.600 casos e 3322 mortos. “Ninguém acredita nesses números”, diz, “estão a tentar esconder os erros dos primeiros momentos”.
Sábado é o Qingming, o dia dos mortos na China, data em que, habitualmente, as pessoas enchem os cemitérios para prestar homenagem aos familiares falecidos. Seria, sublinha o El País, uma oportunidade para avaliar a verdadeira mortalidade das últimas semanas na cidade. Mas o governo de Wuhan já anunciou que este ano não será possível – para evitar ajuntamentos nos cemitérios, foram criadas algumas aplicações virtuais para a celebração do Qingming.
O dia será também de luto nacional, com três minutos de silêncio às 10h, pelos 14 “mártires” que morreram a tentar combater a pandemia, entre os quais Li Wenliang, que tinha sido investigado pelas autoridades, acusado de “espalhar rumores” ao alertar para o surto de covid-19.
A próxima Primavera
O levantamento total das restrições aos movimentos de pessoas depende em grande parte da capacidade para evitar um segundo surto. Zhong Nanshan, médico chinês que faz parte de um grupo de peritos que estão a aconselhar o Governo de Pequim, disse numa entrevista televisiva que acredita que “se todos os países adoptarem medidas agressivas e eficazes”, a pandemia estará controlada no final de Abril, mas poderá haver um novo surto na próxima Primavera.
Opinião diferente tem o epidemiologista Gabriel Leung, da Universidade de Hong Kong, citado pelo South China Morning Post. Segundo Leung, a pandemia “pode durar ainda alguns meses, mesmo com a aplicação de medidas muito restritivas, manifestando dúvidas de que a subida das temperaturas possa ter um efeito positivo na contenção do novo coronavírus.
“Acredito que os meses de Verão nos possam trazer algum alívio, mas porque as pessoas mais susceptíveis já foram expostas e ou ficaram infectadas e recuperaram, enquanto um pequeno número morreu”, disse.
As dúvidas sobre os números divulgados pela China continuam a crescer, não só entre os jovens de Wuhan mas um pouco por todo o lado. Segundo o The New York Times, desde o início de Fevereiro que a CIA tem vindo a avisar a Casa Branca que os número de Pequim podem estar distantes da realidade.
Admitem, contudo, que as próprias autoridades chinesas não conheçam os números reais, em parte porque “burocratas dos níveis intermédios em Wuhan e noutros pontos da China têm mentido relativamente aos dados dos infectados, testes e mortes, com receio de serem punidos por darem números demasiado altos e perderem os cargos ou sofrerem algo pior do que isso”.
A China está a tentar sair desta crise com a imagem de um país que fez o que era certo, na altura certa e que conseguiu conter a pandemia quando outros – nomeadamente os Estados Unidos – agiram tarde e deixaram a situação fugir de controlo, acreditam muitos analistas.
O The Guardian noticia que, para isso, Pequim está a apostar nas “campanhas de media em inglês” e em imagens fortes como o envio de material médico para os países ocidentais – a chamada “diplomacia das máscaras” ou “Rota da Seda da saúde”.