Uma das experiências completamente novas que estamos a viver é a de um espaço público homogéneo, monotemático, que atravessa a maior parte do planeta, conforme podemos perceber se fizermos uma ronda pelos jornais online de vários países e continentes. O assunto único é o vírus e a contagem e descrição dos seus efeitos. Há um isolamento compulsivo sob a forma de “cordões sanitários” à volta de aldeias, cidades, regiões, países; e há um paradoxal isolamento planetário provocado por este “cordão mediático” que nos cerca e tornou o mundo apertado, sem exterior. Podemos verificar como a decisão de cercar, de erguer cordões e fronteiras entre um interior e um exterior, alimenta um imaginário povoado de ilusões de que se pode chegar a um espaço completamente interior e completamente imunizado, por esta ordem: a imunidade nacional (proibido atravessar fronteiras), a imunidade local (não podemos, sem fortes razões, ir de uma cidade para outra ou da cidade para aldeia) e a imunidade do espaço doméstico e familiar (não devemos sair de casa). E eis como, de um dia para o outro, se faz todo o percurso inverso do cosmopolitismo e da globalização.
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